quarta-feira, maio 06, 2015

As primeiras horas de quarta-feira


Por Rafael Belo

Carolina Silva estava sentada na margem direita do canto invisível do próprio olhar. Sua expressão era algo entre pensativa e triste, mas quem pode confirmar se nem ao menos ela o sabe dizer. Uma coisa é certa Carol, aliás Karol S. (norte-americanizado mesmo como ela gosta de ser chamada) se sentia injustiçada.

Antes se sentia diferente e por isso, se achava no direito de ter mais direitos e tudo mais rápido se fosse possível se comparar aos outros. Todos os dias Karol chegava neste seu mundo com a mesma incerta expressão. Indefinida como ela mesma não gostava de admitir, porque era mais, era diferente mesmo, mas não tinha consciência de todos serem diferentes...

Igualdade apenas perante a lei e as condutas perante a sociedade.... ou algo assim... Da pele para os órgãos e aquela confusão de sentimentos e imateriais pensamentos tão pesados a ponto de confundir a materialidade não havia mesmo nada igual... Bem a questão do sentimento de injustiça, de perseguição se acumulavam como dunas no deserto pessoal de cada um.

Porém, neste exato momento não se passava nem vento na cabeça de Karol. Era o clichê dia de fúria da menina aos seus longos 18 anos em seu primeiro emprego forçado, pegou a faca de pão na cozinha e no impulso de castigar a sociedade machista que a criou tão bem para servir vestiu um cínico meio-sorriso de satisfação no canto esquerdo da boca e deu seu grito de guerra ao se atirar ao chefe este pensando ainda em “outras satisfações” nas primeiras horas de quarta-feira...

Um comentário:

Anônimo disse...

"...vestiu um cínico meio-sorriso..." quem não um dia teve seu dia de fúria? ...Texto perfeito! Msob