por Rafael Belo
Friamente
o médico a chamou e disse: - Você vai morrer no máximo em 12 horas! Se tiver
sorte...
Estela
olhava para todos os lados e sorria. Algo parecido com estado de choque e
incompreensão. Afinal, quem quer entender que vai morrer, assim, de repente?
Não queremos nem pensar na naturalidade do fim da vida... – Como assim? Morrer?
Em menos de um dia... Não! Eu não posso morrer... Você é desumano...! Foram as
últimas palavras que Estela dirigia a alguém. Ela correu sem saber todo o
diagnóstico.
A
bactéria Clostridium Perfingens faz
com que derretemos devagar. Como a Bruxa do Oeste do Mágico de Oz ou, melhor, uma
vela. A Bruxa derreteu muito rápido... A infecção causada pela perfingens produz toxinas e interrompe o
fluxo sanguíneo do local... O Tratamento é a amputação, mas o médico acreditava
que já era tarde e a infecção era generalizada, por isso tanta dor em Estela.
Na
verdade, ela já tinha a perfingens há
anos desde que se feriu na praia em um caco de vidro sem nem sequer tratar
direito. Mas, como vive na sujeira e se torna um esporo praticamente
indestrutível, a bactéria escolhe quando se tornar um parasita e já havia
bilhões nela quietinhas... Estela correu para seu ponto preferido da cidade.
Estava lá só e durante uma longa hora comparada a uma vida inteira negou estar
doente, mas, por via das dúvidas, decidiu tirar seus sonhos da fila, afinal ela
tinha direito.
Ainda
eram 8h e agora ela sentia muita raiva. - Não vou morrer em uma sexta-feira sem
aproveitar o fim de semana. Deveria ser aquela vizinha insuportável com aquelas
músicas horríveis para até surdo ouvir... Por que eu? Eu que sempre fiz tudo
direito vou morrer...? Não demorou muito ela tentava trocar com Jesus, Deus,
Buda, Jah, Natureza e todas as seitas e religiões possíveis. Se eu dedicar meus
próximos 15 anos a caridade e ausência de julgamento eu poderia viver? Juro que
faço doação da metade do meu salário?
Então,
veio o choro compulsivo e convulsivo. Ela tremia, se abraçava... Estava
encharcada... Ligou o celular e passou quase oito horas conversando com todos
da sua lista de familiares e amigos. Contou da sua dor e pediu perdão foi
quando tomou consciência que poderia descobrir a vida após a morte. Deitou com
o caminho obstruído pelas folhas e adormeceu.
Acordou
tremendo de frio, olhou o relógio e a raiva voltou. – Eu mato aquele médico! Mas,
lembrou onde estava, respirou fundo e pensou: tenho que estar feliz por estar viva, certo?... A raiva foi embora (temporariamente)
e Estela começava mais um novo estágio.
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