terça-feira, setembro 24, 2013

Que me perdoe McLuhan...


Que me perdoe McLuhan...
por Rafael Belo
E de repente o coração gela e pesa. Todo o corpo se assombra e arrepia eriçado. Foi um susto. Foi um instante. Bastou à distração para a freada brusca a milímetros do acidente. Não é a toa que manhãs de segundas-feiras cinzentas são ditas tristes. Parecem entristecidas pelo fim dos fins de semanas. Por isso, às vezes, gostariam de nem ser. Talvez por isso o segundo lugar não é uma meta nos estudos e treinamentos. É consequência. Basta um desvio, um segundo para o coração ficar nesta garoa sem cor caindo lá fora com o vento, começando no branco horizonte tombando para um cinza neblinando nos olhos.

É como se para onde olhássemos fosse preciso desembaçar. Mas, dizer que é um dia triste só por ser segunda é brigar consigo mesmo quando um segundo é tão importante e pode ser a diferença entre a vida e a morte, entre o sorriso e a dor, no meio do caminho entre a alegria e o lamento. Condenar o dia gratuitamente é tolice, para amenizar o adjetivo. É criar um escudo de eufemismo para nossas escolhas, com tanta futilidade que exaltamos e elevamos a tanta importância que tudo fica descolorido. Então, protegemos a cabeça com uma bandana preta, só que ela parece ir direto esconder o cérebro e dopar os sentidos para uma viagem alucinógena.

Daí entre o emissor e o receptor cai toda a rede de conexão e as mensagens se perdem. Quando chega todo o meio foi contaminado pela vitimização e nós somos as vítimas de tudo, principalmente da nossa caverna. Perdemos a percepção. Pois, não somos nem emissor nem receptor, que me perdoe McLuhan, somos o meio, somos os mensageiros, somos a mensagem. Qual mensagem interpretamos por aí? Qual mensagem transmitimos? Parece que no meio da fala falta o som, no meio da imagem falta a luz, no meio do sabor falta o gosto, no meio do cheiro falta o odor...

Temos mesmo nossas extensões na tecnologia como acreditavam McLuhan e Steve Jobs? Sou mais o belga René Magritte: Ceci n’est pas une Pipe. (Isto não é um cachimbo.) Que causou polêmica no final da década de 1920 ao afirmar o óbvio ululante. Parecia literalmente inspirado em Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que seja a fingir que é dor/ Dor que deveras sente. Representar algo não é ser algo... Não há dúvida nisso. Mas, então porque fingimos tanto sermos dores e cachimbos, se na verdade não sentimos quase nada e não fumamos? O que isso representa? “Certamente” não a mim. Enquanto isso, o suposto tempo triste avança pela segunda-feira.

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