domingo, dezembro 09, 2012

De olho



De olho


Mudava todo dia
luz sombra sinestesia
os detalhes ofegantes ofegavam
distantes, na ponta do olho estavam

o inexplicável e o explicado
congregavam a comunhão
instável lá fora na trajetória da janela

estava o estado das alianças da paisagem, uma tela

sombra luz e movimento afagando a dança
das cores que pintamos da nossa cela.

(Às 15h, Rafael Belo, terça-feira, 04 de dezembro de 2012)

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Miniconto - Parte



Miniconto - Parte
por Rafael Belo

Simplesmente estava lá. Mas, se passaram dias para as pessoas notarem. Só ainda não sabiam se ele esteve o tempo todo naquele lugar ou se todo dia, pouco antes de olharem, ele chegava. A verdade é que nestes dias de surtos mais divulgados achamos ser mais frequente perder a cabeça e tememos entrar em contato com o “desconhecido”. O “desconhecido” no caso era um político. Ocupava o tempo ocioso das sessões para ler e incrivelmente não dormia com tanta monotonia. Nestas leituras, de terça à quinta, descobriu algo novo: a contemplação.

Já nem ia mais as sessões, mas sua ausência nem era notada, inclusive pelos próprios colegas. Tanto o era que na “lista de presença” ele constava presente. Enfim, por algum destes motivos que não cabe a nós reles humanos explicar, o nobre parlamentar começou a passar dia e noite atrás de qualquer autor e livro sobre contemplação. Encontrou um templo budista em Campo Grande onde um monge shaolin (um chinês que meditava dias a fio sem comer e beber e tinha o corpo e a mente de aço) vivia isolado. Aprendeu a se camuflar, a ser absorvido pela paisagem. Percebeu não servir para política por não fazer nada – mesmo que exista aquele aptos para o cargo de nada fazer.

Partiu para a escrita. Prometeu a si mesmo escrever para despertar os detalhes de observar nas pessoas. A contemplação iria triunfar e ele seria o instrumento. Para tanto iria fazer diversos testes. Como dito pelo chinês as pessoas não viam realmente o que estava lá. Cada manhã passava horas nos lugares até uma criança mal cuidada e inconveniente o revelar. Mesmo assim demorava para os adultos darem atenção. Quando davam ele saia na primeira distração. De longe observava mais um pouco e então partia para a próxima parada.

Chegou a Casa onde antes trabalhava. Chegou cedo. Ninguém o fazia. Ficou lá meses e meses. E um dia ouviu alguém tentar se lembrar dele ao conversar com outros funcionários e de repente alguém o viu, mas sem o identificar. Ele não comia e não bebia. Era improvável que em seu atual estado fosse reconhecido. No entanto, ainda queria ver até onde chegaria a multidão de funcionários a ser formar com os rostos, corpos e dedos apontados para ele. Eles entraram e decidiram que sumiriam com aquele louco dali. Viram as gravações das câmeras externas e se assustaram. Perguntavam-se quantos ele havia matado.

Quando ele os viu sair. Sorriu sem saber que seria linchado e humilhado quase até a morte por observar demais.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Como uma ostra


Como uma ostra
por Rafael Belo

Observar parece algo distante e longe da concepção da interação pelo simples fato de termos sempre de emitir opinião e compartilhá-la. Não podemos apenas observar e usar a imaginação para as possibilidades. Por quê? É possível estar no lugar e permanecer ausente. Não é preciso de um analista para fazer um laudo afirmativo e comprovar esta prática humana. Mas, “somos obrigados” pela convenção social a abrir a boca mesmo se for para esvaziar o vazio. A presença não basta. Então, como uma ostra vamos guardando pequenas mentiras ditas a nós mesmos até as pérolas saírem.

Gosto de observar como se fosse parte da paisagem onde acontece a situação diante dos meus olhos e até como se eu fosse a situação. É um exercício integrante da calma. Permite uma visão o mais completa possível de qualquer coisa. Muitos pássaros o fazem. Da janela do gabinete há um recorte do movimento da natureza lá fora. Vejo através janela. A água cai do ar-condicionado e forma um mini-lago lá embaixo. Entre o almoço e o retorno ao trabalho, um pássaro preto saltita silencioso e olhando para todos os lados bebe da água, olho novamente e bebe uma última vez antes de alçar novo vôo.

Como percebê-lo ou aos demais pássaros, principalmente os diversos tipos de beija-flores buscando o néctar das flores lá fora, se estivermos sempre ocupados com algo? Falando, pensando, tentando sempre interagir e participar de seja lá... Nossos supostos silêncios estão na verdade participando de algo maior, mas no meu caso estão criando porque dificilmente vou encontrar palavras para descrever o sentimento de tantas cores e movimentos. O interesse da sombra na luz e o da luz na sombra. Esta dança diária diante de nós é intensa e nosso objetivo é apenas sobreviver mais um dia...?

Absorver a dança da vida da pequenez e a força excomunal da delicadeza de um beija-flor afagando o mundo com suas asas para se manter no ar e se alimentando é algo difícil de se conceber com sonoplastia. Por isso, se como uma ostra guardar pequenas mentiras, poucas horas depois meu corpo padece parcialmente como meu reflexo interno e o incômodo dessa “sujeirinha” se transforma rapidamente em uma pérola oca sem valor envergonhada dentro de mim... Também é bem possível se transformar em algo subjetivo... Porém, se como uma ostra acumular silenciosas observações (como a do pequeno grande pássaro), elas gritam uma pérola robusta e única simplesmente porque vi o que me era possível enxergar através da janela. 

domingo, dezembro 02, 2012

Pontes da gente


Pontes da gente

Na totalidade dos detalhes
se fez a paz nos entalhes 
da longevidade do presente
tranquilamente corrente
na consequente paz
de sair, sem mais,
do caos das grandes e pequenas capitais

Habitadas dentro de nós por extensões de pontes
fontes aos montes do nosso monte sagaz da ternura em sauna
vestindo sobre a pele a alma e por dentro a calma.

(Às 12h56, Terça - feira, 27 de novembro de 2012, Rafael Belo)