sábado, junho 08, 2013

(Miniconto) Bola do mundo


(Miniconto) Bola do mundo
por Rafael Belo

De um dia para o outro o mundo mudou. A bola que já mandava no mundo virou a bola do mundo. Os pés descalços foram calçados de chuteiras. Todos as vestiam. A pátria de chuteiras era literal. A bola era o mundo. A conclusão era lógica. Se o futebol movimentava mais de R$16 bilhões por ano só no Brasil e apenas em ano de Copa mais de R$ 183 bilhões, com o restante do planeta somavam mais de trilhões e trilhões, então decidiram pegar os dirigentes e agentes do time e jogadores da equipe mais rica do mundo e, bem, o mundo mudou.

Toda instituição tinha seus técnicos profissionais e faziam peneiras para campeonatos menores que valiam vagas para médios, que por sua vez premiava os melhores com lugares garantidos nas maiores competições. O ano todo e todos os dias eram jogos. Só a programação esportiva tinha espaço e ninguém lembrava mais como tudo havia começado e qual era a origem daquela votação contínua nos mesmos dirigentes do mundo.

Os leilões eram acompanhados desde o ventre. Quando nascia o garoto ou garota já recebia todo o uniforme que só aumentaria de tamanho ao longo dos anos. As pequenas, grande e médias almas eram vendidas quando bem seus agentes/empresários/pais quisessem e para quem desce o maior lance a qualquer momento durante qualquer competição. Desfalcavam times que desfalcavam times que desfalcavam times... Pessoas desapareciam como bola chutada para o mato...


Mas, como nenhuma bola é uma esfera perfeita. A bola murcha começou a ameaçar acontecer. Um belo dia a bola do mundo realmente murchou. A bola que era o mundo não entraria mais em campo (nem em quadra). Uma bola bomba inicial começou a explodir diversas bolas bombas por toda parte. A maior bomba bola ficava na parte central da sede dos dirigentes. Todo o mundo deixou de ser redondo e se fragmentou em diversos octágonos. A bola fria foi para o octógono. Era o fim da era do mundo da bola.

Um comentário:

José María Souza Costa disse...

Admirável, Rafael Bello.
Entendo que essa mercadoria chamada de futebol, hoje, está mais para lavagem de dinheiro, que para esporte. E a bola, é apenas, e tão somente a ponte, entre a esculhambação e a promiscuidade.
Parabéns. Uma crônica belíssima.
Tenha um fim de semana, agradável.
Abraços.