sexta-feira, outubro 31, 2014

Aliciadores – Rafael Belo

Monarca, ditador, aristocrata, diplomata, sociopata, psicopata todos exibem uma aura áurea magnética democrata, mas nos atos da cinética se revelam verdadeiros primatas lutando por espaço pela força disfarçada de esperteza lá nos cantos da inteligência há uma essencial cibernética e todos os modos da robótica sob uma ótima sobretudo de um absurdo de provar o sabor. Ela e ele se lambuzava em seu achado.
Cada um de um lado. No controle acima de qualquer coisa como se fosse possível viver sobre uma torre vigiando os passos dos atores sociais até o acumulado ralo dos dissabores entupir e o descontrole submergir até explodir e emergir no meio de um surgir de fatos ligados a um passado não contado, saboreado como a delícia do deslumbramento, desmembramento dissimulado nos pecados escondidos assinado por ele e ela entre as linhas de um papel documentado.
Interligados eles adoeciam a carne, a mente, a alma e os corações carentes ficavam ardentes a um toque da pele. Latentes, eles pulsavam em uma distorcida sintonia sintonizadas, apenas por aqueles dispostos a escutarem esta avenida, esta via de trato empoeirado, varrido para baixo de algo qualquer feito apenas de malmequer sem sequer imaginar outras ruas e becos por qual se pode passar. Ela e ele se envolviam com seus mais sombrios lados.
Médicos e monstros acordados nos becos adormecidos insinuados como profissionais da morte, como demônios mal escondidos no oposto do bem. Ele e ela arriscavam a vida arisca para riscar a morte, consorte deles mesmos. Destruíam as prisões para a liberdade deles imperar na dúvida de quem não quer se culpar e se posicionar. Eles eram a crônica liberdade aguda e mórbida sem ética, sem moral, portanto sem lei, apenas o livre-arbítrio intenso de impor no tenso modo aliciador e cooptar... Qualquer alma do nosso lar.

quinta-feira, outubro 30, 2014

psicopata


algo maior nos arremata, mata nossa vontade acrobata
e os desafios retornam desvios estigmatas
ferindo nossa forma aristocrata
de nos pintarmos democratas
quando nos anunciamos monarcas
só para enfeitar nosso adorno ditador
deixando marcas na grama proibida de ser pisada, estaca

querendo do outro o sentir do nosso sabor
escada da dor de provar estar certo, primata, para o outro mentir nosso incerto, psicopata.

(Rafael Belo, às 06h47, quarta-feira, 29 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 29, 2014

Medidas de conduta – Rafael Belo


Nossos desafios diário podem estar em algum itinerário da fé ou simplesmente ser o que são. Aprendemos todo dia algo, queiramos ou não e acredite não há como agir da mesma maneira diante de problemas diferentes. Não é possível tratar com o mesmo remédio diversas doenças da alma, da carne, da mente muito menos com as mesmas dosagens. Temos o livre-arbítrio e só lembramos dele quando nos é conveniente porque preferimos nos esgotar em achar a quem culpar.

Culpamos o divino, o sobrenatural, a providência, o parente, o amigo, o colega, o outro...  Nunca a ação é reação dos nossos atos, quem, senão nós, é responsável pelo que fazemos? Respondemos pelos nossos atos a não ser quando somos incapazes ou assim considerados, mesmo omissos temos nossa culpa, mas quando somos coagidos a situação é diferente, porém em um mundo com tanto acesso as mais diversas visões e informações, a maior parte do tempo é questão de preferência.

Preferimos vestir responsabilidades que não nos dizem respeito, despir a humildade ausente em nós e nos diminuir cada vez mais na nossa soberba disfarçada de vítima. Criamos uma fachada tão bonita de nós mesmos que logo falamos de nós mesmos na terceira pessoa do singular. Vivemos procurando desculpas para nossas faltas e nossos exageros e seguimos os mesmos erros esperando, por milagre, ser um acerto da próxima vez.

Deveríamos ser seres evoluindo, mas colocamos nossa própria fé para guerrear com a crença alheia para provar qual é a verdadeira. Está aí nosso problema, queremos estar sempre certos ou provar sempre que o outro está errado... Vivemos feridos, machucados por nos darmos importância ... Demais.  Nesta mania vazia de querer fazer parte de algo maior... Com qual intenção? Brigamos por política, gosto e religião por qual motivo? Imposição e falta de argumentos transformando nossa liberdade em prisão.

sexta-feira, outubro 24, 2014

Retrovisores quebrados (miniconto) – Rafael Belo


A cachorra deles só observava com a humildade de quem sabe o que vê. Sem falar sem latir, impedida de aquilo expelir. Havia uma dor subindo em seu peito, dela não da cadela, e pelo jeito do outro sujeito, ele também a tinha. Nenhum andava na linha ali. Ela não era ele, ele não era ela, eram no máximo estilhaços amargos de uma antiga janela. Ainda desta forma, a “reforma” não impedia... Faltava ar... Era uma ausência de espaço. Corria um abafado mormaço, mas não se admitia o ir e vir percorrer a possibilidade de não existir rancor. 

Sonhador... Sonhadores... ambos olham pelos retrovisores sem querer deixar nada para lá. Deixados para trás, simultaneamente, sorrateiramente destorcem os braços torcidos e todo argumento distorcido é devolvido no momento desenvolvido para patinar, para permanecer sem continuar.  A cachorra deles estava atenta como se tivesse algo a dizer, prestes a contar.

Vai prevalecer um gosto de cru fígado da boca a face, disfarce imposto retroativo cobrando devagar as rugas e o tempo onde a pouco nem o existir existia, aonde a cachorra deles ficava com o olhar fixo esperando para mostrar conhecimento, mas resistia. Um ou outro, à revelia, substituía a brancura do rosto pelo envergonhado corado... Insistia em se pintar além do devia e o fazia.


A cachorra deles só olhava como quem dizia estou com vocês e para não se perder também se doloria, a dor dividia o passado em nostalgia enquanto doía ainda e aquilo subia, porém, se repartia para espalhar. Eles dividiam o peso e tentavam não ter desprezo pelo bocejo que a vida lhes dava. De repente chovia e ambos queriam se molhar. Foram para chuva sem parar. Quebraram os retrovisores, mas sempre havia os defensores do caco ajudando para trás olhar.

quinta-feira, outubro 23, 2014

estrábicos

nega a leva levada amargurada nos lábios,

esporádicos nos beijos do rancor,

maldosos comentários às costas mágicas respostas no desnecessário pudor,

cardápios de preconceitos expostos nos conceitos póstumos do preço tabelado pela dor,

imaginários divisores nas fronteiras do amor, levantados fortificados pelo desamor azedo do verde abacaxi incolor,

piorando a vista extrema de leste a oeste ao mesmo tempo no dissabor, experimentando o aparato rasgados trapos do vestiário da moda do televisor,

galopa toda a visão estrábica míope com astigmatismo latente sem corretiva lente do indicador, bicas retorcidas alusivas aos mitos de algum previsor, de limite palpite requinte daquele solucionador que professa confessa conversa, o verdadeiro Professor.


(Rafael Belo, às 14h37, quinta-feira, 23 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 22, 2014

E os dois? (miniconto) – Rafael Belo


Mastigar as mais fortes pimentas para provar que aguenta e tentar gritar arrebenta ao estado de estupor pensando dar valor ato agregando coisa nenhuma. Todo o rancor negado, falsamente arquivado no amargor isolado na ponta da língua, solta, louca para encontrar boi na linha liberando fogo pelas ventas feito uma tormenta sem direção e lá eles estão. Ele e ela a subir o tom xingando até quem experimenta jogar terra ou água para apagar, mas o desabafo revoltante é tão picante que nada vai adiantar.

Ela e ele a se esgoelar quebrando vidros e janelas até sangrar. Podem falar sem parar, levantar a placa do juízo final chegando nas esquinas de qualquer lugar, pois perdendo ou ganhando as escolhas erradas os vão matar. Não por serem escolhidas, errar é grande parte da vida, mas por insistir em guardar este estoque de veneno no palavrório verborrágico golpeando sem parar um adversário inexistente porque no mundo só enfrentamos a gente.

Eles eram complementos calados, equivocados ao deixar passar sempre em branco aquele brilho nos olhos se transformou em banto. Reclamações de canto em canto até o olhar ficar fosco. A sessão do dia termina como tudo começado, pode até parecer ensaiado, mas quem vai saber... O importante é entender o recado, diz ela para você, mas é preciso entender diz ele sem se perder. Por quê não fala abertamente claramente seja lá o ser do seu dizer?

A pergunta conjunta saiu moribunda, já caquética. As vozes do casal, antes atléticas, estavam mais para patéticas porque aos gritos ninguém consegue conversar. Escutar, todos escutaram, mudaram o itinerário ou por medo ou pelo ouvido curioso sedentário naquele jeito patente de viver permanente provisório. Complexo do simplório acreditar no adivinhar do outro, óbvio... 

Sim é evidente o satisfatório temor de ser. Devorar-se sem decifrar a esfinge, aquela que finge ser reflexo do espelho, de joelhos a implorar pelo enigma desfeito pelo defeito de guardar o pior e aguardar para espalhar o mesmo. E os dois, sem rancor ou amargura, ficaram assistindo a certa altura, sem ninguém perceber que não estavam mais dentro da reação daquela inventada discussão e foram embora sãos, ao longe.

terça-feira, outubro 21, 2014

Alucinante


folhas são palavras escravas do amargo dos lábios
queimando a língua diluída em pimenta, ninguém aguenta
mordê-la mesmo em pedaços vários,
e sangra rancores em ouvidos desavisados, pavores vagos,
espalhando veneno em um jogo, “autopirofagia” de um fogo-fátuo
alimentado por almas corrompidas, pela própria ida da vida à gosto

descida do oposto de provérbios,
perto da seriedade onde ninguém é sério, além do instante e faz questão aviltante de um óbvio picante refrescando os olhos dos outros.

(Rafael Belo, às 10h42, segunda-feira, 20 de outubro de2014).

segunda-feira, outubro 20, 2014

Incêndio de folhas (miniconto) – Rafael Belo


As palavras atravessadas no cotidiano atravessam diariamente a garganta e ensanguentam os ouvidos profanando as horas sagradas onde se calar era a melhor opção. Mas, não. Há de se desembestar o particular sentimento para o coletivo... O rancor é o amargo da língua queimando este veneno guardado como um prato gelado da pimenta mais ardida do mundo: Trinidad Scorpion Buch T.

Na falação daquele falso perdão dado, daquele ocorrido enganadoramente esquecido, as pessoas oferecem punhos, balas, pedras, lâminas afiadas e o que tiver à mão para bater... Nada de dar a outra face. O comportamento cristão enraizado em todas as legislações do mundo ficou restrito por lá, a reduzidos grupos, aos cultos, missas e a bíblia... Além das aparências e os sussurros quando aparecem as costas.

Rastejam pelo tempo esperando a oportunidade para revidar e continuar a beber do amargo da vingança, sem qualquer esperança de um dia aliviar. Ao avesso, se vê um peso cada vez maior envergar criando corcundas que apertam o peito de um jeito parecido com as reminiscências da morte forjada a todo instante... Ao invés da alegria, a infelicidade e a dor em um apego acorrentado a tudo inválido de pena.


O prazer de divulgar a própria dor mesclada a deduções e especulações mastigando aquele Trinidad Scorpion Buch T. como Trindent mascado, sem saber que para perder o sabor picante desta pimenta é preciso diluí-la 1,1 milhão de vezes em açúcar e água... Ainda assim, a amargura e o rancor serão cuspidos em forma de fogo virulento em seu mundo de florestas secas e total falta d’água.

sexta-feira, outubro 17, 2014

Distração (miniconto) – Rafael Belo


Bastou uma fração de segundo e o fluxo estava obstruído. Carros batidos, corpos estendidos, motos, caminhões, coletivos passivos em largas e estreitas ruas. Ativos na distração. Todos culpados por afetação e indiferença aguda. Afetados pela endemia da pressa, agora não iam a lugar algum. Foram obrigados a parar e bem neste momento não queriam se distrair.

Bastava um minucioso olhar para ver tudo interrompido. Parados gritavam e nem queriam entender. Não queriam estar ali, eram movimentados, quase corredores, queriam chegar. Toda esta vontade conjugada em uma educação inexistente estava passada no passado. Iriam esperar. Como uma reação em cadeia, cada canto da cidade estava sem contorno.

Tão atravancadas as passagens se mostravam. Rua, becos, calçadas, pontes e travessias congestionadas. Não passavam pessoas quem dirá bicicletas. Se os sons grosseiros fossem tirados parecia uma pausa. Estátuas vivas urbanas. Mas o silencioso é precioso demais para as pessoas manterem e se acaso o tivessem não saberiam partilhá-lo, distraídas o engasgariam com qualquer som.


Então, aquela imensa confusão de transportes e gente parecia um leilão absurdo aonde quem entendia menos ganhava mais e podia arrematar uma coisa qualquer pra si. A “paz” virou guerra devido a um indigente, metido a inteligente, ter estacionado seu luxuoso carro atravessado na rua... Simplesmente para conversar com um outro debruçado na janela do motorista. Este não parava de falar, então olhando bem, tinha gente de todo tipo no celular, voltaram a se distrair e a se desculpar... Estava tudo de volta ao mesmo lugar.

quinta-feira, outubro 16, 2014

For


no tropeço esqueço meio 
fim começo, só há recomeço na contínua história do humano texto disfarçando pele em pano e improvisando todo o contextos das coisas factuais nas costuras e fatos tais em um enredo feito de destino e fado no silêncio ralo crescendo na língua como calo em sais, me calo denso penso na distração das digitais e talvez em algo mais, mas são tantos pensamentos fundamentais que os bocais se alargam e perdem toda a raiz, vou longe no voo do horizonte, levando telas de sentinelas levanto todas as janelas e as palavras forma pinturas, estilhaço as alturas em qualquer contenção de espaço, dilato meu tempo e não sou dono de matéria alguma nem pertenço a mim mesmo, convalesço fragmentos e sei quem sou, inteiro, seja o que for.


 (Rafael Belo, às12h09, quinta-feira, 16 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 15, 2014

Sensação (miniconto) – Rafael Belo


Ia tão distraída a noite que o sono se perdeu entre um vapor e outro no mormaço que preencheu o mundo. Imagina o calor do quarto... Uma sauna noturna sem sol para um casal querendo se Amar, mas o toque era um suor repelido por todos naqueles dias extremos, então era uma atração disposta a se cansar de tanto tentar resfriar aquela gente quente.

Nada de vento, brisa ou sopro, era tudo deserto e deserção. Estava tão quente... Tão quente... A ponto de ele nem ser ele mais. Ela não se continha. Ia e vinha. Se molhava e agoniava. Tão agoniada estava... Secava antes mesmo de se molhar naquela sequidão fazendo evaporar até o que não era água. Animados e inanimados derretiam. Todos sentiam o próprio ar queimar.

Depois de tanto fogo ninguém era quem era mais. Ele acordava de um sonho longo com seus queridos mortos. Ela dormia abraçada ao chão perto o bastante para se tocarem sem suarem. Foram para o ladrilho para aí sim apagarem mesmo ainda em brasas. Nem era dia ainda, mas na medida do possível o ladrilho estava “frio” o suficiente para recuperarem o sono perdido dele. Parentes falecidos o acolheram no sono como premonição.


O presságio o fez parecer gostar de dormir no chão como muitos daqueles que já entre nós não estão. Só assim dormia ultimamente, na verdade, depois de horas tentando na cama frigideira desceu, se ajeitou, apagou...  No “sonho” os falecidos faziam campanha para ele ir embora da cidade assim que possível e comiam os salgados favoritos quando em vida. Acordado ele mantinha a sensação de ser um deles, o pai, até se comportou como tal, depois voltou a dormir finalmente como ele mesmo.

terça-feira, outubro 14, 2014

Sem sinal


distraída distração arrependida
largada gripada sem torcida
entre uma arquibancada cheia de nazistas
e uma celebridade idolatrada desconhecida

a web é tão precoce, tosse insistente fúria da aglomeração
espirros estridentes contaminação

maltratados passos descalços nas pedras
poeira superficial criando um deserto artificial
cobrindo ouvidos e olhos em todas as eras

era quem somos, pequenos deuses sem sinal.


(Rafael Belo, às 15h58, segunda-feira, 13 de outubro de 2014).

segunda-feira, outubro 13, 2014

Pequenos deuses – Rafael Belo


Sempre com um passo atrás e outro adiante ficamos congestionados como uma gripe maltratada retornando a todo momento e de tanta distração procurar, ficamos distraídos e doentes. Hoje somos a distração, somos a própria doença que combatemos constantemente achando sermos a resposta e a termos também, feito oráculos superficiais do tempo.

Proprietários de fragmentos de conhecimentos e informações temos ilusões de grandeza e de fato achamos dominar. Somos farmacêuticos, juízes, intérpretes e jornalistas. Indicamos os “melhores” remédios para qualquer dor, afinal temos todos o mesmo DNA, a mesma genética, enfim cada característica que nos diferencia na verdade não existe. Nos atropelamos nos acontecimentos...

Escorregamos na superficialidade dos fatos sem cronologia, sem antes ou depois... Quem dirá as consequências... E apontamos o dedo, culpamos, esbravejamos condenando seja lá quem for. Costuramos um fato aqui, uma ideia acolá e uma informação mais adiante e pronto temos provas taxativas para tachar qualquer situação, histórico e pessoa. Somos tão autossuficientes. Pequenos deuses...

Nós, então, interpretamos nosso tempo e sempre que o resultado é diferente daquele do qual tínhamos certeza e provas, não era bem assim e ganhamos o Oscar de melhores intérpretes, porque sempre com um passo atrás e outro adiante vivemos no limite da dor da nossa abertura abusando das nossas extensões tecnológicas.

Viramos parasitas delas e elas nossas hospedeiras. Olhamos para frente pela primeira vez e nos chocamos com os Cabisbaixos. Somos um deles. Vivemos na ansiedade dos próximos whattsapp e das próximas postagens. Tão famintos e sedentos a ponto da perda ou esquecimento do celular ser perder a nós mesmos ou basta cair o sinal.

quinta-feira, outubro 09, 2014

acento


palavras saem pelas orelhas
transbordando abracadabras por todos os poros
com sílabas morenas neste palavrório pelos olhos

fonemas provisórios dedicados a semitons
enquanto consoantes marrons se destacam sem sons
reprimidas pela falta de emissão, mas há o tom
engolido como bala presa na garganta

e toda extensão parece vazio vocal
solto na língua sem qualquer semântica

entendendo a mentira em acento vogal.


(Rafael Belo, às 19h02, quarta-feira, 08 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 08, 2014

Favor (miniconto) – Rafael Belo


Faz um favor? Finge que não estou e finge em silêncio. Não quero ouvir nada a não ser meus pensamentos e as mentiras contadas por mim no eco, assim, dos próprios fingimentos feitos quando não escuto só solto monossilábicos com os lábios fechados e as narinas em movimento. Esta hipocrisia acumulada...

Vai, é só como um prato de alimento da imensa satisfação a um faminto destes que não tem uma decente refeição desde onde alcança a própria imaginação. Minta para si mesmo... Por que não? É só uma continuação da tua história inventada para se forçar na mesma estrada, esburacada repleta de retornos e estorvos...

Esta onde tua vontade é despedaçar, acabar com o asfalto e deixar o medo retornar.  Sempre com pressa nas desculpas a se amontoar como o pó daqueles amigos que tu não vês porque te dizem sobre tudo aquilo necessário escutar e não te agradam como os colegas. Então se esconde e deixa esta poeira barrar teu brilho...


Mentira este teu trajeto trágico onde você se faz de mágico, mas na verdade não consegue criar uma simples ilusão, padece de sinceridade e sente a dor da mentira ao redor, da maquiagem ao protetor solar e quando tu mesmo mente parece mastigar uma mistura de pregos enferrujados e vidros quebrados com pimenta Ghost Chilli, Zaqueu... Agora posso quebrar o espelho e parar de falar sozinho. Deixa as mentiras descerem na pia e chegarem ao próprio ninho.

terça-feira, outubro 07, 2014

Fantasia


a vida vinha vacilante amassada
tropeçada como pedra no caminho
foi atirada, sem aprender a voar de seu ninho,
sem carinho, amargurada, tomou um gole de absinto
sinto ela embriagada virada para seu outro lado...

Errado, era tudo mentira a vida segue a mesma estrada acompanhada do sol forte à pino
projetada para um futuro nada sem a jornada [do caminho]
é fantasia uma via vazia, hipocrisia
de todas as partes envolvidas na travessia
a vida fantasiada é só mais um baile da burguesia
pode se embebedar de ego e martelar seu último prego, é profecia.


(Rafael Belo, às 19h42, segunda-feira, 06 de outubro de 2014).

segunda-feira, outubro 06, 2014

Sinceridade? – Rafael Belo

Pesquisas indicam que a maioria das pessoas mentem e as demais ou não responderam ou estavam mentindo... Há diversas maneiras de mentir e o grande bicho papão das mães de antigamente era dizer que não havia pequenas mentiras... Aliás, elas mentem muito para manter os filhos na linha mesmo esta sendo um dos cernes da religião e uma das referências do Pai da Mentira, portanto ser considerada pecado e antiética não mudou muito os cristãos, protestantes e cidadãos incorruptíveis.

Eu prefiro me silenciar, dizer preferir não responder a mentir, claro, já menti (várias vezes) e luto diariamente para não repetir o que vejo como uma atitude desnecessária, desrespeitosa... É dito que a sociedade precisa mentir para socializar, psicólogos afirmam ser pela harmonia, mas vejo que socialização e harmonização viram do avesso justamente quando é descoberta a(s) mentira(s).

Há um desconforto por parte da pessoa indisposta a ouvir sua sinceridade por mais que se diga disposta... Mas se você não assistiu Liar Liar (O Mentiroso) e chorou de rir diante de Jim Carrey deve assistir o Candidato Sincero com Leandro Hassum, inspirado justamente no primeiro. Vale a pena, apesar do excesso de palavrões, justo estes que proferimos a bom som ou mentalmente quando somos vítimas de mentiras.


Sempre acrescentamos mental algo dito, é fatal... Posicionar-se sempre dá medo e este revela mais mentiras: sociais, pessoais, coletivas, trabalhistas, induzidas, salvadoras... Basta ver sua timeline diária... Mas no fim todas seguem para uma reação constantemente negativa por mais que possa haver a possibilidade de hipocrisia mútua, acabamos tendo nossa parcela de hipócritas.

domingo, outubro 05, 2014

Passarinhando (resenha) – Rafael Belo


As superstições nos rodeiam e não acreditar nelas também nos cercam, mas o poder mesmo está nas palavras. Se te dissessem que podíamos voar quando crianças acreditaríamos? Quais seriam as consequências? Este é o enredo grandioso de Passarinho de Crystal Chan.

Quando voar acaba em queda e a queda em morte toda uma família vive de segredos, meias palavras e silêncios. Quão doloroso pode ser nascer no dia da morte do irmão? John, Passarinho, faz sombra na vida de Joia mesmo anos depois de morto. A dor e a falta de esclarecimentos podem mudar muitas vidas.
 
Amizade, Amor, luto, superação e descoberta são os ingredientes espalhados em 222 páginas neste romance de estreia da multicultural Crystal Chan. Uma leitura gostosa que nos prende em um enlace do qual não queremos nos desatar e seguimos devorando levemente a intensidade dos personagens de Chan. Provavelmente este caldeirão étnico traz este ineditismo literário para nós.

Por isso, recomendo uma entrega total a Joia e a narrativa em primeira pessoa nos levando a mente iridescente dos 12 anos. Há inexperiência, evolução e muita beleza para nos sensibilizar (quem sabe chorar, nos identificar?) com a caracterização de comportamentos dos quais não estamos acostumados a ler por aí, mas o livro poderia ser melhor trabalhado, principalmente no início. Mas, apenas escrevo: vale a pena ler.



Joia, uma menina de 12 anos, afirma ser “metade jamaicana, um quarto branca e um quarto mexicana”. Ela tem a vida marcada não apenas pela falta de uma identidade cultural, como também pela ausência do irmão, que morreu no dia em que ela nasceu, e pelo silêncio de sua família.

uma história sobre crescer em uma família de diversas origens étnicas em uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. Na internet, a escritora faz parte de uma campanha em prol de livros que tratem de diversidade cultural, pois, de acordo com ela, há muitas histórias assim mundo afora e nem todas são ouvidas. Passarinho será lançado em 21 de junho.

sexta-feira, outubro 03, 2014

Cartaz (miniconto) – Rafael Belo

Entre as Ruas Escolha, Opção e Alternativa cruzava a principal Avenida daquela cidade, Seleção, mas ninguém se importava com o significado daquelas palavras, o importante era elas levarem as pessoas para todos os pontos de onde moravam. Eram as veias essenciais a permitir fluxo e proximidade, mas o pensamento vagava mesmo pela contramão.

Xenia vivia bem ali, na contramão. Não entendia tantas pessoas seguindo o mesmo fluxo sem ao menos prestar atenção ao nome da correnteza. Não entendiam a passagem, pois estavam de passagem e a compreensão de serem passageiros não parecia estar plenamente consciente a não ser a constante negação.

Ninguém parecia levar a sério as ruas e a avenida, ou melhor os nomes delas. Xenia repetia e ia até os carros pedir atenção, às vezes, recebia por ser mulher, mas em tantas outras ninguém sequer a olhava. Jogavam-lhe de tudo inclusive moedas e tudo que ela queria era falar sobre a importância do nome de tudo e de cada um.


Então, Xenia vivia por ali onde as três ruas e a avenida se cruzavam em um grande rotatória com semáforos. Levantava seu cartaz (ela esperava que um dia alguém lesse) e este dizia: “Escolha a opção cuja a alternativa seja a seleção, antes de tudo de caráter idôneo, de moral elevada e ética condizente...” Em letras grandes, em letras pequenas estava: “Ou simplesmente escolha algo e alguém que realmente te represente, mas pode começar dando atenção a este cartaz...

quinta-feira, outubro 02, 2014

Eco ando


Fazia farfalhar folhas

no folhear das escolhas
dedilhando batidas no coração
obrigado a ser democrático
nos rostos de plástico de decoração

embrulha o desgosto contorcido
distorcido no gosto da corrupção
inteiramente corroído apodrecido, caído finge tão bem ter opção

mudou são deixando sua insanidade com uma mão de tinta precipitada e outra selecionada sem nada não, apenas o som do abismo e o fim do fundo gritando o término do eco em ação, era eleição.


(Às 23h06, quarta-feira, Rafael Belo, primeiro de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 01, 2014

Utopia de dois gumes – Rafael Belo

Os pedidos não paravam de vir recheados de sorrisos e promessas. Vinham das ruas, das caixas de correio, dos telefones fixos, dos celulares, das mensagens, dos aplicativos, da web, da televisão, do rádio... Havia tanto a escolher, aliás tantos querendo o mesmo, mas não existia mais confiança, as pessoas não se sentiam mais representadas e não acreditavam mais na incorruptibilidade dos que conseguiam os votos necessários.

Xavante Aroeira não abandonaria o país. Sabia ser o último naquele futuro distante a não ter abandonado o Brasil, enojado com as mentiras e o enriquecimento daqueles que deveriam representá-lo e melhorar o que fosse possível. Quem ficou estava corrompido, pré-disposto a melhorar a própria vida da melhor forma disponível ou restava uma esperança de mudar da maneira como tudo estava. Mas, Xavante desacreditava das soluções passivas.

Um grupo se armou de subsídios secretos e foi a luta. Não pensaram no que viria depois apenas não era possível viver mais como estava. Xavante os liderava e esperava com isso libertar as pessoas dos impostos abusivos, da insegurança, da constante enganação... Eram treinados em guerrilha urbana e capazes de hackear qualquer tecnologia. Invadiram contas de todos os envolvidos em corrupção e distribuíram o patrimônio de cada um oficialmente entre o restante da população, inclusive dos que deixaram o Brasil.


No fim a democracia ainda existia, mas seu sistema corrompido acabava de desabar. Xavante Aroeira perseguia qualquer corrupção residual que correra para os esconderijos mais a vista... Radical, fazia os corruptos se delatarem e os filmava atribuindo os feitos deles com a pobreza, miséria e mortes diárias que aconteciam pelos desvios e mau-caratismo agudo tão pertinente aos donos do poder. Policias de todas as instâncias seguiam liderados por Xavante e juntos aceleravam a Justiça tampando brechas e escoltando corruptos para suas novas moradias: favelas sem UPP’s, água, luz e esgoto. Mesmo à força, o Brasil seria outro e era a escolha dos sobreviventes.