sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Desculpe, estou eu

Por Rafael Belo

Chove um mar de egoísmo na minha alma. Logo eu, Nélio Basta, que sempre pensei realizar ações altruístas sem beneficio. Estou espalhando um ego egoísta de proporções gritantes. Deixe eu gritar aaaaaaaaaaa. Não olho ninguém sem tédio, sem pensar no que poderia estar fazendo se não estivesse perdendo tempo dando atenção a outra pessoa. Vou passando por cima soltando sarcasmo pelos cantos da boca para não engolir minhas palavras asperamente cruéis.

Estou indigesto como jaca com açaí na soja. Minha mediocridade virótica se espalha e cria pandemia. Ninguém sai ileso da minha presença inútil. Sou nocivo. Sou um veneno de vias aéreas. Não me respiram estou intragável. Não percam tempo me mastigando para morrer de indigestão. Minhas palavras cortam peles de aço e ferem ferinas qualquer ouvido próximo. Quem me vê hoje enxerga tempestades que levam vidas com as casa inteiras. Mas, não sou assim... Pelo menos não era!

Estou letal e era manso. De uma mansidão que águas serenas sem vento jamais tiveram. Fiquei no limite de tudo: da consciência, da paciência, da emoção, da tolerância, do equilíbrio, da sanidade... Caí em um poço de egocentrismo tão denso a deixar Narciso repleto de inveja de mim. Sou uma cabeça vazia agindo por estímulos e instintos rosnando ferozes em constante insaciedade, em uma sede de destruição de dar vergonha aos sem vergonhas.

Mas, DESCULPE, estou eu! Não creio que meu eu manso exista ou de fato tenha existido. Sou egoísta e de fato é minha essência. Passei minha vida recheado de máscaras e, aliás, DEVOLVA MINHAS DESCULPAS. As pessoas não diziam e não dizem o que pensam e eu as poupava das minhas palavras. Não mais! Este é o meu Basta. Sou mal e praticarei quem sou. Se é que ser mal é fazer o que quer e for quem é. Posso dizer que sou.

Não encoste em mim, não me diga o que fazer. Não me olhe por muito tempo e se olhar que seja nos olhos e se for nos olhos sorria. Eu recomendo. Não quero saber de ninguém, quero saber de mim e somente eu me interesso. As pessoas são tão chatas e enfadonhas que devo ser algum anjo caído, um demônio ou um arcanjo empunhando uma espada de fogo. Só que engoli a espada e a lanço pela língua e às vezes pelo punho. Se afaste, se aproximar-se virará um mar de egoísmo feito da minha chuva.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Pegada

Fui pisar já tinha um passo
Evitei pisar no pé
Continuei caminhando encolhido
Fui trombado como ambulante errado
Olhando as pessoas mudas nos carros gesticulando
Invisíveis nas ruas ninguém via ninguém
Não havia um olhar nos olhos também

Pisei em um pé irritado com desculpas
Não havia desculpar no vocabulário
Não havia tudo bem nos lábios cerrados
Nenhuma presença real nos avatares da vida
A não ser os grupos parados observando passantes

Pessoas obstáculos nos caminhos pisados
Pedras atiradas no silêncio briga de ratos
Passos escorregadios sons de macacos
Marcas apagadas antes de serem feitas
Caminhantes do asfalto feito de areia
Pegadas misturadas sem a gente pegar

15h48 (Rafael Belo) 28 de janeiro de 2009.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

O próximo é egoísta?

Por Rafael Belo

Dias de chuva em Ribeirão Preto. Ainda! Gosto de chuva. Sério mesmo. Caindo serena quase sem molhar. Diariamente. Bom para dormir, ruim para acordar. Enfim... Ontem sai cedo com o guarda-chuva me protegendo. Enorme, daqueles parentes dos guarda-sóis. Andei o dia inteiro sob ele e acabei o esquecendo depois que a chuva deu um intervalo na tarde. Desviei e me preocupei o tempo todo em não acerta meu teto ambulante em nada, em ninguém. Não reparei se o oposto era verdadeiro, mas gostei do malabarismo da antecipação dos próximos passos para posicionamento adequado de passagem. Só hoje na garoa paulista sem o teto esquecido, tive que torcer para não ser degolado. Passos rápidos em corpos encolhidos se aproximavam com as hastes próximas da minha garganta e nem me olhavam. A preocupação era a própria “proteção”. Nada de próximo.

Parece que há bolhas espalhadas nas calçadas ao redor das pessoas esperando um “bom dia” para olharem surpresas com um meio sorriso. Tenho mais de 1,80m, portanto não sou difícil de enxergar e mesmo assim corria riscos me aventurando com guarda-chuvas acusados de tentativa de homicídio. Próximo dos próximos observava a distância generalizada. Procurava fachadas com qualquer cobertura para me molhar menos e me incomodava à falta de senso daqueles tetos ambulantes debaixo de outra proteção. Cadê o espaço? Não há respeito ao próximo do próximo? Até na fila do famoso ônibus do ponto coberto até a porta uma dupla debaixo daquela imensa proteção gotejante rodando e mexendo na altura dos meus olhos. Derreteremos todos se pensarmos próximos, não iguais... É difícil pensar chove para todos aqui e que podemos pensar em algo... Assim... Além de nós mesmos...?

Há uma pregação tamanha do egoísmo e não falo só da presença dos guarda-chuvas invasivos. Com sol há aquela disputa por espaço na calçada. Imagine, ou melhor, lembre. Você está indo por um caminho estreito e do outro lado há alguém vindo em sua direção. De repente ambos aceleram para passar primeiro... Um doce para o felizardo que conseguiu...! É proibido ceder. É contra as regras (não me pergunte quais). É você e você e ninguém mais. Satisfação, carência, satisfação, carência, impulsividades, falta de raciocínio, satisfação carência... Sintomas da grave doença do século: Depressão. Vamos abrindo buracos e de repente (depois de dias, meses, anos...) estamos sem chão, sem nós mesmos, estamos ligados às névoas passageiras de felicidade em comprimidos vendidos sem receitas nas propagandas da vida. O resto que se molhe... (?) Para merecer espaço é necessário ceder lugares!

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

___________________________________Luz acesa 

Por Rafael Belo

Foi dormir e acordou com o coração disparado. Não havia ninguém em casa. A Escuridão mais uma vez tenta afastá-lo da Luz. É com freqüência esta repetição. Uma tentativa de trabalhar em conjunto com o medo. Um pesadelo e tanto o deixou tremendo. De longe, sob a luz da tevê, ele vê os objetos da cozinha rodarem no ar como uma dança macabra. Sons ininteligíveis viam. Ele sabia a direção de tudo aquilo: ele mesmo.

Diogo se afastou muito desta vez. Lá fora ele via a escuridão se aproximar, o pressionar. Mas, também estava no pé do ouvido tagarelando. Ele ouvia como pensamentos e cavava mais a ilha de desilusão e desespero se arruinando na solidão dolorida de talvez não existir. Uma depressão o anulou, o deixou com vontade de suicídio e sua ilha era engolida mais e mais para a escuridão chamada para entrar. Seus olhos tremiam na cozinha. 

Decidiu ir até lá com uma respiração pesada e um medo absurdo como se não tivesse ninguém como se fosse abandonado. No dia anterior ele se sentia manipulado e com maus pensamentos de todo o tipo de morte e destruição. No decorrer de um domingo ele sentiu uma paz imensa que dizia confiar nele.  Sem precisar de mais ele imediatamente sem sequer perceber parou com os maus pensamentos. Descobria ali um a um os motivos da falta de vontade e descaso próprio.

Viu o abandono dos dons e a obsessão por desejos vazios. Mudara com um sentimento. Mas, quando à noite veio ele quase clamou pela volta. O pesadelo durou horas e ninguém presente (pais e sobrinha) ouvia nada, via coisa alguma. A sobrinha arrumava as malas, os pais vidrados na televisão... E toda aquela Escuridão o danando como um caldeirão de cozidos dele mesmo. Acordado olhou para os vazios da casa e voltou a deitar ainda tremendo o pesadelo. 

Havia abandonado suas crenças e seus dons. Ao voltar se deparou com uma barreira. Poderia ter “voltado atrás”, mas não agüentava mais tanta escuridão. Tudo como uma metáfora mais elaborada do que apenas o Bem e o Mal. É o aviso de maldade. Da má influência. De como somos mais carne e obscurecemos o espírito para satisfações e nossas luxúrias. Como podemos ser fracos sendo tão fortes? Nossa Alma é tão maior e ainda fingimos termos outras necessidades... Acenda a Luz!

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quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Se Foi

Hoje eu não sou um bom dia

Não levanto não acordo estou no mesmo lugar

Meu corpo treme em agonia depressiva da dor

De uma janela chove cinza do meu corpo ido

Foi lavar a alma na esquina vazia

 

Com o sentimento de abandono espumando

Nos cantos da boca redonda

Mas alguém sorri para minhas lágrimas sedentárias

Uma luz ao meu lado de passagem

Passando para deixar a auto-piedade no ponto

 

Um sopro de palavras na tempestade feita de vida

Lança-me de volta para levantar com um suspiro

De retorno para o hoje que continua por mais que amanhã chegue

Olhares tristes se vão sobem e descem

Param na esquina, e a preenchem.

 

13h53 (Rafael Belo) 26 de janeiro de 2009.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Sem pensar

Por Rafael Belo

Dia chuvoso. Não estava animado para sair debaixo da coberta, soltar o travesseiro. Tudo cinza. Mas, amanhã tenho dentista já faltarei. Segunda-feira é o dia da preguiça e assim o dia que mais faltam ao trabalho. Quem não tem seus momentos de dúvidas? Eu me escondi este fim de semana já que meus planos haviam sido alterados desnecessariamente. Precisava pensar só. Me senti triste. Poucas vezes admito, mas depois de uma sessão rápida de acupuntura praticamente terapêutica, percebi algumas coisas me entristecendo. Minha liberdade estava sendo cerceada pelo meu silêncio. Acomodei minhas palavras, meus anseios, sentimentos e pensamentos em algum canto de mim esquecido. Não percebia minha tristeza. Mesmo pouca... Por quê? Bom eu não admitia que me faltassem “coisas”! Falta meu espaço, meus amigos e falei calado, pela metade. ( Mas, já faz algumas semanas)

Gosto de escrever, cantar, tocar e ler mais do que tudo e pouco tenho feito. Gosto de fazer matérias que façam diferença, de estar com as pessoas e algo se perdeu. Fiquei preso no que tenho que fazer, pagar... Não do meu gostar, do meu sentir, do meu dom... Criamos uma bolha, às vezes. Olho para frente e não para agora. Nunca fiz isso, me entristece avançar assim. O bom é analisar o caminho tomado até. Fiz isso e voltei alegremente a fabrica criativa atemporal da poesia, da música, do violão. Tive raiva e vi a direção dela: a minha. Homer Simpson diz que a culpa é dele e põe em que ele quiser. Também o digo e é justo mea culpa. Procuramos culpados e exemplos todo o tempo. Sempre procurei justamente ao contrário. Todo bom ombro precisa de ombros bons... Dia cinza. Tudo chuvoso. A animação veio, mas passou. É um processo solitário, mas, não precisa ser. 

É difícil admitirmos nossos atos e quando não o é, escondemos até de nós mesmos certas coisas. Nos aprisionamos e confundimos a liberdade. Então as pequenas coisas nos prendem. Eu acredito em Deus! Quando quem não acredita me pergunta: por que você acredita e respondo por que não? Falam de coisas racionais, de ciências... Podemos acreditar no que quisermos e podemos ser livres se esta for nossa opção. Não há perdas neste relacionamento de alto padrão. Neste relacionamento com a alma. Não é um negócio, então não falemos de vantagens... “Engraçado” como sem “perceber” queremos tirá-la (a vantagem) de tudo. Assim vive chovendo muito forte ou fazendo sóis abrasadores individuais. Não quero ficar pensando em querer deixar marcas. Vou ser eu mesmo, mesmo me perdendo em alguma mancha na minha alma apenas para limpá-la e sem pensar deixarei.