quarta-feira, novembro 30, 2011

Sinestésico horizonte

Eu preciso dizer que te amo - Cazuza e Bebel

*(No horizonte estão todos os sentidos se expandindo pelo infinito.)
Foto Rafael Belo
 Avassaladoramente, move nossa mente e dissipa nosso corpo o Amor
desafia toda dor, endireita o torto e canaliza o universo no todo
potencializa o Coração, no topo a ser Alma, absorto em cada olhar faiscante
iluminando instante a instante o mundo com a chama eterna da vida
emocionada nos detalhes da brisa soprada, em entalhes manuais ternos

Acaricia o rosto a aliança etérea entre as almas arrebatadoras na entrega
do abraço da pele poro por poro, suspiros por cheiros, coração em coração
na mais intensa inspiração de conquistar um ao outro, em cada alvorada

na revoada apertada liberada pelo sorrir contínuo a se mesclar com o horizonte
fonte do encontrado olhar se pondo e renascendo sem pontos, para encher os espaços do entoar lacrimejante do verbo conjugado pelo dando da boca beijada em realizados sonhos, Eu Te Amo!

Rafael Belo, às 9h49, terça-feira, 29 de novembro de 2011.

sábado, novembro 26, 2011

Somos anjos e demônios



Trilha - É preciso dar vazão aos sentimentos - Bidê ou Balde.




Add caption
*(  se tiver que tocar a Luz sua fé é fraca e pode se apagar depois do terceiro toque...) Foto Rafael Belo

por Rafael Belo
Email anônimo destinado ao mundo
Perto do fim tudo parece voltar ao início para o derradeiro. Como um minuto eterno de consciência onisciente do coletivo e das extensões dos universos. É como se a compreensão final sorrisse e o som da linha reta pudesse se perpetuar na UTI invisível. Mas, antes dos pontos finais e da pontuação necessária, há um surto de pluralização única de nós, seres sem iguais. Nunca só calmos, nunca só irritados, nunca só gentis, nunca só sorridentes, nunca só tristes, nunca só felizes, nunca sós enfim, porque somos detentores de todas as sensações das mais diversas formas captadas pelo corpo e pela alma.

Já não sei mais quem sou – se é que já soube um dia – mas, não somos uma coisa só, não somos os anseios de ninguém e o ideal?  O ideal é sinônimo da utopia. Uma referência, uma luz no fim do túnel posta para nos indicar o caminho. Somos anjos e demônios sim. Não adianta negar, procurar com a cabeça os ombros esquerdo e direito vigorosamente. Admita. Somo fortes, fracos, somos humanos... Doamos opiniões e agimos pouco. Pouco em demasia. Chega da nossa hipocrisia reconfortante! Nossos pecados serão perdoados e quando compreendermos de fato, no soar da maturidade desta ou daquela idade, nos arrependeremos.

Como ninguém sabemos ser sábios e tolos. É da nossa natureza humana. Mudamos muito de assuntos, insistimos muito no mesmo ou não temos assunto nenhum. Mas fazer justiça com as próprias mãos ajuda a incitar o ódio, a decepar cabeças de hidras mitologias só para vermos duas novas nascerem no lugar. Não precisamos tirar a vida de ninguém ou nos privar da liberdade de ser quem somos, basta nos adaptarmos. Existem sempre vários caminhos para chegar a um objetivo, existem vários objetivos para um caminho.

Nosso mundo é tolerante e sabemos bem o significado de tolerar – distante o suficiente de aceitar ou respeitar. Queremos respostas, queremos perguntas, queremos responder, queremos nos calar, queremos o silêncio, queremos guerra, conflito e queremos paz. As pessoas têm interesses, nós temos interesses nas pessoas. Amamos – ou pensamos que sim – nos apaixonamos e perdemos a paixão, fingimos desamor e às vezes o promovemos. Para no final voltarmos ao início de um email anônimo desabafado (desesperados enviados a todos e todos os meios de comunicação) e descobrirmos que fizemos várias rotações e translações e, tonteados, desabamos na beira do edifício mais alto das proximidades. De lá deslumbramos as nossas necessidades: alguém que nos ame, alguém para amar, um grupo de amigos e lembranças, um refúgio e os momentos de silêncio e solidão. Somos o próprio paradoxo em harmonia.

quinta-feira, novembro 24, 2011

Barulhos da Noite

 Trilha Quase sem Querer - Legião  Urbana na voz de Maria Gadú

(* o que está no fundo atrás da teias do muro ?) Foto Rafael Belo

por Rafael Belo
Engraçado como o noticiário nos fez medrosos. Bem, o noticiário, nossos pais, nossa falsa sensação de segurança, experiências nossas, alheias e, claro, nossa própria paranoia. Basta um barulho da noite, aquele ruído noturno repentino, para o despertar. Tudo fica em alerta e às vezes o sono dá lugar a insônia. Mas qual seria nosso feito se o possível invasor tivesse portando uma arma de fogo? Com sons diferentes no quintal ligar para a polícia é a primeira ação, mas normalmente nossa reação é: ‘e se não for?’ Aí vamos até lá verificar... Instinto e insegurança se misturam e no final, no breu das altas horas, não dá para confiar mais.

Devemos estar preparados para tudo, mas é tão exaustivo sermos eternos escoteiros, olhando para todos os escuros, gritando sempre alerta e temendo estranhos desconfiando de desconhecidos... Mas ao mesmo tempo aquela sensação de sermos impunes e com tanto ego a afastar qualquer mal deixa o desequilíbrio igual = totalmente equilibrado. Os barulhos da noite nos perseguem em cada esquina. Às vezes nós estamos nestas esquinas escondidos nos esperando para a surpresa... Na ponta dos dedos, achamos termos o controle.

Se não temos controle sobre nossa reação diante do inesperado por mais treinamento mental imposto por nós mesmos por que tanta preocupação com o porvir? Por que nos consumirmos tanto diante ao quem sabe, ao possivelmente? Esta sensação de impotência perante o passar das horas só existe pela nossa superestima. Esta nossa mistura diária de herói/anti-herói no olhar único de cada um nesta nossa gula veloz de não saber esperar, de querer resolver cada problema e tudo de uma vez ... Claro, virão reclamações e nos verão lamuriando o evidente leite derramado...

Este nosso eu freudiano martelando a certeza do entender dos outros, do mundo, exaure nossas possibilidades de permitir conhecer o passar ao nosso redor, enche nossas vistas de anteolhos e nos torna juízes constantes quando somos réus da vida. Desprezamos o presente com tal argúcia de raciocínio a ponto de não raciocinarmos e deixamos o presente guardado a olhos nus, sob as árvores de Natal para quando for passado o abrirmos e descobrirmos não ter sido bem daquela forma que víamos, mas então, os barulhos da noite já não nos deixaram dormir – mas quem sabe deixarão.

terça-feira, novembro 22, 2011

Oásis urbano


Trilha - Dom Quixote , Engenheiros do Hawaii


(*Somos além de segredos, somos mistérios
não decifrados por nós mesmos) *Foto Rafael Belo

Mesmo sob o sol escaldante diário nosso deserto hesitante se move
nos restos do passado não usado ao lado dos ventos renovados  do incensário
fazendo árvores longas sobre seco suor, sob nossos pensamentos que sobem,
fumaça da oração na sensação sendo ouvida por meio dos nossos grãos de areia a formar um grão, no oásis urbano

humanos traços nas fases dos quatro elementos espalhados pelo nosso vento
face da nossa folha verde no intenso outono, por mais que para sempre seja verão
naquela estação da sensação de inverno poucas vezes é frio e estagnado
pois há flores da primavera no coração e os mistérios da vida na alma não são segredos exagerados, são os ares das areias do nosso olhar acostumado a se enxergar destacado na multidão, em reforma eterna cheia de avisos de reforma e reconstrução.

Às 14h40 por Rafael Belo na segunda-feira, 20 de novembro de 2011.

sábado, novembro 19, 2011

Nos limites da memória


A trilha sonora mais uma vez é O Teatro Mágico, 'Transição' -do CD A Sociedade do Espetáculo

*(A pequena Panda na vastidão de seu mundo se confunde com a natureza e a natureza se confunde com ela) Foto: Rafael Belo
Por Rafael Belo
Não era a primeira vez. Mas, já não acontecia há uma vida inteira. Mesmo assim sob suas unhas estava uma molhada terra vermelha, suas mãos estavam cheias de cortes e seu pijama do avesso parecia retalhos não costurados. Seu sonambulismo atacara novamente neste fim próximo. Aos 93 anos, firme com pouquíssimas rugas, sua memória falhava ao tentar se recordar da última vez... Até que... Sentou-se. “Meu Deus! Ainda era uma adolescente quando meus pais morreram e acordava noite após noite em busca das minhas referências e ao voltar da minha consciência estava com as fotos deles nas mãos...”

- Ah, Asharo Gen... Qual a busca do seu inconsciente agora? Vou voltar para casa e esperar minha memória recente fazer o mesmo, disse para a madrugada iniciada.

Descalço. Estou descalço. Não só sinto o chão, mas a vibração do silêncio urbano. E... Será...? Será que se eu não piscar não perderei mais nada? Desta vez minha calma não vai mais me abandonar. Não terminarei medicado ouvindo desconhecidos dizendo me conhecerem e debilitarem meu tempo programando minha vida como um microondas apitando miolos aquecidos. Não! Sei e não me sinto sozinho. Agora é parecido... Mas... É outra coisa... Tem a ver com... Quem é você?! Por que estou tremendo tanto...

- Quem é você?! Não se aproxime. Por que não o escutei se aproximando e..., Asharo suspirou profundamente virando o rosto para frente.

Não havia ninguém. Vou fechar os olhos, abaixar a cabeça e olhar novamente. Pronto...! Era novamente meu passado longo me perseguindo em peças noturnas. Nestes meus passos ecoando... Nossa... Eu fiz todos estes buracos na terra?! Por isso tanta dor nos músculos. Não conseguirei competir amanhã. Nada de piscina enquanto eu não me resolver. Há tempos eu não era um mistério... Ah, as mulheres adoravam este meu ar, meu olhar... Chega de divagar! Tire o sorriso bobo do que já foi e se concentre por um tempo.

O que é isso pesando no meu bolso? Bolso? Desde quando meu pijama tem bolso?!

Que frases são estas na minha mente: ‘ Preservar coragem em transição’, ‘Desvalidar o improvável’... Com certeza são versos de alguma boa música. Devo estar dormindo...

- O que este sonho queria dizer..., foi retórico Asharo enquanto caminhava na escuridão de seu chalé até a sacada para procurar as respostas no silêncio. Aos poucos foi balançando a cabeça afirmativamente e abriu um sorriso a não mais sair de sua face.

Chega de fugir. Vou voltar. Meu pé... Ah, Danpa, minha fiel Danpa... Vai voltar comigo para a civilização e a conhecerá pela primeira vez, mas ninguém acreditará na tua inteligência e idade.

Asharo fez as malas e começou a descer as montanhas. Uma pontada atingiu sua alma e ele percebeu ser Danpa a causadora. Ela ficara nos limites das montanhas o encarando e virando a cara em diagonais. Asharo esperou as lágrimas e a compreensão escorrem. Não posso voltar... Certo? Nem para te abraçar... Devo seguir. Me lembrarei de ti?

Quando Asharo seguiu seu caminho. A incrível cadelinha Danpa, que não crescera e não mudara por todas as nove décadas ao lado de Asharo, cavava buracos todos os dias em busca do seu dono e o reencontro entre eles.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Onde está a calma?


A trilha é "O que se perde enquanto os olhos pisca", o Teatro Mágico.



(E de repente  os galhos seguem as nuvens e nós despencamos) FT Rafael Belo

por Rafael Belo

A pressa engole nosso tempo sem mastigar. Mas, mastigados somos nós a ficar atrás desta corrida com a ânsia do mundo torto a nos ensinar a correr para chegar sempre na frente. Nossos ponteiros nunca se acertam e nossos fusos horários vivem em constante pane, já nesta vida vivida para trabalhar. Nosso relógio invisível é programado para nos alertar do nosso cronometrado tempo dividido, multiplicado e somatizado das nossas síndromes diárias do ‘estou ocupado’. Com tanta velocidade empregada nosso espaço fica vago e nós desempregados do viver. Tudo é curto, inclusive o pavio. Por isso, até além da sexta-feira outro estado é procurado... Onde está a calma?

Nas ruas todo o horário é de pico, toda fila é impaciência e cada palavra é reclamação. Em casa o cansaço é rotina, as dores de cabeça companheiras e toda conversa agressão. Como praticar a vida sem calma? Sem consultar os celulares inquietos e as horas atropelando? Se as calçadas não tivessem lixeiras, árvores e postes os motoristas e pilotos dos veículos dariam um jeito de ultrapassarem os adversários outros por ali, os ciclistas ignorariam tudo e os pedestres fingiriam não ser nem com eles... Se houvesse paciência e – sei lá – companheirismo e não competição ilimitada enxergaríamos mais no próximo, poderíamos baixar a guarda...

Mas estamos distantes pensando no dia seguinte, procurando culpados e passando direto pelo dia seguinte. Este passa diariamente enquanto nos atrapalhamos com nossos planos de enriquecimento e por mais mais mais mais.... Nossa ambição nos cega, ensurdece, emudece e regurgita verdadeiros valores simplesmente para vencermos a disputa de chegarmos primeiro ao sinal vermelho. Caso esteja verde, aceleramos mais por uma onda de cruzamentos abertos para afinal vencermos a competição imposta e dormimos...

Lá na linha cruzada nos louros e glórias procuramos do alto os deixados para trás, os espinhos, pedras e o próprio caminho... Era isso nosso futuro? Mas, cadê a paz?! Quem nos tornamos afinal? Onde está o suficiente? Onde estão os sorrisos? Onde estão os sonhos? Onde está a responsabilidade? Onde nós estamos enfim...? Achamos em algum canto o perdido Pequeno Príncipe da nossa eterna infância conhecedor do fato de nos tornarmos eternamente responsáveis pelos nossos cativados? ‘Alguns’ na verdade temem a felicidade, se tornam cativeiros dos sonhos inacabados, cativos de suas horas marcadas e se esquecem de perguntar: onde está a calma?

terça-feira, novembro 15, 2011

Reis tolos


*(a flor da abóbora murcha na verdade esconde a coragem do sol)
Captei no fundo do quintal do serviço, Rafael Belo.
Perdeu-se a coragem na esquina quando a curva da chuva chegou cintilando
nas ruas lavadas de céu noturno leve límpido louvado em catarse
na frase viva ouvida por arrepios adentro no centro de tudo no fundo do olhar do espelho

Centelha estralada do seio da terra molhada na calada da coragem abalada do amanhã
queimando feito fogo falido enquanto o falecido não tem nada de morto
só solto sedado pelo alado selo partido salgado no debulhar do trigo

Colhido silencioso no meio marginal mareado onde se dissipa a sanha
sem manha escondida da contida coragem constipada alastrada em incêndio
perdido na chuva curvada coroada pelo rei tolo tomando tudo como seu

som saindo , alto alvo aniquilador... Caindo na esquina na branquidão onde se arrastava a coragem.

(Rafael Belo, às 22h21 de 14 de novembro de 2011.)

sábado, novembro 12, 2011

Pequenos milagres ao sol

*(...em todas as dimensões a Luz chegou e mostrou o quanto há milagres na vida...) captei nos fundos do serviço na quarta, Rafael Belo.


por Rafael Belo
Ela simplesmente juntou tudo que lhe pertencia – as roupas e materiais passou o mês doando -, respirou em profundidade, ligou o som e deixou correr as lágrimas. Era a primeira decisão de sua vida em silêncio e sem influências de terceiros ou primeiros...  Deixou-se pela última vez deitar debaixo das flores roxas e ver a versão original do sol espreguiçar seus longos raios acolhedores para mais um dia milagreiro. Daria seus primeiros passos no escuro e na solidão em quase 20 anos. Já beirava os 35 e sabia: solitária não ficaria. Quem realmente a conhecia a entenderia e da forma de cada a incentivaria. Estavam com ela, além das lembranças.

Perita em pequenas armas e mestre em Aikido, correria menos riscos de morte pela sua caminhada. Aika Sophia esperava um dia poder ajudar as pessoas a crerem. Mas, como jurou protegê-las quando se formou há 13 anos, o prosseguiria fazendo, mesmo sem a farda. Planejou viver de sua arte de escrever e filosofar por meio da fotografia – seu hobby – e da poesia – sua expressão diária. Decidiu escolher em cada cidade passada uma pessoa coerente e consciente na medida do possível, de si e do mundo. Além de seu quimono, suas faixas de graduação e conhecimento, carregava sua máquina fotográfica...

Não imaginou que o Grande Criador pudesse abençoar sua até que enfim decisão. Quando choveu, no seu primeiro passo fora de casa, seus olhos choveram também – de novo. Era a paz e a alegria misturando doce e salgado em seu rosto no arrepio da sua alma pelo corpo. A alegria nunca foi tão bem lavada. E entre as nuvens e o os raios fugidios do sol escondido coloriu um imenso arco-íris fascinante. Uma revoada de diversas espécies de pássaros pousou ao seu redor e cantou. Em meio a tanta água, Aika Sophia sorriu. Como velho hábito juntou os dedos da mão direita e os tocou como um golpe na diagonal da sua testa sobre a sobrancelha direita e rapidamente retirou: “Sim Senhor, Senhor!”

Recolheu suas coisas da varanda e continuou seus novos passos. A chuva cessou e parecia o fim da manhã. Ficou feliz por ser pequena e se sentir tão imensa – mesmo com seus menos de 1,70m -  media  todas as medidas do universo. Seus pecados foram lavados e agora sabia o rumo certo para seus dons. Quem sabe voltaria a postar na ‘voz do post a libertar’ quando pudesse falar como todos de uma vez na conexão única... Agora o faria um a um até voltar ao todos ser um. Enquanto saia da cidade imaginou como seria amanhã quando amanhecesse e seus post do dia continuasse dormindo...

quinta-feira, novembro 10, 2011

Amarelo formiga

*(polenizamos a vida mesmo na nossa pequenez agigantamos o amarelo) RB
Amarelo formiga

O nariz vermelho reluzia o reflexo da realidade
raiz espelho da fantasia dos outros sobre nós
atados a pequenez agigantada pelo amarelo [identidade
perdida na voz pela vastidão do nosso silêncio a sós

ecoando a lúdica luz lívida no novo ato amanhecido de raridade
rarefeito efeito feito do amarelecer das lágrimas escorridas dia das nuvens

poço raso sem fim da alegria procurada na amplitude da vida em profundidade
a se encontrar no desfocar dos detalhes divinos sem nós
sem sós, de sóis a sóis no desbotar desabrochado no interior do olhar sem idade

brilhando as cores deflagradas do instante inebriante do nosso acontecer.

Rafael Belo – 9 de novembro de 2011, às 7h45.

terça-feira, novembro 08, 2011

Banho de chuva

*(ornamenta a terra o tronco talvez morte de sua origem mas vida para muitos..
Rafael Belo)
Por Rafael Belo
O gosto da chuva parecia querer amargar o fim do dia. Mas, chuva é doce por mais molhados a ficarmos.  Nem o show adiado pelo tempo acabou com um domingo de dádivas. Depois de dias quentes tomar banho de chuva estendeu o fim de semana até o cinema mais próximo e claro, valeu à pena. Mesmo se o filme fosse ruim – o que não foi – o primeiro dia da semana chegou ao fim ainda sorrindo. O Palhaço é uma boa lição. Não é um filme completo, mas ver a atuação de Selton Mello em seu próprio filme com um grande elenco e uma fotografia impecável deixa todo o longa em um quebra-cabeça repetindo na mente.

Não vou contar o filme, mas ‘quem faz o palhaço rir?’ não é um pergunta cuja resposta seja difícil. ‘Se o gato gosta de leite, o rato gosta de queijo, você gosta de ser o quê?’ Quanto ao riso do palhaço sem seu nariz vermelho quem proporciona é a própria escolha de fazer os outros rirem. Mesmo quando nós retiramos nossas máscaras sem conseguirmos retirar os narizes vermelhos, somos felizes em nossas escolhas diárias a nos levarem ao futuro reiniciado a cada minuto chegando e se tornando no próximo minuto, passado? Nada de culpar o tempo, a família, os amigos, os outros antes de pensar bem ‘em refletir’...

Acredito ser no nosso palco da mente onde atuam tantos atores reverberados nos nossos pensamentos e lembranças aquele grande ‘quê’ de definição em uma única escolha para o resto da vida. Como se... Como se não pudéssemos mudar de ideia, errar, cair... É o que mais podemos. Como acertar a mutação constante de ser quem somos sem nos permitirmos descobrir? Desagrilhoar das correntes das limitações não é uma forma fácil de fugir da robotização modernizada dos ‘pensamentos’ nas redes sociais. Não há um decreto divino ou judicial a nos obrigar a sermos apenas uma escolha. Caso houvesse - e até caso o mais xiitas acreditassem – seria humanamente impossível.

Mesmo se os materiais baratos da política – escolhida por nós – causarem danos - como causam – e for decretado estado de emergência, o desmoronar , o cansaço e o engolir da erosão não será o fim. Há sempre tempo de assumir ou rejeitar o nariz de palhaço aceito um dia por nossas cabeças baixas como uma medalha de superação esportiva. Isso não significa desespero, dor e ranger de dentes – pode até não significar nada – mas hora ou outra o tempo se estenderá diante de nós se assim lutarmos para ser. Aí a chuva vira para marcar e lavar nossa alma.

domingo, novembro 06, 2011

No Dia Seguinte

(* o mundo escureceu e tudo remetia a um par de lâmpada fria acesa e todos para lá foram... Captei em uma antiga sala de trabalho. )



Por Rafael Belo

Ele havia rasgado suas roupas e andava com seus próprios trapos. Era do povo, mais um Zé Ninguém ilustre... No entanto, seu plano estava prestes a funcionar agora que chegara a Brasília e parecia se misturar aos mendigos. Toda sua estratégia de dividir e conquistar havia falhado e ele acabara improvisando. Mesmo com o sucesso solitário nas estâncias menores invadidas seu rosto ficara conhecido. Amado e odiado foi se escondendo pelos anos e apagando seus rastros como um cão de longa calda se arrastando pela areia. Foram necessários cinco anos de ausências e perambulações. Seu nome, sua vida não existiam mais.

Méugnin Camaleão... Era assim que as raras mentes ainda lembravam, mas mesmas estas não podiam provar a existência dele. Sua estratégia saia tão perfeita a ponto dele duvidar. Antes e agora. Na Capital Federal, não o encaravam sequer o olhavam... Ele, finalmente, não fedia nem cheirava. Não fora revistado ou impedido de entrar em qualquer lugar da cidade avião. Perambulava invisível feito um fantasma flutuando pelos cantos e só não era a encarnação do silêncio porque podia jurar: “se alguém passar muito perto ou vai ouvir meus pensamentos ou o barulho das sinapses trabalhando...”

Passou o dia analisando. Assombrou o Planalto Central como este cerca os cidadãos brasileiros e ali não havia mentalistas ou sensitivos para vazar informações e espalhar a cidade planejada em 191, 5 milhões de pedaços de pizzas... Cada porta e saída de emergência foi memorizada ao lado dos horários de entrada e saída de funcionários e a troca de guardas. Os mapas de todos os cômodos cintilavam nos seus olhos sem brilho. Decidiu confirmar todos os dados colhidos por mais um dia e marcou os ângulos cegos das câmeras. No dia seguinte, revelou sua mochila e trocou de roupas.

No Congresso Nacional se misturou aos paramentares federais e todos o cumprimentaram efusivamente. Fechou cada porta silenciosamente e em seguida obrigou o presidente da Casa a passar o microfone. Era uma sessão extraordinária, mas todos os suplentes também estavam presentes. Só havia os representantes de cada Estado presentes. Para a ‘sorte’ de Méugnin Camaleão só havia quem interessava. Com armas e bombas ele descreveu a situação e após muitas mentiras vindas dos ameaçados... No primeiro dia fez cada um trabalhar e ler todas as leis. Nos seguintes fez todos aprovarem os projetos engavetados, parados, ignorados.

Algumas semanas passaram e poucas reclamações vieram pela interrupção das sessões ao vivo, mas até estas cessaram. O fato é: o Brasil dificilmente aguentaria tanta bonança em menos de um mês, por mais que a espera tenha durado tanto. E a desconfiança era generalizada, assim como a confusão. Parentes e amigos não chegaram nem a estranhar o sumiço... Era apenas mai um... Mas, eventualmente o descobririam e de fato aconteceu.

Ele passou dias sob o cerco cerrado de especialistas, mas saiu como entrou só que estava de terno e uma pasta. Tinha o dossiê de cada um e o dinheiro de todos... Os bicos estavam fechados. O passo seguinte era depositar cada centavo merecido nas contas dos contribuintes e novamente entrar nos esquecimento, só não passou pela cabeça de Méugnin Camaleão este ser o início do fim e no fim só havia um par de lâmpada fria acesas.

quinta-feira, novembro 03, 2011

Outros portões

(quando as árvores caem as nuvens fazem as sombras até aprendermos
que os portões são outros e iluminarmos... Captei também na estrada)
por Rafael Belo

Depois do granizo cair por cerca de meia-hora, de árvores cederem e materiais serem danificados, amanheceu. O vento ainda estava na memória e os habituais congestionamentos de horários de pico se repetiram em um domingo. O chão havia se aberto pela enxurrada empurrada pelos ventos lá no Nova Lima e ali no São Francisco, Campo Grande se concentrava na Avenida Tamandaré e na Rua São Higino que dão acesso a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Quando passaram pelo congestionamento, candidatos a cargos da Saúde – médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem... – arrombaram o portão já fechado por passar do horário estipulado.

Tanto a ‘nova’ cratera do Nova Lima a indignação dos em cima da hora por ‘n’ motivos tiveram repercussão nacional. Ambos promoveram outras indignações. Os candidatos argumentaram o atraso devido às chuvas fortes da madrugada e a em menor quantidade a precipitação da manhã. Mas, mais precipitado impossível o tal arrombamento que resultou em... Nada. Caso os ‘invasores’ tivessem êxito e conseguissem realizar a prova, aí sim o concurso público seria anulado. Não julgo – nem tenho este poder ou vontade – mas, em todo e qualquer concurso público os editais estipulam a chegada dos candidatos de no mínimo uma hora antes do início das provas. Salvo quem é de fora da cidade, os congestionamentos da região são história há tempos. Seja qual for a desculpa – real ou mentirosa – os que chegaram cedo merecem o respeito... Para chegar na hora, às vezes é preciso mesmo madrugar...

Já o buracão do Nova Lima só me remete aos sentados no poder para enrolar. É visível a má-qualidade do asfalto pela finura dele e os riscos levados aos moradores do entorno. Daí o responsável fala da espera de verba da União de R$ 5 milhões que, se sabe lá por que, não chegou aos cofres campo-grandenses... A espera de recursos nacionais para resoluções locais é um melodrama novelesco utilizado no poder público explicativo de toda cidade ultimamente...! Depois ainda perguntam o motivo do povo não acreditar na política atual... AS eleições chegam novamente em poucos meses e avaliar e escolher com consciência deve mudar a descrença brasileira.

Pergunto para onde vai o dinheiro dos impostos. São centenas de multas por dia em cada cidade, milhares de ‘tributos e taxas’ e a saúde pública precisando ser internada, a educação ainda mal-educada, o transporte segue caótico e o que vemos é ‘investimento’ em saneamento básico e recapeamento das vias das cidades. Que o granizo volte a cair e os candidatos a um futuro melhor a partir do presente voltem a arrombar portões, mas aqueles que resultem em algo: os do Congresso, das prefeituras, das Câmaras, Assembleias, principalmente o de suas Consciências.

terça-feira, novembro 01, 2011

Passado o Amanhã


(o contraste vai do céu a terra e continua no asfalto
 para no horizonte subir novamente... Captei na estrada)
Santa sombra sem sol situante insinua a queda de árvores com chuva de ventos
pedras de gelos caem para assustar e rebelar os hesitantes
de um dia escaldante antes para fúria do céu aos rebentos

depois, se aglomeram os minutos e perde-se o Tempo dantes

arrombando os portões das regras e argumentos
o chão se vai em enxurradas de movimentos, de pois, assim sendo, praticantes
nos guarda-chuvas das razões e temperamentos
até o sol se abrir passado o dia do amanhã
será mais uma manha, passada mania, outro novo esquecimento.



Às 13h49 de 31 de outubro de 2011 por (Rafael Belo).