sexta-feira, maio 08, 2015

Partindo adeus



Por Rafael Belo

Então é aqui que os cães se escondem quando fogem de casa? Viram cachorros de rua e, naturalmente, se tornam amigos dos mendigos... Pensou o pequeno Luís incrivelmente coerente no português. Mas Luisinho era destes geniozinhos que mal tinha entrado na pré-adolescência e não demonstrava nem a inteligência nem seu ódio pelos diminutivos fofinhos.

Saiu aquela manhã silenciosamente escondido em suas certezas de sexta-feira. Como se fosse para a escola, mas contrariado com sua passividade, como todo gênio, estava prestes a libertar suas vontades e eus mais obscuros. Já esfregava as mãos de ansiedade, a tensão no rosto já relaxava com um tenso sorriso assustador repelindo as pessoas como um ímã opositor.

Luisinho era todo satisfação e finalmente parou de se conter gargalhando furiosamente a ponto do motorista do ônibus o fazer descer sob nenhum protesto. Não suportava ver a alegria dos moradores de ruas com seus cachorros foragidos, então foi passando a mão em cada cão, incrivelmente sem nenhum protesto dos mendigos acostumados a perder, mas ninguém reclamava porque algo exalava daquele olhar e daquele sorriso...


Quem vive sem um local para dormir sob um teto acolhedor sabe exatamente o significado exalando de Luisinho: eram os limites quebrados da loucura. Certa insanidade apontando a capacidade imediata de matar ou morrer rascunhados no olhar e no sorriso. Ele se chamava ironicamente de “o” Injustiçado. Logo ele (logo eu) tão inteligente, podendo adquirir tudo e agora livre, mas com tamanha capacidade de raciocínio ele sabia necessitar de uma paz mais elevada e, por isto, partia. Apenas um cachorro o seguia para o isolamento onde nada chocaria com sua órbita colidida.

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