segunda-feira, março 03, 2014

Síndrome das alegorias

Síndrome das alegorias
por Rafael Belo

Cerca de 600 anos Antes de Cristo, o gregos já caiam na folia. Com muito mais orgia do que nossa atual vã hipocrisia pode aturar. Cerca de mil anos depois a Igreja adotou a data e há quem diga que deu o nome em latim carnis vallles. Daí não precisa ser especialista em nada para juntar dois mais dois. Os prazeres da carne ou adeus carne. O período anual para ter toda a gula possível nestes dias chamados “gordos”. Depois vinham os dias “magros” de penitência e privação. A Quaresma. Os 40 dias para parar e pensar nos excessos e, antigamente, se privar da carne. Todas as cidades brasileiras tinham seus festejos carnavalescos regionais para extravasar antes de pedir perdão até chegar o séc. XIX e Paris espalhar seu estilo, adaptado no Brasil, mais especificamente na região carioca/paulista, e exportar para o mundo. Começa aí a síndrome das alegorias.

Resíduo do nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia porque não poderia deixar de dizer que todo carnaval tem seu fim... Brincar de ser feliz, pintar o nariz, se festejar e alegria, alegria... Depois... Bem e depois? Não pensamos no depois. Queremos viver agora porque, gritaria Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada.  Mas parece haver em nós este gene milenar de ignorar toda a ética e moral imposta pela Igreja adotada e lapidada pelos atuais poderes. Os gregos que confirmem. Então, parece que viver é se entregar a bebida, ao sexo e saltar todas as barreiras sociais, morais, espirituais, físicas... Para atingir o recorde dos recordes olímpicos e mundiais da ressaca moral.

Por isso, quando chega a Quarta-feira de Cinzas, a lembrança de que voltaremos ao pó, o enterro-dos-osso, as sobras do Carnaval, realmente vem o chamado do arrependimento? A vontade de penitência e reconhecimento dos erros cometidos? Posso estar bem enganado, como todos nós, mas a maioria segue o Carnaval pelo resto do ano ou começo deste. Então, entra na avenida da culpa/remorso/tô nem aí/sou assim mesmo, resíduos dos dias “gordos”. O reflexo gordo e do “tudo posso”. Com suas comissões de frente especializadas na busca pelo próximo Carnaval.

O reflexo gordo segue guloso, mas tentando não ver o espelho onde devorou tudo o que podia e, principalmente, tudo que não devia. Segue tentando devolver o passe-livre e todas as memórias dos últimos três a sete dias de vale-tudo. A não ser que tenha a doença da amnésia alcoólica... Já o “tudo posso” saí contando detalhes do libera geral que promoveu e continua promovendo, às escondidas, em toda oportunidade ou as vai criando conforme exigir seu prazer. Claro, existe áreas cinzentas e as derivações das fantasias de Carnaval, só para depois negarmos sorridentes: brasileiro não é só folia, peito e bunda. Ah, não, somos muito mais... Um povo que ri quando deve chorar. Afinal, chorar pra quê? Vamos cultivar os espinhos para virarem sementes puras e os soprarmos ao vento.

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