quinta-feira, novembro 27, 2008

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“Sim”



Meus olhos já viam luzes e escuridão. Me considerei cego. Esfregava os olhos, nada mudava. Havia explicação e tenho nome, Silvio. Minha cegueira era de paulista (que no Houais significa teimoso) e sou do interior de São Paulo. Me chamavam de Vio, também porque via demais. Fiquei horas teclando e a claridade do computador levou minha visão. Mesmo assim, ainda ficava na frente da tela digitando como se enxergasse.

Depois deitei dormi e continuei a ver luzes e escuridão. Agora ambas piscavam. Toda minha cabeça piscava e não conseguia mais comer. Doía e tinha ânsia. Rezei para que o sono atrasado, agora em recuperação, resolvesse. Foi uma tarde... Desperdiçada! Alguns flashes me posicionavam no tempo e espaço, mas, já não raciocinava direito e não entendia.

Vio, retardou. Não tinha a ver apenas com o computador, aliás, muito pouco tinha a ver com a tecnologia. Quando criança ele procurou a cegueira, encontrou anos depois os óculos. Ano a ano sua visão piorava, seus graus aumentavam, então no auge dos 17 anos, mal falava. Se remoia em depressão e culpa. Era um fardo indesejado em um canto solitário.

Na própria mente, não imaginava mais. Não sabia o que era a vida, desde que olhou até sentir queimar, para o sol. Era rejeitado por si. Ouvia ainda. Mas, não sabia se era ele quem desejava ou os outros. “Viver sem ver é a morte, morra”. Ele entendia isso, inexplicavelmente. Não entendia mais nada. Como ficou assim? Nem sonhava mais... Havia uma raiva dentro dele.

Ele ainda sentava na frente dos teclados e ficava olhando só para as teclas. Digitava. Era um impulso. Diário. Atrás dele uma janela de quatro andares. Janela baixa l estava vazio, mas, as vezes aparecia algo com sentido na tela e as pessoas se perguntavam: “Vio, é realmente cego retardado?”. Uma vez e unicamente ela, ouve uma resposta final. Estava escrito:

- “Sim”. Lá embaixo as pessoas gritavam e olhavam para cima.
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Tamanho pequeno

Quando tudo depende de uma só coisa
Nada sai exatamente como deveria
A perfeição não está envolvida com isso
Se bem que poderia...

Pois se trata, então, de única visão mundana
Vestindo túnica divina na esperança de solução
Seja falha da máquina ou humana hão de ter mais vias para da vida
Homilia com odisséia de superação

Intactos nos cacos vamos com as idéias
Ganhando paixão sem irem sozinhas nascem no chão
De uma grande superior tamanha que é pequena
De tanto que tem de tanto que sabe
Prefere nada significar na sua extrema importância

Concentra a relevância percebida em uma rede para espalhar
Deita na ilustração e o tecido tênue da rede estica arrebenta volta ao chão
Para arrumar a rede de novo concentrada e dispersa

Imersa emerge para as possibilidades de não depender
Percebe-se de si dualidade de harmonia contraditória e chora intempéries

Lava a rede de suas inundações precipitadamente precisas
Faz estações do simples e veraneio de chuvas em toda época complexa
Refresca na medida com amargo agüentado sem saber até
A água salgar saindo dos poros para a conexão dos nossos graus
Subindo sal por sal as garantias de areia imaginárias nas correntes rompidas

06.1108 – 16h10min.

Volta máquina!

(Há algum tempo em uma folga durante o serviço) - Ainda bem que não perdi o hábito da caneta e do papel! Todos os dias escrevo e nas noites, quando os pensamentos ganham vidas iluminadas, recorro ao tatear no escuro blocos, cadernos e as dezenas de canetas a me cercarem. Normalmente, enquanto o sol faz um semicírculo no céu, percorro blogs do um interesse e um ou outro que participo para comentar e interagir com outros. Antes leio e comparo os três jornais locais. Depois posso criar antes do trabalho pegar de fato. Um dia qualquer antes de hoje a tecnologia me derrubou...

Estava com oito arquivos diversos (criando e dois blogs abertos quando as letras “e”, “f”, “d”, “r” ... – este aqui só as teclas “e” e o ponto têm que sofrer pressão - além - para serem digitadas. Bm aquelas teclazinhas começaram a ser atalhos e não consgui fazer mais nada. Certo! Me desafia, máquina! Após caçar as configurações já pensando ser vírus – Nossa! Que garrancho isso! – reiniciou o personal computer. Reiniciado o pc continuou nas mesmas quando ativei o anti-vírus e o anti-spyware... Deu pau!

Nessa altura já percebia meus planos náufragos... Respirei fundo e na terceira vez consegui. Ainda passa os que espero salvarem meu dia. É nem tudo está perdido, só há perda total se este garrancho for publicado com estas formas devastadoras de letras monstruosas... Se bem que nestas “últimas” linhas melhorou... Nãooo! Volta máquina!!

quarta-feira, novembro 26, 2008

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Dois corações em um

Anoitece, deito nos tecidos do chão. Meu coração indeciso pressiona-me todo. Quer duas quer uma está só. Não se viram nunca se verão e se alternam. Sou louco por uma, certas horas, em horas incertas a outra me enlouquece. Por acaso saio sozinho, encontro uma e me apaixono pela passividade, quando escolho sair com a outra, sou apaixonado pela Paixão nos olhos dela. Meu coração não se divide nem se separa. Mas, por mais entregue para uma, só pára com a outra. Dividida está a mente: Quer para sentir, não quer para melhor pensar. Amanheço assim, no chão. Nesta noite, conto esperando incompreensão. Ganho cabeça baixa e ambas desencontradas, estão iguais a mim. Dois, um, só... Partir...
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Sem só

Beijou a chuva repentina, dois lábios de mãos dadas
Correram sorrisos, muitos beijos molhados
As cores cinzas, entoavam o tamborilar
Chovia, a sensação de pássaros.

As poeiras vivas olhando, lavadas escorriam
Todos que estavam, deixaram de estar
Só a chuva, e os risos falaram
Continuados lábios se uniam

O mundo de vastidão é pausa, então
Para cada, toque da boca da alma
Os movimentos, param
Só dois, percebem

Ele e ela, fizeram o parar
Sem parar um instante
Sem deixar, de estar
Se molham leves

Só eles existem na chuva
Só a chuva existe neles
Não há só
Chove

13h24min. 22.11.08

Família

Não me vejo acostumado com nada. A não ser, não ficar parado por muito tempo. Conversar com muitas pessoas em tempo real ao mesmo tempo sempre me parece interação, mas, só porque sou doido o suficiente para imaginar a pessoa na minha frente. Expressões, risadas, gestos, olhares... Tudo acontece mesmo. Não vejo nem teclas, nem tela! É real o virtual! Minha loucura sadia produtiva e que não penso ser loucura...

Quando a bunda começa a doer, simplesmente me despeço ou saio. Há muito mais pessoas lá fora, na minha loucura normal... Estou escrevendo um conto (na verdade está bem parado), sobre as pessoas que conheci no mundo virtual, realmente temos uma relação. Algumas conheci pessoalmente, outras só pelo telefone e o ”engraçado” é que são pessoas importantes pra mim... Nunca acreditei em relações à distância, mas desta forma vale.

Parece triste ter amigos virtuais apenas, eles lá na tela, nos teclados... Falando nisso... Fui invadido por uma tristeza incomum (um pouco mais cedo). Parecia algo arrancado de mim. Não escutava o coração... O motivo maior deve ser não ter ficado o fim de semana na casa da minha irmã mais velha. Pensando bem, outras vezes (pouquíssimas), me senti parecido. Já morei com ela, meu cunhado e sobrinhos (dois). É a única família que conheço! Falo do conceito, pois, tenho meus belos pais, outra sobrinha e uma irmã do meio... Não digo quantos somos (risos)... Todas as famílias têm problemas, “esta” minha também. Mas, lá é um lar presente. Há incentivo e muito Amor. (Considero meus segundos pais - irmã e cunhado). Se amam, se escutam, se divertem, se ajudam... Os quatro, os cinco quando lá estou. “Família, família mesmo!”, sempre digo.
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O Fotógrafo

No começo eram duas árvores escondendo a fachada. Depois a vi. Meu coração apertou e pesou tanto que tive que parar. Depois dos verdes... Não conseguia olhar para os velhinhos bem cuidados, mas, abandonados. A família? Nunca mais! Depois de registrar a horta. Decidi não tentar ignorar. Tanta carência... Por isso buscam na vida a eterna juventude. Medo de ficar como eles... Tratados por carinhosos, porém desconhecidos. É triste olhar, o enclausurar de um idoso!

Preferi não registrar a tristeza. Mesmo meus olhos não terem feito o mesmo e agora choro. Ouvi que falta interesse, falta amor... Falta vida naqueles olhos tristes de abandono. Voltei. Uma senhora me chama de pai, ela traja um pijama de enferma e uma pulseira dizendo a doença que a acompanha. Ela aperta minha mão diz: “Cuida pai.” Só há um olho direito esbranquiçado, no esquerdo, o vazio. Ela gruda no portão como se esperasse uma visita que não existe. Digo tchau , ela : “já?” e volta para a espera.

Há um grande silencio abraçando o lugar. Um senhor muito magro com soro na cadeira de rodas, fuma ao lado da grama verde mais adiante. Quase do meu lado, um outro senhor denuncia em vão a infração. Este segundo ninguém entende, mas, pelos gestos eu imagino que ele também tenha o vício, porém, segue as regras. Ouço a tevê e há muitos idosos no espaço.

Todos de pijamas diferentes, adoecidos de extrema solidão. Nenhum do lado do outro, alguns deitados no que deveriam ser macas e todos colocados como móveis para preencher o lugar. Nenhum parecido, exceto por não estarem assistindo tevê. Parecem pensar porquês e assistirem as próprias vidas. Poderiam estar em um canto, na rua... Estão aqui sem família, menos os olhos. Onde está a vida? Não dá para captar... Abaixo a cabeça, me levo vazio. Não é hora de tirar fotos...

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terça-feira, novembro 25, 2008

Ser começo

O chão prende
Minha mente velha
A gravidade repuxa
Minha alma idosa
Aquele corpo leve
É novo é zero

Um receptáculo vazio
Abandonando pensamentos e essências
No solo suculento
Silenciosamente no acontecimento nulo

Há vácuos sugando
Cada envelhecer esquisito
Levando a cegueira
Embarcando a surdez
Encadeirando a mobilidade
Enquanto a mudez não é muda

Mudo a loucura
Na plena razão
Presa no peso pena
Para um ponto final
Ser Começo do nada

00h34min. 22.11.08

Paz no tempo da perspectiva

Me imagino velho. Correndo com meus bisnetos. Sinto meus cem anos sem solidão. Sempre senti... Sorrio pensando nisso sem força alguma. Me sinto forte no meu distante futuro realizado e feliz. Trabalho com palavras e imagens e sons... Como sempre! É gostoso pensar nisso, é gostoso pensar em viver e viver! Como se visse as fotos digitais, digitadas em minha pele desde já. Não está escrito, nasci escrevendo... A morte? Vai bem, obrigado. Faz seu trabalho por aí e por aqui conforme os desígnios. Pena que também fazem por ela... Tudo isso se passa pela minha mente pequena e discordante porque hoje fui fazer outra das coisas que me levam para todo lugar: fotografar!

Minha amiga e (também minha) ex-chefe de assessoria de imprensa me “acusava” de tirar fotos demais. Ela tinha razão e não tinha. Nunca são demais fotos pra mim, para o emprego há limites... Não virei ex-funcionário dela pro causa disso, outra história e empre houve fotos mentais ... Tenho lembranças vivas na mente e nas fotos por aí, por lá, no orkut e (como todos,creio...)... Quando criei um flogs - que não lembro mais meu nick e senha – há cinco anos, postava e comentava as fotos todos os dias. Tenho amigos até hoje daí. Na facul mesmo trabalhar com preto e branco, revelar o próprio negativo e filme... Também foi muito underground, uma grande viagem. Tenho um álbum delas. Tudo manual: das máquinas a revelação... Nossa! Parece que nunca mais...

O Ano passado ainda anda comigo. Foi quando fortifiquei minha paixão e aumentei minha experiência. Foto esportiva. Na passagem da tocha do pan do Rio... Foi uma aventura! Em uma moto cortando a cidade atrás de atletas e tocha. Veio a Stock Car, ensurdecedora e emocionante. O Brasileiro de moto velocidade, ciclismo, lutas profissionais... Sonhos... Solidariedade, garra e força, muita força. Hoje, a cidade... Panorâmica... Das alturas. Inesquecível. Fazia alguns meses frustrados, que não ficava tanto tempo com uma câmera e fotografava sem parar procurando perspectivas, ângulos e arte... Luz e sombra... Estive longe hoje em cada objeto, ser e tudo bem do meu lado. Não me permito largar mais as câmeras. Natural! Estou mais em paz, sem tempo.

segunda-feira, novembro 24, 2008

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Suspiro final


Era só um suspiro que sua cabeça grande ouvia. O sujeito fingia ser apenas imaginação e às vezes vento. Não protegia o cabeção e o culpava por ouvir sons. Sons sem sentidos foram formando chamados. Eram tantos, que ele passou a desacreditar nas coisas.

Logo era uma voz. Começou a entender os chamados. Primeiro era o seu nome, depois uma apresentação e um “eu voltei”. Havia um suor frio constante naquele rosto flácido. Tampava os ouvidos e surgiam palavras nos livros, nos espelhos, no rádio, na tevê... Liberou os ouvidos...

Se escondia com os amigos depois de certo tempo. Era o que precisava o sujeito. Por algumas semanas ele parecia surdo. Até... Sentir a voz zangada pelos gritos. Todos ouviam e correram para um quarto. Foi só um puxão. Ele se agarrou nos amigos, ficou pendurado no ar.

Estava quente. Não era qualquer calor. Diziam ali estarem derretendo. A pele do sujeito era a única que escorria. O termômetro estourara no início do retorno da voz entre os amigos. Não tinham se dado conta do quarto em que entraram.

Certa vez, o sujeito entrara ali dizendo coisas que nenhum dos amigos entendia, depois desapareceu até retornar igual agora. Ele se agarrou nos amigos, ficou pendurado no ar, as canelas e os pés estavam já fora do quarto. Tudo estava bem, até não star mais...

A cara de pavor do sujeito era tensa, tinha o tamanho de um grito poderoso sem fim e apavorava mais os amigos do que o que acontecia, como um segredo só dele, que com ele desapareceria. Foram segundos “parados”. Foi arrastado pelo ar se debatendo sangrando pela força dos impactos.

Depois, escuridão e esquecimento. Tomou conta, na noite permanente. No escuro só um último suspiro de ar largado foi ouvido.
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domingo, novembro 23, 2008

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A próxima


Estavam na sacola todas as lembranças da vida. Cabia apenas um punho dentro da sacola. As alças enroladas na mão todo o tempo, como se fizesse parte da mão. Ninguém soube dizer quando ou se teve início tal ato. Já disseram que quem carrega a sacola é um anjo.

Anjo? Vem a pergunta imediata, mas, não foi feita. Só o fato de parecer uma dúvida pairando, criou faces furiosas. A expressão sorriu passivamente e seguiu em busca da figura da sacola. Foi vista ao longe e de relance. Mesmo desta forma provocou um entendimento.

Definir o sexo era impossível. Uma figura andrógina, como descrita na bíblia as criatura angélicas. Pode ser homem, mulher e nenhum... Para uma cidade esquecida, antiga e isolada aos moldes das cidades fantasmas do faroeste dos nossos vizinhos estadunidenses, perfeitamente um presságio.

De quê? Imagine todas as histórias apocalípticas e se prepare para o fim. Só via de longe a figura e sempre me atraia - toda a atenção que já pude ter - a sacola. Esquecia-me de algumas coisas ou acreditava nisso. Estava um nativo sentindo o mesmo do resto da cidade.

Estranheza, medo, o fim... Comecei a abaixar a cabeça, os segundos fracionados a trouxeram. Não tive tempo de imaginar tanta coisa vazia vestida e com a sacola. A figura era limpa e clara parecendo não tocar em nada que não fosse a sacola.

Os pequenos milhares de habitantes de Nenhum Lugar, de alguma forma chegaram antes de qualquer reação minha. Uma mão cortada sem sangue caiu em minhas mãos espalmadas para o céu. Largou a sacola. Meu redor virou areia e pó. Não tinha lembranças e todos as perderam. A sacola era minha e eu tinha que alcançar a próxima cidade.
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Subindo

Voou a sacola rasgada sob os olhares
A alguns metros sobre a cabeça
Não tinha importância nem qualquer vida
Há um redemoinho lá dentro
Maior que o rasgo

Vive o saco rodando no alto
Soprado de vida alheia
Levando cabeças a tontear
Bocas abrem observando o objeto
O saco lá não cai

Vai mais alto ao acaso
Ignora o rasgo, vai
Sem vida parece mais viva
Que o olhos intensos imaginando ela
Tais olhos olham pela janela ou são janela?

O quê torna a singela sacola atração
Se milhares a seguem em outras direções vazias?
Para onde vai se não cai perante a expectativa?
Mais sopros de vida circulam
E a sacola só sobe.

14h35min.
20.11.08

Abastecer

Fome, minha amiga de hora em hora. Foi ela quem me levou há dois dias a ir ao supermercado e gastar, economicamente, quase quarenta reais para o mês. A ida e a volta que não foram as melhores. Por quê? Primeiro fui a pé – certo não ligo muito pra isso. Segundo o sol estava saárico e nenhum supermercado fica sequer distante daqui. Terceiro, finalmente, a volta foi com sacolas minúsculas e pesadas com apenas subida abaixo do sol citado. Supermercado vazando pessoas, eu de bermuda jeans (marrom) rasgada, tênis preto e prata com, também, fome, mas, de meias e camiseta regata vermelha – fora os óculos escuros.

O prelúdio de tudo foi o cancelamento de uma reunião. Achei o máximo... Havia dormido às duas da matina, escrevendo. Acordei às sete e fui comer. Tomei banho, escovei os dentes, comecei a vestir roupas quando o celular vibra em cima do microondas. Não queria nenhum som cedo... “Imprevisto de última hora (redundante para ocasião)”. Fecho o celular, olho para um lado para outro, só trabalharia à noite. Esqueço os palavrões também de ocasião...

Então conectado ao virtual, respondi perguntei, postei, conversei, teclei, teclei, teclei, escrevi, salvei várias vezes... Que horas são ein? Onze horas... Havia esvaziado meus alimentos da “despensa” e geladeira cedo, vesti a camiseta regata vermelha e fui. Poucos carros respeitam pedestres, cortei duas praças cheguei ao destino engoli seco a multidão consumidora e fui direto atrás do que queria. Pessoas idosas e gentis sorriam pediam desculpas passavam. Estava com uma cesta azul pedindo arrego. Não cabia nem o vento mais.

Na fila um senhor estava com um carrinho imenso com três “compras” minúsculas... O caixa preferencial para idosos e gestantes estava fechado e os caixas rápidos para dez ”compras” lentos, muito lentos. Foi o comentário de uma idosa “para mim” neste caixa para muitas coisas... O senhor reclamava do que eu estava observando: o tamanho mínimo das sacolas. Não faltaram ironias envolvendo a crise financeira mundial...

As malditas sacolas são metades das “originais”. Foi uma tragicomédia ver idosos e mulheres saírem com caixas pela tristeza das sacolas... Como não sou nenhum aracnídeo separei oito sacolas nas duas mãos que me restavam e enfrentei sol, subida e olhares o tempo todo. Se abastecer para a fome dá uma fome...

sábado, novembro 22, 2008

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Irmãs


Belas, iguais de personalidade quase atraente. Privilegiadas pela morenitude de curvas e madeixas de balanço sedutor. Uma simples até na arrogância e a outra mais fascinante por só simples. Mas, ambas envolvendo o mundo no caminho florido de uma primavera sem flores visíveis nos beijos da cidade.

Há uma solidão convivendo na pulsante carência exalada atraindo abelhas descontroladas, que ferroam e logo morrem. Olhando bem, povoa uma inocência promíscua própria da particularidade da dupla de olhos tristes. Sentam na calçada e a lua vem dizer boa noite. Elas não percebem e continuam...

Elas ignoram o mundo, mas, vestem os trajes ignorados, pois o perfumam com uma brutalidade delicada que apenas a elas convêm. Elas apaixonam dons desavisados de língua entre os lábios e mãos maliciosas em busca de carnes mais quentes. Viram para o oposto sem pensar. Dão dois passos e acabam sorrindo.

Estão juntas em casa. Estão separadas em casa. Falam e não conversam. Ficam no espelho para depois não se verem em outros lugares. Há uma beleza prevalecida na morenitude imponente chegando antes delas, por aquele aroma atraente. Seriam apenas estátuas na antiguidade. Não quaisquer. Helenas de “tróias”.

São irmãs. São solteiras. São flores de plásticos mortais... Só não se sabe separá-las, mesmo não estando juntas. Flores sim. De jardim não. De nenhum, aliás, pode procurar. Elas são simples, cada qual a maneira única.Só há uma vaga certeza: Não há espinhos nestas flores, mas regá-las pode nos impedir de colhê-las.
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Outra forma

Ficou travada na língua vibrando
Como bambu seco enterrado tentando ser pipa
Era a idéia nativa se liberando pela boca impedida
A mente articulava e dava o tom de acesso, mas tudo era mudez
Em uma sonoridade isolada nas narinas e presa na boca aberta
Permanecia o silêncio

Uma tosse calada epilética contorcia até o corpo
E a cabeça pendia desolada até o queixo encontrar o peito
Não havia jeito de expressar a frustração
A calada da noite ficava sem estrelas sem o som sair
Com a mente abalada embalando um modo da idéia se proferir
Escurecia por dentro também

Porém, uma luz insistia em torcer a língua lânguida
Com lábios à frente esquecidos do movimento de formação

Os pensamentos viraram quadrinhos no balão sobre a cabeça
Nada dito
A boca faz aquele bico
Para depois contorcer para os lados
No fim sai o suspiro da idéia apagada
Engasgada

00h43 min. 20.11.08

Fomente sua idéia

Contrariada. Assim começou minha manhã, que não sei por que me acordou mais cedo. Comi, comi, comi - claro que antes fui ao banheiro jogar água no rosto e... Depois fui descontraindo. Há tempos não surgia eu e a rua, por trabalho, para ver jornalismo em tudo. No desenvolver da conversa jorraram idéias na conversa a três. Faltou língua, fôlego e papel para acompanhar tantas idéias e associações se atropelando na mente. Sobrou para um dos jornais, que agora vejo todo canetado, marcar tudo. Foram quadrinhos inventados, personagens, nomes, portais, ideologias fundadas, ONGs reunidas, histórias construídas, a nossa Ribeirão Preto virou uma cidade do futuro com oportunidades vindas do estímulo da boa vontade. Pareceu tão simples mudar o mundo e ser exemplo. Meu estômago queimava. Seria fome? Era. Mas de quê?

O tempo escapou e em alguns minutos foram poucas duas horas! Nem deu para falar um centésimo do que cheirava queimado fora da cabeça. Os olhos neblinaram e os faróis baixos se acenderam, a educação mostrou-se controlada diante de tantas idéias anotadas como contorno daquele jornal. Pensei, então, como agora, que uma idéia pode não mudar o mundo, mas, acreditar nela... O fato de poder pensá-la já mostra a grandiosidade da nossa mente. Somos incubadores vivos! Está aí mais um motivo de vergonha (ou seria timidez?). Dizer o quê pensa e as idéias, pode intimidar. Vejo medo de errar também...


Somos grandes certos? Mas, nada de arrogância. Eu prefiro assumir minha pequenez e ficar feliz com bons papos produtivos, assim como bons papos improdutivos... É uma satisfação poder compartilhar o que não cabe em um sorriso imenso. Me sinto alimentado quando converso com as pessoas. É uma troca, às vezes invisível, percebida apenas em outro momento mais adiante. O que me contorce o rosto é perceber que algumas pessoas se ausentam de pensar... Estarei certo?... Lembro aqui de Nelson Rodrigues com o “óbvio ululante”, quando penso (está difícil parar) nas soluções encontradas na cara, porém, poucos - ou ninguém - vê.


Eu não me canso de pensar, mas, pensar me cansa quando ficam os pensamentos em stand by e à noite, ao invés de dormir, preferem conversar. Meu rosto, então, mostra minha face cadavérica pedindo descanso em dois olhos fundos nocauteados. Uma hora o corpo começa a pescar... E já às duas, funciona a iniciativa de ir para a cama, enfim. Como se fosse fácil! A iniciativa vem dos sonhos. Depois de um pouco, novamente, de horas ocorridas em minutos é preciso escrever. Quem manda conversar tão estimulantemente em algum momento por ai?

Fomente sua idéia! É... Bem... Quer dizer... Nada disse no final. Não tenha medo de a roubarem, se for sua (risos) ninguém vai personalizá-la como você e se ocorrer o plágio ou/e a cópia deslavada melhore-a. Somos capazes sim! Já tive medo (em algum século passado) de se apropriarem do que “era” meu e só mostrava para algumas pessoas. Mas, pensei (olha só)que as idéias são de domínio público, não devem ser privatizadas e sim divulgadas, compartilhadas... O quê pensa? Pense! Mesmo se tua manhã amanhecer contrariada...

sexta-feira, novembro 21, 2008

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“Foi ele”!

“Tenho que dizer é preciso”! Estas palavras, juntas, e cada uma delas, separadas, atormentaram a mente dele. Olhar para cima pedindo silêncio com um olhar de angústia sobre os ombros encolhidos, não era a resposta. Não obedecer tais palavras produzia um auto-estranhamento nauseante, nele, cada vez mais forte.

Ele colocava as mãos sobre o rosto e pesava a cabeça soltando um suspiro de “não agüento mais”! Mas, era só. Seus cotovelos afundavam cada vez mais sobre as coxas já raquíticas e a costas imitando uma bola de basquete, esparramavam as pernas para frente apoiadas em pés descalços. Estava se apagando por causa de palavras.

Criou uma antipatia de si mesmo e guardou tudo que refletisse sua imagem. Parou de saber das coisas e as pessoas que o conheciam, ele acreditava, que o haviam esquecido. Ele sabia que o tempo ainda passava pelo bolor nas comidas que ele não tocava pela poeira que se acumulava e pelas teias donas da casa. Mas, o principal era sua carne que ia dando forma aos ossos.

“Ela”, “Tenho que dizer é preciso”... Afundavam os olhos dele o faziam se rastejar até o banheiro onde tentava vomitar tais palavras. Escravo de si, não sabia como dizer o que precisava ser dito. Sua mente esvaziou-s também, exceto por tais palavras. Não se sabe quanto tempo foi preciso, mas, a mente ensandecendo fez o impossível para o corpo. Correu. Pleno horário de almoço. Alcançou uma praça lotada e, quando caiu, produziu um som oco no chão.

Ele não conseguiu dizer claramente. Os curiosos se amontoavam e diminuíam o ar que já lhe faltava. Gritos de silêncios não paravam, até parar. O socorro de branco prometia logo chegar. Um rosto familiar chegou feito um borrão e para formar as caras de interrogação de todos, somente encostou o ouvido nos lábios dele. Que balbuciou, na compreensão dos mais distantes, apenas gemidos. Depois apagou.

O borrão era ela. Que diante da insistência massiva, gritou aos prantos:

- “Fui eu”!, ele disse.

Ela inclinou a cabeça para a direita, como se olhasse para dentro e repetiu para si mesma em voz alta:

- “Foi ele”! Largou os ombros e correu.
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Cortes cirúrgicos

Cortes no rosto, foi na cara
As palavras não esperaram o preparo
Foram no disparo que ninguém pode ver

Misturadas ao sangue gotejam consolo
Tinha que ser assim, avisaram

Para conter a verborragia, a mão estanca
Não, não adianta tem que sangrar o alfabeto
A imagem não conta, se não falar

Mesmo no silêncio afiado, vindo nas pausas
Consagrar o dito, com tal calar bendito

Corte profundo ou discreto
Cabe ao cortado somente
Se não compreende, os cortes não foram para você

Na próxima encena, as palavras podem sobrar
Use as vírgulas, ela podem parar

As cirurgias, da gramática
Podem ser feitas por entendidos
Ou nós, leigos, no nosso modo de falar
Posso concordar com a concordância
Ou ela, enquanto palavra, se verte a me (ao meu) cortar.

18h09min. 18.11.08

quinta-feira, novembro 20, 2008

É bem pior!

Não faça isso não faça aquilo... Parece música do Capital Inicial, mas, não é! Só estou soltando as rédeas sobre as regras. Nada de pessoal nem de rebeldia. Só sou eu mesmo! É que em uma última leitura sobre politicamente correto (pc), me senti incomodado. Não sou de falar palavrões, a não ser em jogos do meu time de bambis – salta que é uma beleza -, da Seleção Brasileira de qualquer modalidade. Não pergunte por que, é quase inerente. Vamos lá! Cada um se expressa a sua maneira (dèja vu) e muita palavras podem ofender. Aí você pensa: P*&%$, meu!! Tudo é ofensivo, então. Se eu disser “OI!” em tom agressivo, quem recebeu o “cumprimento” pode se ofender e tudo pode desandar. Somos desentendidos. Não, não tem um “d” sobrando. É isso mesmo.

Lia lá, que tudo começou nas escolas (sempre as culpadas). Justo com os seres mais espontâneos. A manipulação começa nos livros escolares mostrando o que você pode saber (deve ser) obviamente, por exclusão, o que não pode. Informações parciais. Será que é a teoria da conspiração para facilitar a futura manipulação? A malícia é a habitante do papel amassado dos ouvidos, sempre alerta. Até um olhar interessado denuncia que você quer sexo, que você não presta ou qualquer incômodo. É PROIBIDO NÃO SIGNIFICAR NADA!

E se nada significar pra mim? Oras! Me esqueçam! Não é nada pc você ler e não saber citar as vogais e consoantes que se abraçam do livro lido! Porquê? Quem inventou estas regras? Com quem reclamo? Este ser ninguém sabe ninguém viu ninguém tem referência... Alguém conhece este ninguém? Desaprendemos a conversar temos medo do que o outro irá entender. Humm! É por isso que cada vez mais o vocabulário dá lugar as gírias e abreviações... Eu não quis ser solidário e adotar a desculpa... Ah, não... É uma frase: “Não foi isso que eu quis dizer”!

Sempre digo o que quero ou me calo. Se o outro não entender que pergunte. Qual a dificuldade? Já me preocupei muito com tachações e sofri minhas taxas. As palavras têm seus famosos pesos e medidas, podem estar totalmente vazias de significados para você e eu já colocar nelas todos os significados possíveis. Como saber? Pergunte, oras! Minha capacidade de Nostradamus já não me acompanha mais... Quem sabe quando for Matusalém, elas voltem para onde nunca vieram. Oh, povo, por que perdeste a espontaneidade?

Ah, sim, as palavras são armas. Este é o motivo. Temos que ter cuidado com o que falamos. Tudo explicado, então... Posso ir embora? Será a famosa possibilidade do tiro pela culatra? A diferença é a operação da retirada do projétil – só porque dificilmente, neste caso, ele passaria direto pelo corpo. Elas não matam (as palavras). Não no ato, nem durante o trajeto para o hospital ou durante a recuperação. Elas precisam ser ditas, por isso existem e o mesmo pensamento não vale para as armas brancas ou de fogo. As palavras vão incomodar? Talvez. Vão abrir ou fechar feridas? É possível. Mas, deixa-las guardadas é bem pior. Faça! Se tiver que se arrepender, de algum modo irá. E como irá! HAHAHA...

quarta-feira, novembro 19, 2008

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Acho...?!

Foi por último. Os olhos a procuraram desde o início da tarde antes do banho até o fim da noite depois da despedida. Conversar? Só na segunda vez... Ele sempre deixou o melhor para o fim para apreciar mais, para não passar do querer logo de cara.

Os livros, de quatro comprados, o melhor ficava na expectativa. O que tornava os outros melhores do que eram, mas, nada se comparava ao último livro. Ele sabe se deliciar aos poucos. Pedaço por pedaço daquele chocolate vai à câmera lenta da mão para a boca, é preso nos lábios, apoiado pela língua salivada e só então, os dentes começam a afundar detalhe por detalhe.

Não foi ao acaso a conversa com todas as amigas dela e duas semanas depois trocar (neste instante) pequenas palavras pelo encantamento total por ele esperado. Os olhos nada mais procuravam se encontravam bem rente na inexistência da distância se afastando.

Ele está vestido de boina. Um azul virado para trás escrito OUSADIA. Está também com um verde mar quando o sol se põe surrado, tanto camiseta quanto bermuda e um all star desfiado de ambas as cores. Ela de preto como os próprios cabelos, com médias conchas nas orelhas, saia jeans um dedo acima do joelho e sandálias pretas abertas. Está quente e mesmo assim suave! Tudo!

Ele lhe pega os pés, coloca no colo e massageia como se tirasse as dores do mundo, a olhando na noite dos olhos dela: cheios de estrelas e uma lua cheia. As palavras estão repousadas sem precisarem se incomodar. É o silêncio perfeito no encontro do toque!

O rosto dela se aproxima. A mão direita dela se encontra com a boina. Não é carinho... As palavras são incomodadas:

- O teu querer está debaixo da boina?!

Ele se distanciou como trovões no fim da chuva. Ela como um último raio, caiu:

- Acho que sempre te quis!

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terça-feira, novembro 18, 2008

Pra quê roupas?

Por que o calor não se foi? A insônia das idéias exercita tudo nestas noites quentes. Deitado no chão sobre um colchonete fino e um lençol quando durmo, durmo bem. Mas, com este mormaço o que me mantém acordado é pensar demais. Se bem que agora um vento fresco balança a cortina da janela semi-aberta. Viro para um lado, para outro. Abraço um travesseiro confortável, levanto. Peguei o papel, o lápis, me inclinei na “cama”, abri o celular e comecei a rabiscar. É! É uma música! Veio do momento, veio daquele belo rosto de mulher. Assim são as idéias temos que respeitá-las mesmo, às 3h da madrugada.

Minutos depois termino a dita música – vou lá decifrar a melodia agorinha. De uma idéia cria-se um monte e o celular não respeita meu tempo. A bateria m deixou no escuro. Até, às 4h, digo para mim mesmo: “Fui lá escrever”. Levanto escrevo, deito penso repetidas e sorridentes vezes. No fim parece que os ciclos foram fechados porque só o calor me acorda de novo, mas, como vejo pés solitários na cama fecho minhas janelas de novo. Não adianta mais esvaziar a mente, ouvir as respirações, pensamentos e sentimentos são mais fortes e se ocupam de me manter de olhos abertos inquietos.

Enquanto não revelar esta força mim, permaneço em eterna vigília da minha mente inusitada. Agradeço o dom incansável que cada vez se cansa menos como eu. Contraditório feito este calor me achando com jeito de gelo e ainda assim o céu se agita retumbante lá fora, solta seus pingos tímidos e aumenta o som dos trovões ecoantes, já os raios me avisam que devo voltar para o ruído gostoso do lápis no papel, mas, antes tudo fora da tomada!

Venta do céu escuro para cá e o calor nem aí. Diz que aqui é o lugar dele e pontua um fim. Gostaria de saber quem contou tal despautério para ele...! Agora agüenta. Vamos a água. Estas chuvas divididas em capítulos dramáticos por aqui – e nem chove de verdade ainda – parecem histórias de assombração para crianças: deixa todos acordados assustados. É só o tempo calórico acizentar e o clima celeste ficar colérico, que os olhos se arregalam em Ribeirão Preto. Estou me sentindo ameaçado, pois, a chuva não vem o calor não vai e não sei o que acontece no mundo hoje. Nada de internet e tevê (já que não tenho o jornal do dia ou alguma das revistas da semana – só mensais).

Em uma terça – há duas semanas exatamente – choveu pacas (e não estou falando do mamífero paquiderme peludo) no meio da tarde, parou voltou no fim do expediente para início da noite e então três horas depois veio o capítulo final – eu esperava, em vão, uma conclusão na madrugada. Quem não gosta de dormir com o ritmo da chuva... Houve um mistério em casa (Só descobri na noite seguinte). A única tevê – agora descartada – foi alegada queimada sem estar sequer na tomada... Como?!?! Mistério de Cid Moreira... Deixa olhar pela janela... Caraca!! Se chover metade da escuridão do céu, vou mudar meu nome para Noé. Preciso comprar madeira...

E mesmo assim C A L O R bem soletrado e abafado. Até sugeri minha intenção de ir de cueca para um barzinho aí, mas, conclui que na prisão é mais quente – fora os “riscos” de estar nela só de cueca. Fica a dica: dispa-se. Calor ou chuva a roupa só vai prejudicar...

Aceno de até

Pareço-me branco – não da inexistente raça, tolo
Tanto sinto que algo escreve em mim
De um muro extensivo sem tijolo
Pode ser eu mesmo de pirraça
Fragmentado nos silêncios intensos das minhas falhas

Posso ter apagado minha consciência
Para escrever sem história recente um arquivo a não esconder
Seja lá quem eu seja

A fala dita linha a linha em ouvidos subentendidos
A mala da vergonha confessa de desentendidos
No caminhar sólido que fraqueja
Talvez uma toupeira no seu buraco deficiente escuro

Ou um ser imundo abandonado de esperança na sarjeta do olho
Com a profundidade da poeira de fundo
Não importa a ninguém que meus sinos toquem
Eles tocam e importa

Estou branco todo tempo
Até o tempo seguinte esvaziar meus escritos espontâneos
Até eu inclinar a cabeça e ver o meu tamanho
Até o mundo crescer.

17.1108 - 16h21min.

segunda-feira, novembro 17, 2008

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Presta atenção!

O cansaço se foi... Não, não era cansaço. Era desânimo escondido. Olhos afundados na olheira roxeada, raiva, exclusão, falsa necessidade constante de solidão. Faça um favor: não me cobre! Um alerta principal... Principalmente se me conhece e já falamos sobre isso.

É o que me irrita. Vai à dica. Não importa se estou fazendo miríades de coisas e de repente nada faço. Faça qualquer cobrança e ganhará um belo escárnio risonho. Mas, diga o que eu preciso fazer insistentemente para ver uma feição assassina se formar.

Lê-se um rosto assim: os lábios somem e se pressionam, as mandíbulas travam e um olhar desconfortável e vermelho toma a dimensão de um mangá maligno. A neblina se forma e como uma máquina de fumaça nada mais é certo como não era até, então.

Caso um silêncio permaneça sepulcral... Se afaste! Aproveite que ainda tem sorte e não ouviu análises contundentes e agressivas sobre você! Vá! Não há nada atrás. Depois quando a fumaça permitir enxergar novamente, volte e resolva isso. Nada fica pendente impune! Mesmo que as aparências continuem a enganar.

O ser humano tem uma capacidade de armazenamento impressionante que pode se distorcer. São cheiros, detalhes de roupas, de tempo, espaço acumulados – às vezes – indevidamente. A mente domina o corpo, que cansado pode parecer campeão mundial de resistência e ainda exibir o ar mais saudável já visto. Mais desconhecidos do que as profundidades dos oceanos só a mente e os sentimentos.

- Se olharmos bem o cansaço ainda está lá! ____________________________________________

Câmera escura

É como se eu andasse de ponta cabeça! Um estranho no mundo de estrangeiros. Estrangeiros olhando estranhos e julgando... Um respirar fundo, para não praticar a ignorância, e encontrando caneta e papel enquanto o computador está ocupado. Meus olhares e vontades se espalham. Descubro-me em cada palavra desenhada entre um neurônio e outro até que no lapso das sinapses vejo naturalmente entrar no ringue, das vogais ancoradas no abismo de consoantes absintas, um sentido múltiplo para todo sentimento elétrico perturbando minha pasmeira temporária. Então, o saco de palavras recebe golpes ligeiros e sintonizados no futuro próximo passante. E toda satisfação das artes marciais, das interações sociais, dos beijos colossais colados em lábios de mulheres da minha inspiração são prosas e versos do meu crescimento ignorante de corpo para alma.

Um cotidiano compulsivo de convulsões tentando ligar constantemente o corpo e a mente para os desligar em seguida. Um sentido para cada movimento da pupila diante da luz e das próprias sombras. Nada a explicar logo depois, porque explicar tudo é pedante é um pé doloroso nas partes íntimas. Digo que é difícil exercitar o silêncio - como ninguém que insisto em dizer que sou -, mas, gosto do sabor da dificuldade salivando na boca trancada a dentes fortes. Foi assim que descobri o silenciar total do cérebro ao meio de tantos barulhos na visão do outro. Não me isentei totalmente do fato fatídico de julgar, mas, me isento de ficar com qualquer opinião minha ou alheia antecipada de qualquer lua cheia, de qualquer olhar triste.

Você aí no seu canto, me vem vazio de imagem formada por mais que ela exista quando o espelho te olha de volta. É como olhar um grão de areia e querer catalogá-lo na estatística de pedras que viraram pó, ou melhor, grão. Você vai se transformando, perante meus olhos, em quem é - se for de fato - aos poucos. Gosto de ouvir (e muito) e se querem que eu diga, eu digo. Mas, de costume começo calado com olhos espalhados e ouvidos onipresentes... Agora, se vier conversando ou se tivermos lado a lado em alguma perdição urbana de passagem me sinto na obrigação de abrir a boca. Nem que seja para bocejar. Nem sempre falo para todos ou qualquer um, mas definido e definitivo - por mais que sejam praticamente sinônimos – não fazem parte de pessoas que sabem ser livres e nem das que não descobriram ainda.

Se eu não sou definido é pelo simples fato de não ser estático e mesmo se fosse o quê seria? Uma pedra...? E as ações naturais de vento, chuva, bactérias, fungos e sei lá mais o quê, não conta? A certeza absoluta não é parente consangüínea da arrogância? Ah, não!? Engano meu, desculpe... É que certezas são tão momentâneas quanto à morte! Falando nesta senhorita enxuta da idade do cosmos, um cadáver não é definitivo...! Ah, não estou criando mais uma “aprimorada” história de “mortos-vivos”! Quero escrever que aquele corpo sem vida – se não estiver em cinzas - irá se decompor e... Claro será alimento da terra até virar pó. A conclusão “brilhante”: até mortos se movimentam!



São olhares que o cérebro imagina! E...? A imagem captada é do avesso! Protestos? Avesso é, por exemplo, de dentro (“a camiseta está do avesso”)? Ou seja, ao contrário? Seria invertido nos seus olhares? Não!O inverso de deitado não é m pé é de bruços – caso esteja deitado de costas – e de dentro não é de fora? Voltando a imagem captada... “Exatamente” daí que veio a idéia da câmera escura (foi é?)... Aquela caixinha antiga com aquela “luz que estourava” pronto a imagem congelada forever and ever... Velhos, itens raros lambes-lambes! Aí eu diria que a foto é definitiva e definida concluindo uma imensa contradição gritante... Ouve aí? Os gritos? Olhares do avesso, olhares do avesso, olhares do avesso agora mais três vezes! Quem vê o mundo da mesma maneira, cuspida e parcial, que o outro? Hipocrisia! Se fosse crime todos beberiam por vontade cicuta... Algum platônico pensador (olha que legal) já pensou e não guardou para si (agradecemos por isso, pois, ninguém mais pensaria...) que há o mundo real e o das idéias. Ele, platonicamente, explicou em qual deles vivemos. Eu digo que nossas ideologias nos fazem chorar, mas nos dão força (ohhh) para continuarmos com elas em segredo ou “criar” outras... Porém, quem sou eu?!

Olhares do avesso


Do lado de cá há um mundo torto

morto por fora pela minha visão interna

passando do avesso do que faz a cabeça afirmar

as atitudes paternas a tomar todos os sexos atrapalhados

na mistura de um vidro partido dividido entre dormir acordar


Neste grito incalável rompendo a garganta que escancara

incontrolável seus pensamentos aversos do olho do mundo furado

com a responsabilidade vestida de palavras descoloridas de trapos marcados

pelos rasgos temporais caminhando no destelho inverso descendo o sangue pra cabeça em frases formadas pelo enjôo expelido para terra firme movediça de condições descompromissadas do elevador da alegria camuflada nesta cara zangada

por richas desenhadas no ranger palhaço do chacoalhar apertado das bochechas amestradas


Girando no tédio o teto fechado por trás dos olhares atentos

vendo movimento nas pedras jogadas de ressentimentos

no fundo falso das almas fingidas olhando o nada na extensão

contrária de um avesso simples de discordância renegada


Olhares do avesso me atravessaram no meu mundo paralelo por escrito

lido no brilho fosco distante dos meus olhos presentes em todo momento de olhar

circulando os detalhes em algum lugar de linhas tortas esperando o agir do destino

nas tintas invisíveis do livre-árbitrio confiscado na confecção das máscaras rachadas


01h16min. 17.11.08