terça-feira, agosto 10, 2010

Sóis


8Qual é a tua intensidade perante Sóis se fundindo? Captei assim cegante...

por Rafael Belo

Na esquina ela está jogada da mesma maneira há várias horas. Cabelo espalhado sobre a cabeça formando um triângulo invertido, blusinha colada preta, minishorts rasgado marrom, descalça, com os braços abertos e com as pernas dobradas. Olha fixamente para o céu. Está vazio ao seu redor, a calçada, as ruas, as casas, a cidade... Ninguém. Nem um som se misturava a uma calma brisa apocalíptica soprando quase um assovio. Mais cedo já era silêncio. Somente, Solare Resis restava. Sol imagina quanto tempo ficou apagada...

Seus olhos se reviram, sua boca se contorce, sua respiração vai e vem redundante enquanto ela se lembra de vagar ainda neste dia sem encontrar nada vivo sem raízes... Então, se jogou no gramado... Só agora começou a perceber seu homônimo Astro Rei tão próximo e o calor formando bolhas em sua pele. Nada atravessando sua mente explica... Sol não tem certeza se está entrando em desespero ou saindo de um alívio para o constante estado de alerta. Há incerteza plena. Mas, ela prefere continuar olhando fixamente para o céu...

Jogada como quando era criança e o mundo acabava segundo a segundo... Só para os adultos. Para Sol era motivo de risada, curiosidade e correria. Ela divaga nestes pensamentos... Na verdade procura perde-se completamente nesta época sem preocupações, sem compromissos... Se bem... Algum tempo atrás a infância já era tão compromissada quanto à vida enfadonha de um adulto. Isso não interessa a ela, ela quer se perder, mas nos próprios pensamentos felizes... Isso porque não consegue pensar nos infelizes, nas dores, nas dificuldades... E ela faz o sempre clichê pensamento: ‘porque no fim pensamos no começo?!’

Tudo está em chamas. Os Sóis se encontram... ‘por que não há dor?!’ Deveria ela pensar... Mas está tão distante, tão... A não perceber a purificação pelas línguas do fogo em combustão no planeta. Ela está feliz como poderia não estar?! Quis a solidão e a teve, se jogou no chão e por horas viu o filme de um céu azul levemente anuviado. Seu corpo se desfazia, sua alma ia por meio do olhar e tudo queimava ao redor voando em cinzas ardentes pela face do vazio, pelas brechas apocalípticas de mais uma solidão na esquina.

2 comentários:

Mônica disse...

Oi, Rafa! Demorei, mas apareci...rs

Adorei o texto. Acho que quase sempre a solidão é uma escolha de cada um mesmo, mas ainda assim é difícil lidar com ela.

Beijos.

Déia disse...

O sol, traz o brilho, o calor e aquece os corações solitários!

bj