segunda-feira, março 30, 2009

Silêncio espancado


por Rafael Belo

Falar e não entender sobre o que fala é a “dádiva” de muitos seres humanos sem intenção ou com toda ela de passar adiante qualquer coisa ou uma coisa qualquer. Prejuízos intencionais ou sem intenção podem vir daquela pessoa que não conhece o silêncio. Fora de contexto, um beijo pode parecer o escarro de Augusto dos Anjos. “Escarra na boca que te beija”. É para dar o sentimento de nojo que a perda de confiança “às vezes” acarreta. Mas, não é bom beber veneno dos outros. Nem o próprio. Só penso ou tento, saber exatamente o que se passa em uma cabecinha oca, ao falar o que não lhe diz respeito. Em outra situação no meio de um clima não amistoso. O erro veio do momento de falar, não de quem ouviu. Brincadeira, mal-entendido, ironia, sarcasmo, não importa! Os lobos estão à espreita vestidos como sempre de cordeiros, mas uivam para a lua certa na fase errada.

É tempo de silêncio (?). Não! Quem sabe dar voltas, as dê. Por cima, pelo lado, em cima... Confrontar o “mal-entendedor” não ajuda sempre. É ínfimo e de uma igualdade inexistente. Seja perspicaz. Levante suas próprias orelhas e guarde seu silêncio. Resolva o “problema”, respire fundo e não seja idiota de cantar a vitória. Transforme em algo produtivo. O prazer humano de espalhar traz um fel ferino que desperta a besta em qualquer um. Direcione corretamente sua ira bestial. Não use intermediários. Passe calma desse seu vulcão tectônico. Procure saber o que aconteceu para desencadear, algo como uma série de demissões por causa de palavras medíocres que você disse. Eu disse! Inocentemente desta vez... Paguei o pato por alguns minutos... Mas, outras vezes outros falaram demais... Agora não digo mais nada. O ambiente pesa sem todos saberem o que ouve. Informação real ou não e o resultado disso parece realmente privilégio. Assim como privacidade. É conto de fadas.

Era uma vez... Então, acabo por pensar na índole das pessoas. Não gosto de parâmetros de comparação e não gosto de comparar, portanto não o farei. Não me cabe julgar as pessoas. Mas, posso ter uma certa ira com relação às atitudes delas e deixar de confiar e interagir totalmente. Neste momento me parece que o silêncio ensina mais que as palavras... Não falaria sobre isso se não estivesse permitindo que me incomodasse, queria falar sobre a sela do senado, ops, cela do senado. Porém, devo dar vazão ao que está mais forte em mim. Na sexta pressenti algo ruim e estava com uma raiva insana. Sabia que por mais inocente, minhas palavras eram culpadas. Boca fechada agora para um bom grito depois. Há camadas de egoísmo provindos de lugares escuros da boca, onde até mal cheiro e aroma refrescante de alguma marca de higiene dental se confundem. Ah, humanos de onde sou afinal? Falar o que pensa às vezes é sinal de silêncio...!

sexta-feira, março 27, 2009


Cicatrizes do vento

por Rafael Belo

Na pele, ela tem caminhos com inícios e fins que não levam a parte alguma, diferente das lembranças cicatrizadas pelo vento. Soprado da própria boca com o ar dolorido para continuar. Acácia sabe que o vento há de levá-la no tempo certo, já marcado há tempos. Sabe, porque já esteve acidentada tantas vezes sob tantas formas, que para outros foi mortal. Ficaram dos acidentes, cicatrizes. Uma de cada um. Um vislumbre de uma vida finita, mas longeva.

Sobreviveu em silêncio a explosão de um avião. A aeronave caíra sobre sua casa sem deixar vestígios do que era a casa. Ela dormia de bruços e acordou distante sem se preocupar com qualquer explicação. Não era a primeira vez. Já havia parado de contar quando os números se aproximaram de centenas. Mas, este levou todos da sua família e deixou que a levassem também. Olhou como inconsciente para o vazio em chamas de onde morava. Suas lágrimas correram pelos diversos cortes fundos no corpo e chegavam abundantes ao chão.

Sentiu o vento a levar e lembrou-se da desolação, que ao invés de secar, este novo oceano de tristeza, fartava em uma abundância absurda como se não houvesse terra no planeta, só sal e ondas. O mundo das águas soterrava a sete palmos seu mundo em afogadas dores. Não havia sentido nos pensamentos, apenas um pesar enlutado dilacerando o coração constante a atirando de joelhos ao chão e levando a escuridão a consciência de um desfalecer.

Quando as cicatrizes começaram, a mais vaga lembrança era cair do berço sem ninguém por perto, além das ressonâncias dos pais a dormir em outro quarto. Mas, não podia ser dela esta memória. Como poderia ir tão ao passado? Não! Ela não queria se aceitar diferente, pródiga de algo. Era como todos. O resto é coincidência. Mesmo não conseguindo se enganar desta maneira. Por que sempre sobrevivia sem maiores gravidades?

Após recobrar do fim de tudo que tinha. Ficou ajoelhada por horas. Ainda que doesse mais a alma ao corpo, mas o coração competia por milímetros de vencer. Ela sentiu neste instante, seu negro manto triste de tortura ser despido suavemente. Suas permanentes cicatrizes viraram lembranças do vento, que a afagava e soprava na direção da imensa fogueira de uma vida desperdiçada por incontáveis “ses”, “sou assim mesmo” “o quê vai mudar, afinal?”.

Na própria fogueira de egoísmos, vaidades e julgamentos teve sua Sodorra e Gomorra e sua própria barca. Suas segundas chances eram definitivas desta vez e seus maus pensamentos definitivamente não existiam mais. Navegava em si e acolhia o mundo que via feito uma revelação apocalíptica escrita por dentro da pele em um evangelho de caminhos. Acácia revia seu filme todos os dias, para seguir com o vento adiante e ao menos refrescar o mundo cuidando das suas borboletas.

quarta-feira, março 25, 2009


Estava lá

Uma direção direcionada, guiava
Os rumos de alguns passos meus
Mas eu, me impedia de não os seguir
Caminhando contradição, faltando um pedaço
Deixando a perdição diante das opções dos caminhos

Rumores me enchiam a cabeça, eu nada sabia
Queria me libertar, mas voar para onde?
Seria qualquer coisa melhor, que a própria prisão?
Dissabores me tiram os gostos da boca, qual o gosto de gostar de si?
Minha cabeça gira, parodia tantos pensamentos soltos

Sinto o gosto de se gostar, é uma música derretida no paladar
Pensar com os próprios pés, contrariar autoridades, cantarolar
A direção em minhas mãos sem habilitação para guiar, mas quem tem afinal?!
Rebeldes estão aqui, na mente, não querem estar assim por mais tempo
A rebeldia, sempre estava lá, impaciente

14h35 – (Rafael Belo) 25.03.09 - (para Lore)




Rei de mim

Quando as portas abrirem
me leve para dentro
com um movimento
que só eu veja sem olhar

Na natural natureza de rosnares libertos
No verde do concreto a pedir devastar
O trancar alheio das portas de vidro sem lar

Serei o leão morto todos os dias
Disfarçado de mitologias em cinzas
Para no outro dia voltar a rosnar

(Rafael Belo) 11h42 – 25.03.09

segunda-feira, março 23, 2009

Dias de chuva...

Por Rafael Belo

Quantas dores há no mundo? Começando de nós mesmos, vejo muitas. A dor da fome, da ignorância, da desilusão... Mas, a mais dolorida é a da perda. É desta dor a se falar. Viva e deixe morrer... Viva e deixe viver... Quando alguém próximo - e muito próximo – morre, não é como acabar um relacionamento, mudar de cidade ou manter um segredo devastador (às vezes é)... Toda aquela rotina onde a pessoa (agora morta) se infiltrara está vazia dela. Perder pessoas é um termo forte demais, não se perde ninguém. As pessoas não nos pertencem, nem nós nos pertencemos. Há algumas semanas, a revista eletrônica dominical daquela rede sinônimo de planeta, mostrou a dor de quem ficou após a calamidade “natural” de Santa Catarina. A alguns deles, vestidos de dor, me pareceu a própria morte mais fácil, a agüentar a morte de um filho, ou de um ente amado. Orfandade de diversas maneiras na televisão.

É triste, de diversas maneiras, assistir sem poder assistir a dor alheia jogada da tela para informar (?) e entreter (?). Infelizmente eu tinha esquecido a proporção das chuvas catarinenses. Não, bem esquecido, mas me desligado do efeito em longo prazo. Casas e famílias afogadas. Os sobreviventes mostrando claramente uma dor aguda na televisão. Qual a necessidade de contar a cicatriz aberta de novo e de novo. Foi bom e foi ruim, digo. Não precisava mostrar tanto a dramaticidade, de um drama tão triste. Os “sobreviventes” poderiam ser poupados de reviver os dias de chuva e os de desolação conseqüentes. Quantas dores custa uma informação? É dor, medo e violência nas cores iluminando da velha caixa, no escuro da sala a receber exclamações indignadas e de cautela das famílias diante da tela. Dias de chuva são preocupação para o país de uma maneira mais dolorosa, agora.

Terminei de ler um livro onde guardião de memórias (título do livro de Kim Edwards) ficou sinônimo de segredo imenso e devastador. Lugar onde uma floresta densa e impenetrável cresce no centro do coração e ninguém entra de fato. O livro prendedor conecta-se diretamente com as dores de Santa Catarina pela dor causada pelo silêncio e o vazio posterior. A dor de um pai, uma mãe, um filho, uma diversidade genética, decisões, desastres naturais onde a culpa envolve todos e aponta caminhos longos e tortuosos caminhados sozinho. Algumas pessoas vestem a dor com um número a menos, pensando ser apropriado o aperto. Deixam a vestimenta apropriada por pouco tempo ser inapropriada por tempo demais e as dores próprias do mundo não são tidas como aprendizado, mas como castigo supérfluo a ensinar apenas quem regeu o castigo. O que sei de dor, afinal?

segunda-feira, março 09, 2009

Ficou na curva

Veio a dor
Feito um rio seco
Onde as pedras não se acomodam

Rolam sobre o peito
Sem arredondar as pontas
Rasgando os gritos com ecos

Represa a sequidão do rio
Onde rola a dor em pedras
A empilhando no leito vazio

Rio de pedras
A me atirar primeira
Hipocrisia como a gota d’água

Há um desvio no rio
Rio que continua a doer
Dor que ficou na curva

22h14 (Rafael Belo) 08.03.09

sexta-feira, março 06, 2009


Mente paranóica _____
Por Rafael Belo

O mesmo som a noite inteira na festa do pijama com roupas curtas e sorrisos longos. É festa íntima até de repente aos gritos de no chão no chão, a diversão parece acabar. Curiosas, às mulheres tentam olhar pela sacada. Dois objetos não identificados foram arremessados e vistos como granadas. Pânico da dona do apartamento que ao perceber ser o ex-namorado policial desce. Alêgrea ainda tentou descer mais o carro saiu em disparada com o som mais alto do que o ensurdecedor som da festa.

Por precaução todos permaneceram soldados. Rastejando sobre os cotovelos, braços, mãos, joelhos, pernas, pés feitos calangos no deserto escaldande diante da iminência da guerra entre iguais. Já eram ouvidos barulhos de bombas estourando ao redor, seqüências ininterruptas de balas, gritos – bem estes eram reais demais – e um sangue jorrado de uma imaginação paranóica. O medo orquestrava tudo com sua pose petulante de necessário.

Mas, a mente humana não deixa nada sem associação. Alêgrea não sabe disso e cultiva suas conspirações contra si mesma. Assim dias depois da guerra imaginária, Alêgrea estava envolta de uma dessas associações, que não tem sentido algum fora da mente dela. Descendo umas e outras e se divertindo mais uma vez - será um padrão – ela presencia a briga violenta dos vizinhos “por acaso” também no posto. Abastecendo a mente com algumas sandices ela guarda a cena cotidiana na memória.

A rotina de brigas do casal de vizinhos é brutal com gritos já desvendados pelo ouvido de plantão. Certa noite, próxima ao dia do posto, Alêgrea olha atenta pela janela e vê o homem do casal descer do carro. Ele volta pega uma imensa faca quase do tamanho de uma foice ceifadeira, a esconde por toda a extensão do braço e do corpo e segue até o apartamento. A confusão está acelerada. Em Pânico, Alêgrea aciona todos os próximos e espalha a nóia. Em rede no telefone, não quer ficar só.

Com um policial a tiracolo em casa - sem ninguém ver o que ela enxerga – conta toda a história, que nem nós sabemos. Ela é cúmplice da briga do casal e imagina ser uma queima de arquivo. Será assassinada e a vinda do homem com o imenso facão prova tudo. O casal nem sabia da existência dela, mas quando o policial vê o facão e revista à casa do casal a história do homem da janela da frente é confirmada. Eram os preparativos de um churrasco do casal entre o amor e o ódio. Agora todos conhecem Alêgrea.

quarta-feira, março 04, 2009

Páginas tremidas


Presente na ausência as ruas vazias preenchem as lacunas
Entre temer e estar só pela vastidão de um beco sem saída
Onde enxergam além dos muros pela visão tremida de não querer sair
Enquanto da janela as sombras acompanham a vida olhando pelos cantos
Dos olhos desconfiados os passos apressados temidos assombram

A si mesmos porque tudo passa onde nada passa enfim, ausente
E a presença da ausência vai parte por parte se tornando lembrança
Nas desertas pessoas que não estão lá nem aqui por tremer estar
No pânico estranho do mundo estranho de paranóia
Com a obsessão de uma perseguição inexistente

Ausente na presença de ninguém, esvaziam corpos de medo
Com copos cheios de alterações bebidos com água e açúcar
Nos cantos onde pessoas encolhidas usam o toque de recolher
“Às custas” da covardia da alegoria da caverna ambulante
Distante da luz mesmo sob o temido sol ardente
Sombreando páginas em branco


09h38 (Rafael Belo) 04 de março 2009.

segunda-feira, março 02, 2009

Temor da vida


por Rafael Belo

Com os olhos vidrados em cada som produzido aos arredores algumas pessoas estão em pânico constante. Já perceberam? Os efeitos às vezes, ou muitas delas, não são de traumas, experiências alheias ou alguma pré-morte. São de ouvir falar, de assistir ou do nada mesmo. É uma angústia constante “viver” assim, imagino. Não dormir para não ser assaltado em casa e ainda assim não ter qualquer arma diferente de uma faquinha cega de pão. Luzes acesas, olhos vidrados, coração disparado e a porta de casa cheia de apetrechos Magaiver do Paraguai que só assustam quem chega tarde em casa. Se houver o assalto, qual a reação? “Parado ou te... Passo manteiga! Não estou brincando! Se afaste ou vou te lambuzar até você não conseguir ficar mais em pé”. Que obsessão absurda... Redundante! Qual não é? Há pessoas que não saem de casa por puro medo de ser abordada... Que horas são, por favor? Ahhhh...

Observo bem as pessoas antes de perguntar e fico pensando se vão me responder me ignorar me esfaquear... Aí sim - ainda pensando tudo - pergunto local de tal rua, as horas quando o celular descarrega. Às vezes obtenho boas informações, sabe, com detalhes e referências, outras as pessoas dão aquela paradinha involuntária já se preparando para correr, falam muito rápido e antes de você agradecer, somem. O medo vive no canto dos olhos. Você ouve passos e aperta os seus, você vê alguém com quem não se familiariza e muda de calçada, o sinal fecha e você olha para todos os lados implorando para abrir logo, você faz de tudo para não ter que andar sozinho e confia em quase ninguém. Que tristeza! Viver com o coração não garganta não ajuda ninguém a respirar e por que pensar que isso é “normal”? Porque é o comportamento padrão da nossa sociedade. Ah, bom! Agora sim!

Na ponta da língua. Ter medo é normal, mas viver com medo... Aliás, esqueça o “normal”. Já não é palavra confiável! Está é a palavra chave, não é?! Confiança! É aquela história de tentar se suicidar e levar o milagre da vida para outras argumentações. Quem quer tirar a própria vida, o faz. Há filmes e livros sobre este ato obsceno e medonho. Mas a “falha” desta tentativa indica o medo de seguir em frente, de estar sozinho, de enfrentar a vida, de pedir e aceitar a necessidade de ajuda, de achar que agüenta o que o caminho seguido lhe proporciona ou proporcionou sem ninguém, então, a palavra solta a alguma linhas volta: Confiança. Coragem não é o antônimo de medo. Antônimo de medo é confiança, porque coragem não é ausência de medo. Confiança sim.se você confia em Algo maior e m sim mesmo, não há porque evitar a vida a temendo. Caso contrário, é hora de aprender a confiar.