quarta-feira, agosto 08, 2012

Miniconto - Dois lados iguais



por Rafael Belo

Na intensidade dos sentimentos dos extremos minha bipolaridade me leva a duas pontas desatadas e sorrio e choro na mesma hora. Estou cansada deste vento engarrafado vendido pelos meus olhos e entornado pela minha boca moldada de momentos entregues. Não sei qual minha sobra neste mundo de preços e ignorâncias costurado por uma soma de esquizofrenias adesivadas à revelia nas testas entorpecidas. Estes queixos arrebitados, estas cabeças baixas não sei se estão lá fora ou se estão aqui dentro...

Às vezes meu nome é Joana Espalha outras Maria Junta... Sei me perder nestes pensamentos incontáveis me invadindo aqui em cima... Ah, só pra você saber não estou deprimida... Agora estou... Bem, queria mesmo escrever da altura onde me encontro. A 60 andares em um prédio, sobre o único morro rodeado por arranha-céus, vendo os surtos da cidade e o balançar dos meus pés neste oceano de vazios. Olho e vejo um espelho me devolvendo o olhar...

Pequenos pontos estilhaçados se refletem e pressionam seus egos pelas ruas e avenidas a arranques e desrespeito, só eu saí deste combate não declarado... Mas declaro minha batalha contra eu mesma enquanto o céu me ventila e resfria minha pane do dia. Distante não há como não ver os passos dados, as pegadas apagando... Por isso, aqui me acalmo e conto meus pecados pelas pessoas se tocando e evitando se tocarem nas calçadas sem espaço para pensar. Também a sensação de leveza e liberdade aqui são maiores e talvez só existam neste lugar...

Quando se passa tanto tempo silenciando os gritos, ignorando as vozes intolerantes, deixando a vida te levar, já não há rumo conhecido, pois, todos já foram ignorados, mas todos estes sons sem forma continuam... Continuam... E a cabeça se arrebita e o queixo se rebaixa e o tempo se contrai e relaxa em espasmos urbanos. Deve ser Humano esta dicotomia, estas duas mulheres perdidas em mim, estes pensamentos desavisados, Esta Joana, Esta Maria, Esta na fila dos andares tomando coragem para descer e voltar a enfrentar as calçadas sem espaço para estar.

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