sexta-feira, maio 15, 2015

Resmungos


Por Rafael Belo

Mais uma sexta-feira cansada se levanta cheia de esperança (que o fim de semana seja bom e longo?), mas no dia de rodízio de seu carro o ônibus é obrigatório por questões práticas. Olivia Oito se incomodava com os cutucões, puxões, empurrões, pisadas e ficava fora de si e raivosa com as encoxadas. Bolinada intencionalmente ou não, não importava, ela tinha aversão ao toque e, ingrata como todos, xingava pela falta de gentileza e gratidão.

Olhava muitos ali, atrasados como ela, mas totalmente despreocupados. Os poucos acordados avisavam por whatts do atraso enquanto se isolavam nos fones de ouvido, mas sempre tinha os chatos falando ao celular tudo que os outros não querem escutar e todo o ônibus escutava. Olivia observava com uma mistura de tédio e ferocidade assassina constrangendo impiedosamente quem quer que fosse.

Quando era tocada se contorcia como uma borboleta voltando a ser lagarta no óleo fervente. Segurava-se para não gritar cada xingamento repassado repetidas vezes na mente. Mas, os roncos a enlouqueciam fervorosamente mais... Como era possível dormir desta forma?!!!... pensava Olivia da forma mais indignada. Ela estava em pé e encarava compulsivamente quem dormia largado. Se alguém se atentasse ao rosto dela imaginaria uma dor lancinante a torturando.


À direita dela uma cabeça pendia quase encostando nas costas e à esquerda era um queixo colado no peito babando. Altos roncos de estudantes bem jovenzinhos. Muitas paradas depois, conseguiu bufante e mal-encarada sentar resmungando a meia altura... Dormiu quase de imediato roncando alto como um chaleira e balançando em toda sua antipatia rumo ao ponto final. Obviamente ela não iria trabalhar naquele dia, mas estava tranquila sonhando com um mundo onde todos a agradeciam pela liberdade de não agradecer nada, apesar da gentileza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns é um retrato fiel do dia a dia do brasileiro...muito bom!msob