sexta-feira, abril 18, 2014

Para Clóvis, era o primeiro bom espelho (miniconto)


Por Rafael Belo
Os soluços não foram engolidos. Simplesmente pararam. Suas faces vermelhas estavam inchadas como seus olhos. Havia aquela sensação de leveza, mas ele sentia não ser suficiente. Chorar não era suficiente. Sentir não bastava. Falar era apenas terapia para a mente e até relaxava o corpo... No entanto, Clóvis quase sentia ser questão de vida ou voltar a ser zumbi e isto... Ah, isto já começava a dar pânico em Clóvis até o abominável suicídio fez uma visita oportuna a sua mente. Rápida. Perturbadora. Sem som, sem vontade própria. Então, Clóvis se levantou e se deu conta: precisava agir já.

Clóvis lembrava lamentos, mas não se lamentava. Agora, enquanto agia freneticamente. Já visualizava seu futuro. Nada de se instalar permanentemente. Seu lar estava limpo. Era um templo. Podia ouvir tudo. De qualquer plano... Sentia-se protegido e encorajado. Estava lado a lado com seus sonhos e, sabia, seriam realizados cada um ao seu tempo. Bastava seguir agindo sem parar... Parar, pararia, mas apenas para ouvir e Clóvis queria ouvir muito, portanto seu modo de ação seria diverso. Queria muito também o silêncio e, para isto, precisava plantar mais paz.

Paz estava em repartir, compartilhar. Clóvis distribuía rosas e abraços. Os abraços eram para todos as rosas para as mulheres. Gostava de ver surpresa e gratidão nas pessoas. Mas, o atraia mesmo os sorrisos. Eram tão autênticos e luminosos... O faziam chorar. Seu choro alegre comovia e as pessoas também reagiam a isto. Ele só pensava uma coisa: este foi o dinheiro mais bem gasto da minha vida. Este sim é um investimento. Na sensação das pessoas... Este vislumbre de felicidade desamarrando rostos e reproduzindo alegria. O primeiro bom espelho...


Em busca de ser o distribuidor dos bons espelhos, saia atento às ruas. Queria se livrar dos bens. Mas não queria mídia. Nada da imprensa no seu encalço. Afinal, bem feitores deve ser anônimos. Bem fez. Clóvis não precisava se identificar e nem queria. Poucos entendiam seu desprendimento. Mas havia quem bem entendesse. Em pouco tempo virou lenda urbana. Diziam por aí existir um pessoa com um aura feita para fazer sorrir e ela sabia de alguma forma a necessidade de cada um e ele tirava dele próprio. Assim, realmente era Clóvis, a matriz dos bons espelhos. Refletia luz e dropes de alegria. Morava em si mesmo e no coração as pessoas.

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