quarta-feira, março 12, 2014

Fantasia perdida (miniconto)



Fantasia perdida (miniconto)
por Rafael Belo

Ela estava catatônica. Tão silenciosa por fora, para fora... Obrigando, vez ou outra, alguém se aproximar para sentir o ar entrar e sair. Mas esta respiração acontecia tão len-ta-men-te... Ins-pi-ra... Ex-pi-ra... Pareciam horas passar entre a troca de ares, a oxigenação. Era quase um coma induzido, mas o único acidente ocorrido havia sido no coração. Colombina nunca quis saber de Pierrô, nem sequer se envolveu com Arlequim. Este Carnaval passou há tanto tempo. Eram todos crianças. Ninguém amava desse jeito ainda. Mas, o coração de Bina se quebrou quando seu amado, Valete, a descartou e, pior, caiu pela janela...

Dor. Profunda e angustiante dor. Dor de Amor. Para Colombina, não havia mais carnavais nem haveria. Bina sempre detestou a folia. Bem, sempre não, quase sempre... A trocação desavergonhada de saliva começou quando viu, ainda naquela infância de Pierrô e Arlequim, seus pais Dama e Coringa, trocarem de mãos bobas como se estivessem em um carteado viciado em Las Vegas. Em pleno baile de carnaval... Desde então, além do trauma, ganhou alergia a confete e serpentina. Bina se sentia como a Jardineira vendo Camélia caindo e morrendo em dois suspiros. Espirrava sem parar e se coçava, mas era a primeira vez catatônica...

No entanto sua expressão era de um analista se divertindo. Havia felicidade e nostalgia naquele rosto. Parecia ser Benjamin Button e na semana sem ação aparente, ficava cada dia mais jovem. Se parassem para olhar nos olhos de Colombina, Bina estaria lá sim. Até enxergava a preocupação e as pessoas cuidando dela. Mas se olhassem bem mesmo, veriam brilhos intensos e até as lembranças piscando como se Bina fosse Chiquita Bacana e continuasse a fazer só os desmandos do coração. Ao entrar no estado de choque, a mente dela a fez vislumbrar cada detalhe das lembranças.


Por esta semana, Colombina estava dentro de si. Bina transplantava um novo coração de seus outros mundos e tudo terminaria no sétimo dia. Ela dedilhava os detalhes dos detalhes dos detalhes... E pedaço por pedaço começava a voltar ao mundo onde estava os outros interessados no olhar dela. Ao redor do corpo de Bina tudo estava vermelho. Fragmentos da dor passando, pareciam vibrar, expandir e contrair, mas só era possível ver se prestássemos bastante atenção. Todo seu coração quebrado estava em pedaços espalhado pelo chão. Estavam parando enquanto ela não.

2 comentários:

José María Souza Costa disse...

Olá, bom dia. Bom tudo, para você.
Vim lhe cumprimentar nesta quarta feira com o meu sentimento de amizade e de contentamento. Desejar-te: Paz e paz.
Um abraço.

Dione Bello disse...

Li o miniconto.Está bem interessante.No carnaval tudo é passageiro mesmo,até o amor.Mas,hoje quero dizer-lhe que Jesus vai restabelecer a saúde de seu com certeza.Acredite,beijos.