quinta-feira, dezembro 19, 2013

Pontos e vírgulas

Pontos e vírgulas
As nuvens tocam a gente
e de repente, somos dissipação

o presente se faz no ausente
e cinicamente as estradas estão interditadas pela indefinição,
da razão

oculta, ocupada, com alguma manutenção
e no foco da velocidade, somos distração

durante toda a jornada, a vírgula perdida
está editada em outra posição

toda construção muda de sentido
a cada perdido nas frases longas, há a respiração.

(às 08h52, Rafael Belo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2013)

terça-feira, dezembro 17, 2013

Usando os pés e tendo fé


Usando os pés e tendo fé

por Rafael Belo

É apenas ir ou vir. Passar ou deixar ser passado. Nessas idas e vindas há outros caminhos pela estrada, mas dirigindo na mão ou na contramão sempre há acidentes e erros de percurso, porém sigo me assustando com a imprudência humana. Um desperdício de tempo na ultrapassagem, na velocidade, na pressa inimiga, na dor de passagem envolvida como mensagem das consequências de muitos atos velozes. Há um desrespeito muito grande nas rodovias, um desprezo disfarçado de descaso pela vida.
Ao chegar às cidades continua o caos, ainda mais naquelas onde sedes da Copa estão sendo construídas. Nelas parece que há ainda de se inventar uma palavra que descrevae a situação, mas por enquanto o caos cabe bem. Sinalização em falta, energia elétrica oscila, água também, fora a corrupção borrifada por toda parte... Um país com as dimensões do nosso, não comporta tantos veículos particulares, ônibus e caminhões circulando por aí, ali, acolá, invadindo pistas, provocando mortes... O planejamento do Brasil não existe, mas sempre que é feito, uma verba desviada aqui ou adiante não permite que desenvolva.
Se tivéssemos aeroportos que não ficassem com os rins em troca de alimentação, hidrovias, trens, metrôs e transportes coletivos em geral de qualidade, o país escoaria sua riqueza, acabaria com distâncias e cresceria realmente. Mas enriquecer ilicitamente e causando efeitos dominós avassaladores “é mais importante”. Quem precisa utilizar o transporte público hoje é obrigado a acordar beeeem antes e acaba dormindo bemmmmm depois, terminando sempre cansado o cidadão. Quem pode ter um veículo particular enfrenta os caóticos horários de picos, a falta de educação, respeito e de carteira nacional de habilitação, além da má organização da sinalização e dos semáforos.
Mais de 40 mil pessoas morreram no trânsito brasileiro em 2010, e apesar de tantas falhas estruturais, a maioria é por falha humana. O trânsito mata 400 vezes mais que o terrorismo ou guerras (segundo dados do site atividades rodoviárias). Circular entre cidades e estados no nosso país é quase uma roleta russa. É ver a morte e a vida se digladiando vorazmente a cada quilometro percorrido em curvas bruscas, velocidade acima do controle, desvios inusitados, freadas repentinas e, principalmente, ultrapassagens imprudentes. Com acostamentos decadentes e até inexistentes, as nuvens baixas parecem nos dizer algo o tempo todo até ficarem cinzas, escuras e dissiparem em chuva. Dirigir pelas estradas e cidades brasileiras dá um novo sentido aos nossos pé e nossa fé.

 

sábado, dezembro 14, 2013

Nem tão fanática (miniconto)

Nem tão fanática (miniconto)
por Rafael Belo

Ela tentou não entrar no estádio. Dias antes a tensão já explodia e sujava toda a cidade. Não era nada bonito de se ver. Era fanática como uma torcedora turca do Fenerbahçe e quando se trata de fanatismo nenhuma torcida do mundo é mais devota ao seu time como a turca. Não tem Flamengo, Corinthians nem hooligans que se aproximem dos turcos. Mesmo assim ela conseguia raciocinar o suficiente, em meio a sua massa organizada de hurros e performances, para se afastar quando a confusão começou e não terminou nem depois de toda a violência ao vivo. Mas mais que sangue, havia ganância tanto na transmissão quanto na primeira provocação nas arquibancadas.

Seu coração pensava mais no momento. Nem toda a estratégia da mente a convenceu e, afinal, era o último jogo do campeonato e já havia um campeão há várias rodadas. Dizem que é preciso seguir o coração. Ela seguiu ignorando todo o grito contrário da mente e seus instintos. Não precisou de 17 minutos para a plateia mudar de lugar e se alguém quisesse personificar a tensão, era ela em pessoa. Os jogadores assistiam do campo. Era o maior circo da terra. Algo como gladiadores no Coliseu. A diferença gritante e gritada era a estranheza por trás de tanta violência orquestrada por uma música de fúria acasalando com Irã e, claro, milhões e milhões investidos.

Prestando atenção ao máximo que podia, ela tremia e quando se deu conta percebeu que não era de medo, era raiva pura e doía. Parecia beber aquilo como se fosse possível saborear ácido sulfúrico goela abaixo. Ela gritava e gritava. Nem os microfones da Bobo (faz bobos) captava. Obviamente não era a única aos berros. Mas se houvesse interesse de divulgar a tradução da histeria comprada e vendida (menos a dela) sairia como uma troca de ofensas em um grande leilão de índios aonde os possíveis compradores davam lances alucinados para obter a terra, a guerra, uma alma e o direito de gritar, além - quem sabe - de comprar alguma rego político...

Toda a selvageria instigada por Roma, ou melhor, romana... Aliás, capitalista terminou passados cerca de 70 longos e eternos minutos. Depois todos se sentaram como se nada tivesse acontecido, apesar de vísceras espalhadas, sangue escorrendo, membros pendurados, dentes perdidos, cabelos faltando e, claro, a nudez generalizada. A briguinha passou como uma pequena marola. Nas arquibancadas brotaram tantas pessoas, que antes nem ali estavam, cadeiras lotadas e mais uma hora e meia de puro entretenimento e gols aconteceram. Para o delírio dos telespectadores. Um belo espetáculo e dizem que depois do depois do depois ainda continuaram as provocações e agressividade comprada, mas tudo que se pensava se resumia a três frases de múltipla escolha eram: imagina na copa (), o jogo tem que continuar () e que torcida distorcida(). As alternativas sempre se são a síntese da ganância.

quinta-feira, dezembro 12, 2013

(dis)torcida



(dis)torcida


Invertendo os campos, o jogo continuou
mas era outro e não era esporte, ninguém avisou

sorte ou azar, alguém contou só feridos
o morto foi inventado, alvo vivo, e jogado nas mídias

e todas as dívidas foram pagas
a economia foi salva na íntegra

porém a integridade já estava além, divertida,
[quem a alcançaria?]

há jogos[havia?] que só joga quem não está jogado [jogatina?]
longe dos donos do jogo, aguados, há a (dis)torcida.

(às 09h42, Rafael Belo, quarta-feira, 11 de dezembro 2013)

terça-feira, dezembro 10, 2013

Ao vivo, a ganância violenta



Ao vivo, a ganância violenta
por Rafael Belo

Para um mundo acostumado a torcer em realitys shows, a ganância violenta transmitida ao vivo na tarde do domingo (09/12), por longos 70 minutos foi grotesca, chocante e absurda. Aos 16 minutos, mal começados entre Atlético Paranaense e Vasco, os jogadores pararam para assistir seus torcedores se espancando em tempo real. A torcida engalfinhada para o mundo contemplando dor e sangue acompanhava pelas mídias digitais o falso boato de um morto aumentando ainda mais a tensão. Mas não foi suficiente para encerrem o campeonato Brasileiro 2013, com tanto dinheiro envolvido, não bastou. O jogo continuou. 

Com resultado de 5 a 1 para os paranaenses, o chocolate em campo ficou em outros planos, o sangue na arquibancada é destaque mundial e serviu para mostrar que a lei 10.671 de maio de 2013 é mais um 171 brasileiro. Uma “solução” que começou a entrar em pauta em 1995, e quase 20 anos depois ainda não saiu, não foi resolvida. Desde então, pessoas são mortas e muitas feridas, com o estatuto do torcedor rasgado. Neste o artigo 13 garante: “O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das partidas”. As provocações já estavam acalentadas bem antes do apito inicial do juiz. Mas fica evidente a função do futebol para emissoras, times e governos. Na época da aprovação da lei, o então ministro do esporte parabenizou a efetivação da lei e destacou: “É importante não apenas para o torcedor conhecer as regras, mas para a economia do futebol”. Com certeza a ênfase é para quem lucra com a arrecadação do futebol. 

Tudo que não aconteceu na Arena Joinville, nem há 18 anos quando começou uma guerrilha em campo, uma guerra campal entre a torcida da Mancha Verde e a Independente na Supercopa São Paulo de Juniores. De lá até agora o problema paulistano, chegou a toda parte do Brasil. Na tarde de domingo milhões de pessoas se aterrorizaram, quatro foram hospitalizadas e três presas. Onde estão os cadastros atualizados das “torcidas organizadas”, cadê a “central técnica de informações” para monitorar o público por imagens? Se estivesse realmente em vigor a lei 10.671 não haveria mais cartazes com mensagens ofensivas, fogos de artifício e nem "cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos". Mas a ganância compra os horários... E os tumultos “promovidos por torcidas organizadas” nem são punidos, pois se fossem, de acordo com a lei elas seriam impedidas de acompanhar os jogos por até três anos.

Que tal imitarmos os turcos e sua federação? Esta obrigou o Fenerbahçe a jogar para uma plateia somente de mulheres e crianças até 12 anos em uma partida oficial de campeonato. Em 2011, no dia 20 de setembro contra o Manisapor, no estádio Sükrü Saracoğlu, em Istambul. A “punição” foi aplicada devido à invasão de torcedores durante um jogo pela Copa dos Campeões da Europa e agressão a jornalistas. A partida teve a torcida diferenciada, mas apaixonada de mais de 41 mil pessoas que não pagaram ingresso e foi aplicada e outro dois jogos. Em todas as três partidas a segurança foi feita por mulheres. Claro, que muitos pagam por poucos e as punições brasileiras (mandos de campo perdidos, jogos sem torcida, vez ou outra...) não são soluções, só intensificam o problema. Deve ser pelo lucro... Mudando de assunto, correspondentes garantem que a torcida turca é mais fanática que a brasileira, argentina... E eis aí a rosa ao invés dos espinhos.

sábado, dezembro 07, 2013

Ele era (miniconto)


Ele era (miniconto)

por Rafael Belo

Ele era uma fraude. Não se transformou em uma. Passou sua vida se vendendo como o bad boy, o malandro, o próprio sumidouro de corpos... Mas, não. Era uma fraude. Pelo menos até agora. Este momento... Finalmente neste momento ele acabaria com toda aquela dor, deixaria para trás toda a fama arrumada, toda a bagagem, todas aquelas pessoas caindo como granizo depois de dias de muito calor e de repente o tempo fechado, as ruas inundadas, a visibilidade abaixo de zero... Para ser quem é pela primeira vez, haveria ainda mais dor, porém, somente dele e de mais ninguém.

Primeiro precisava saber se era um sábado cortado, um domingo apagado ou um feriado não lembrado. Nunca trabalhou nos dias comuns. De segunda a sexta eram cinco dias em branco, mas seus dias eram ou feriados, ou fins de semanas recortados e apagados. Era sua seleção natural de horas diárias junto com sua coleção de dores, que se transformavam em sofrimento e acumulavam debaixo de sua pele como agulhas e navalhas afiadas retorcendo.

Durante cada um dos segundos dos seus 40 anos buscou acabar com seu teatro, com sua peça interminável que, bem, estava terminando em um prolongado agora. Não sabia se era inocente, culpado, esperto, burro, experiente, se vivia de braços abertos ou fechados e esperava se descobrir assim que terminasse com a fraude, assim que descobrisse como deixar de ser covarde, egoísta, porque no fundo não queria deixar todas suas conquistas, mas ao pensar bem ele sabia não ter nunca conquistado nada, afinal era uma fraude.

Portanto, ele sentia um paradoxo das dores detalhadas no inferno, mas em si mesmo. Se sentia por fora açoitado, esfaqueado, queimado e com pregos sendo pregados em todas as articulações e debaixo das unhas, além de ser esticado por cordas em todos os seus membros e cabeça. No entanto, por dentro... Ah, por dentro, ele se sentia afogar, pegar fogo, escorrer em ácido, um mastigar de cacos de vidro e um esmagar sucessivo em seu coração e genitais.

Naquele lugar vazio no meio dos lugares mais abandonados do mundo, conhecido como Deserto Perdido, gritos e gargalhadas se alternavam, como o pior pesadelo das pessoas e então veio o silêncio mais doloroso ainda e ele não era mais uma fraude. Era um sussurro alto demais, um grito mudo ao extremo. Ele era um parto errado. A solidão de não saber quem é.

quinta-feira, dezembro 05, 2013

PROLONGADO



PROLONGADO



Um sussurro agudo, um silêncio grave

muito barulho surdo, as aparências no entrave



toda a água que fluía perdida na represa,

construída na esperteza da vantagem,



a fome virando fumaça, o zelo estrago,

um selo solto, um sábado cortado,



no apego forçado, o email desviado,

direto para um domingo apagado,



e toda a semana clama para ser letiva

não um seletiva fraude, de um feriado não lembrado.

(às 09h34, Rafael Belo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2013).

terça-feira, dezembro 03, 2013

Referências ou fraude generalizada?



Referências ou fraude generalizada?
por Rafael Belo

Não sei se nós, brasileiros, nos achamos espertos demais ou os gringos tem razão sobre nossa inocência e eternos braços abertos redentores. A recepção amistosa, calorosa e acolhedora é a exaltação do nosso jeitinho por aí onde sempre cabe mais um. Um ufanismo que às vezes se mostra às avessas. Ainda mais se considerarmos o farto turismo sexual e a exposição sensual constante pela rede virtual, aliás, atração para os estrangeiros que não acreditam que existam pessoas introvertidas no Brasil, reforçam que beijar estranhos na boca é normal e aqui é sempre festa. Por isso, o preço do combustível sobe pela terceira vez no ano, as promoções esperadas são fraudes e nossa qualidade de vida não corresponde à quantidade de impostos (mais de 80 tributos).

Festa da enrolação aonde entre impostos diretos e indiretos, 40% do nosso salário bruto vai para o Governo, o que equivale ao dobro trabalhado em 1970 para pagarmos toda carga tributária. Depois reclamam da nossa ida ao Paraguai ou da busca de produtos em lugares mais longe no exterior. Na famosa e aguardada black fraude friday bastava ter acompanhado os preços nos meses e, até semanas anteriores, para ver a enganação. Dobraram os preços, cobraram taxa de entrega, frete e tudo acabava no mesmo valor ou mais caro, ou seja, gerou milhares de reclamações no país visto pelo mundo como uma grande bunda e assim ficou a cara dos consumidores...

Além disso, há o problema mais comum na atualidade: vídeos e fotos de exposição e sexo envolvendo todas as idades. Aumentando ainda mais a prostituição e a pedofilia. Dinheiro fácil de um lado, satisfação do outro, traumas e assalto à infância e adolescência, vidas destruídas... Mesmo assim, e com a pornografia sendo o sendo conteúdo mais acessado depois das redes sociais, as pessoas ainda tiram, ou deixam tirar, fotos nuas, filmam, ou deixam filmar, seus atos sexuais e depois (surpresa) acaba circulando para milhares de pessoas na internet e, claro, causando aquele estrago social e psicológico.

Espertos demais de um lado, inocentes demais do outro, os experientes espalhados e os braços redentores ainda abertos sempre a esperar. Parece que a lei de Gérson de levar vantagem em tudo virou um complexo e a facilidade de comprar veículos foi rebatida com o preço do combustível que passou de R$ 3,00 e ainda não inclui os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS. Tudo para nossa estatal Petrobrás desapertar o caixa e abaixar o endividamento. É o país do pré-sal... Salgando a vida dos brasileiros que vão se apertar mais e aumentar o endividamento porque aumenta o combustível, tudo aumenta. É por isso que a referência loira brasileira no mundo continua a ecoar “todo mundo tá feliz...”