sábado, junho 27, 2015
sexta-feira, junho 26, 2015
Os estágios de Estela
por Rafael Belo
Friamente
o médico a chamou e disse: - Você vai morrer no máximo em 12 horas! Se tiver
sorte...
Estela
olhava para todos os lados e sorria. Algo parecido com estado de choque e
incompreensão. Afinal, quem quer entender que vai morrer, assim, de repente?
Não queremos nem pensar na naturalidade do fim da vida... – Como assim? Morrer?
Em menos de um dia... Não! Eu não posso morrer... Você é desumano...! Foram as
últimas palavras que Estela dirigia a alguém. Ela correu sem saber todo o
diagnóstico.
A
bactéria Clostridium Perfingens faz
com que derretemos devagar. Como a Bruxa do Oeste do Mágico de Oz ou, melhor, uma
vela. A Bruxa derreteu muito rápido... A infecção causada pela perfingens produz toxinas e interrompe o
fluxo sanguíneo do local... O Tratamento é a amputação, mas o médico acreditava
que já era tarde e a infecção era generalizada, por isso tanta dor em Estela.
Na
verdade, ela já tinha a perfingens há
anos desde que se feriu na praia em um caco de vidro sem nem sequer tratar
direito. Mas, como vive na sujeira e se torna um esporo praticamente
indestrutível, a bactéria escolhe quando se tornar um parasita e já havia
bilhões nela quietinhas... Estela correu para seu ponto preferido da cidade.
Estava lá só e durante uma longa hora comparada a uma vida inteira negou estar
doente, mas, por via das dúvidas, decidiu tirar seus sonhos da fila, afinal ela
tinha direito.
Ainda
eram 8h e agora ela sentia muita raiva. - Não vou morrer em uma sexta-feira sem
aproveitar o fim de semana. Deveria ser aquela vizinha insuportável com aquelas
músicas horríveis para até surdo ouvir... Por que eu? Eu que sempre fiz tudo
direito vou morrer...? Não demorou muito ela tentava trocar com Jesus, Deus,
Buda, Jah, Natureza e todas as seitas e religiões possíveis. Se eu dedicar meus
próximos 15 anos a caridade e ausência de julgamento eu poderia viver? Juro que
faço doação da metade do meu salário?
Então,
veio o choro compulsivo e convulsivo. Ela tremia, se abraçava... Estava
encharcada... Ligou o celular e passou quase oito horas conversando com todos
da sua lista de familiares e amigos. Contou da sua dor e pediu perdão foi
quando tomou consciência que poderia descobrir a vida após a morte. Deitou com
o caminho obstruído pelas folhas e adormeceu.
Acordou
tremendo de frio, olhou o relógio e a raiva voltou. – Eu mato aquele médico! Mas,
lembrou onde estava, respirou fundo e pensou: tenho que estar feliz por estar viva, certo?... A raiva foi embora (temporariamente)
e Estela começava mais um novo estágio.
quinta-feira, junho 25, 2015
permanentes
As peças caem umas sobre as outras
ostras que deveriam se abrir e se fecham
testam a dolorida dor da queda em fila
ensina inevitavelmente o efeito dominó
pó acumulado exagerando o mundo
no fundo da poeira estamos à beira
de um abismo de luz pulsante
e na falta de cidadania deixamos de ser cidadãos em
um instante
distantes de Amar a si e ao próximo no ócio de faltas
somatórias
divisórias chorando direito sobre direitos da cegueira
provisória.
quarta-feira, junho 24, 2015
Senha e vez
por Rafael Belo
Chovia
como se chuva fosse esperada a cada amanhecer e anoitecer. Mesmo assim as
pessoas estavam na fila esperando serem atendidas e resolverem seu atual
desemprego. Indignado pela situação, Seu Severino esbravejava. Estava encharcado,
apesar do guarda-chuva... – A senhora
acha que isso é direto? Ixi Maria é um desrespeito!
A
tal senhora, sem querer alimentar uma discussão, só deixou entender estar
concordando. A gente trabalha feito doido
a vida toda para ser dispensado com desculpas?, pensava Severino, tratam a gente feito bicho e os nossos direitos?
Ele nem sabia quais eram, mas sabia da existência deles. Era um bom passo,
mas “cabra macho” que era não pedia informação.
Quebrava
as paredes, furava canos, queimava chuveiros, destruía tevês, micro-ondas,
celulares e nunca acertava. Recusava ajuda e assumir seu erro. Era sempre “esse
trem mal feito”. Lá estava Severino desde a madrugada, o primeiro da fila. Com a
carteira de trabalho em mãos pensava em quanto valiam seus direitos e quais
eram afinal?
Mais uma injustiça. Sempre fui
ótimo motorista, por isso fui recomendado para trabalhar nessa cooperativa de
táxi. Mapa? GPS? Eu sou o cabra da peste mais bem orientado que já se ouviu
falar. Que culpa tenho eu se o meu caminho era mais longo e eles acompanharam
meu trajeto pelo tal de transmissor? Quero meus direitos já! E ficou se molhando esperando a sua senha e vez
imaginando um sol que poderia aparecer.
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terça-feira, junho 23, 2015
destros
Fale direito na direita
da Rua Direita
em qualquer direção da
Sé veja as diversas facetas da fé
lado a lado com o
paralelo do labirinto das informações
as migalhas dos direitos
estão perdidas nos mendigos em contemplações
a vida como poderia
ser não é
e os dedos apontam
culpados em todas as direções
turistas nativos no espelho
das divagações girando em pé
olham abobados para
onde deveriam ir e não vão, presos nos vão
maré de gente se
achando esperta mas tão inocente recebendo cafuné
outras tantas ondas se
misturando para não perguntar e se perdem na falta d’água deste mar.
segunda-feira, junho 22, 2015
Quase fui
por Rafael Belo
No
fim de uma fila imensa uma humilde senhorinha esperava. Isolada, com o também
idoso marido, ninguém perguntava nada nem parecia se importar. Depois de
dezenas de anos trabalhando a deixavam na mentira e ignorância. Primeiro entrou
na fila para exigir o direito da poltrona reservada para idosos em viagens
intermunicipais, então inventaram uma história de ter que solicitar com meses
de antecedência e depois negaram que havia alguma. Foi quando voltou a entrar
na fila...
O
Estatuto do Idoso deixa claro que toda pessoa com idade mínima de 60 anos com
renda igual ou inferior a dois salários mínimo pode exigir este direito também
garantido pela lei 10.741/2013. Caso o ônibus esteja lotado é possível comprar
passagem com 50% do valor. Ainda reforçam a garantia o Decreto nº 5.934/2006 e
a Resolução ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre).
Nós
vivemos nestas filas desorganizadas e desumanas tendo de exigir nossos direitos
(se soubermos). Um tremendo desrespeito que parece piorar se chegamos aos 60. Certas
pessoas parecem viver da necessidade de desinformar, ou simplesmente ser
mal-intencionado. Refletem o caráter ou a ignorância com extrema eficácia e,
muitos, dos apressados nas filas nem querem saber do direito do outro e acabam
por ajudar a negá-lo.
Hoje
mesmo, em plena Praça da República, pude reparar nas divergência das pessoas no
movimentando inverno paulistano. Enquanto esperava e intercalava uma página
lida com uma olhadela ao meu redor, diversas pessoas vieram pedir informação
sobre locais e vi nos olhos e expressões corporais de outros a vontade de
desinformar e se aproveitar da situação, principalmente, quando uma adolescente
veio me perguntar a localização de uma agência bancária...
Fui
cumprimentado por um grupo de roqueiros em busca da Galeria do Rock trajando
fielmente os panos do heavy metal do Iron Maiden. Idosos, idosas e mulheres
também me pediram localizações. Quando sabia indicava com todas as referências,
quando não... Você se pergunta o motivo de eu tocar neste assunto? Bem, a
poucos passos de onde eu estava (em frente ao metrô) existe um Centro de Informação
ao Turista... Quase fui até lá perguntar o porquê, mas bem na hora minhas
companhias chegaram.
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domingo, junho 21, 2015
sábado, junho 20, 2015
Compreendo (understand)
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sexta-feira, junho 19, 2015
Prisão coletiva
por
Rafael Belo
Luanna
saiu sem rumo exatamente como se sentia. “Esqueceu” o celular de propósito onde
todos em casa podiam ver. Estava no ônibus com o itinerário mais longo da
cidade. Saiu do extremo da zona norte de São Paulo para o mais distante ponto
da zona sul. Precisava pensar sem
ninguém dizer o que nem como, muito menos rondando o tempo todo.
Cercando
perguntando. Maldita sociedade hipócrita,
pensava Luanna, cuidam da vida de
todo mundo só pensar em investir em melhorar e qual a finalidade? Ela
estava há um ano na cidade que mais produzia dinheiro para o Brasil... Todo
mundo correndo o tempo todo para dar tempo e... Ninguém tem tempo para nada... Decerto não querem pensar de verdade no
que estão se tornando, concluiu balançando a cabeça lentamente.
Luanna
tinha recém completos 20 e poucos anos. Suas melhores companhias eram os
livros, Salomé e Lou - respectivamente sua gata e seu cachorro. Cada leitura a
fazia crescer e assim se sentir menos dentro de tantos universos, já seus
animais mostravam o oposto da vida humana. Eles eram incondicionais, só
precisavam de carinho, água, alimento e curtos passeios.
Qual eram os objetivos delas e das
demais pessoas? Juntar dinheiro, rejuvenescer, viver até não poder mais e rezar
para ir para o céu?, negava com
tanta força que as pessoas já a olhavam. Luanna queria mesmo não precisar de
dinheiro e nem de tanta poluição na cidade com tantos contrastes.
Pensava em como seria bom se a moeda de troca
fosse as habilidades de cada um, prestação de serviço... Gostaria de ter
nascido em outra geração quando havia motivos mais heroicos para lutar, principalmente
pela liberdade e agora? Lutamos para
continuar lutando... Estamos sem rumo. Sem rumo seguiu e nem
tinha saído da zona norte ainda. Entrava na coletiva prisão.
quinta-feira, junho 18, 2015
errar o alvo
cai a depressão bem no meio da preguiça
arisca na moleza de rosnando se encolher
lentamente domina o sofá aterroriza
anonimamente escolhe as sombras para desaparecer
engole a gula voraz com olhos de cólera
medica sua inveja tarja preta com orgulho
se apega a avareza com toda luxúria inglória
espreguiça todo o casual vestido de embrulho
assumo o motivo extensivo do espalhar da cárie
omissa ao sorrir o esquecer da glória não estou
seguro
em cercados com o desencadear do segundo evito pecare
estou de baixo a médio imaginando o assédio em sete
pecados.
(às 23h21, Rafael Belo,
quarta-feira, 17 de junho de 2015)
quarta-feira, junho 17, 2015
Revelações em tintas
por Rafael Belo
Fazia algum tempo que
um som repetitivo chegava distante até o seu ouvido. Ele já tinha perdido a
noção das horas, mas ainda tentava navegar naquele barco salva-vidas pintado de
cinza no alto-mar condensando exatamente a variação do tom azul para o
esverdeado enquanto o sol nascia gemado rodeado das estrelas da noite
sucumbindo. Do outro lado...
Uma tempestade fazia a
noite permanecer e criava um contraste trazendo algo de reconhecimento na mente
de Aurélio Abel. O barco estava vazio assediado por ventos vindouros por sua
vez criando ondas ainda distantes, mas futuramente responsáveis pela virada do
barco antes da chegada do novo amanhecer. Estava em transe sorrindo para aquele
quadro tão real...
Ele era o barco. Ele estava
vazio. Seria responsável pela tempestade chovendo noite de um lado? Poderia conquistar
aquelas cores presenteadas por um novo amanhecer? Quem sabe se tornaria aquele
vento capaz de mudar até o meio do alto-mar formando uma onda gigantesca capaz
de virar uma vida... Também havia outra sensação emoldurada ali.
Era liberdade. Nada mais de
assédios nem da obrigação de escolher entre vontade, necessidade, fantasia e
realidade... Então, se virou para o “chefe” berrando seu nome e mais uma vez o
humilhando. Só de encarar pela primeira vez o “chefe”, aliás diretor o silêncio
veio. Olhou o quadro triunfante balançando a cabeça como se concordasse com um
amigo. Falou calmamente a palavra processo
puxou dois “amigos testemunhas”, mas antes voltou para a sala do seu
ex-diretor e pegou o quadro: - Esta é parte da indenização, depois seguiu
cantarolando.
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terça-feira, junho 16, 2015
pequenos pedaços
um silêncio
me incomoda de hora em hora
pontualmente
se interrompe procurando pensamentos
olho para a
noite no quarto procurando dormir mas demora
não há um
olhar de volta já sou só documentos
números
embaralhados ao vento pela escuridão senhora
em alguma
história o horizonte me percebe em momentos
não durmo
já faz tanto tempo que a insônia me explora
minha
percepção se vai como se só houvessem tormentos
não quero
ser tão permanente quanto tanta coisa provisória
assedio
meus sadios isolamentos me rasgo tão pequeno me jogo fora.
(às 02h10, terça-feira, 16 de junho de 2015, Rafael Belo)
segunda-feira, junho 15, 2015
Olhar no horizonte
por
Rafael Belo
Um
grito de humilhação, um pranto de raiva repetido diariamente depois de ameaças
de demissão... Um sorriso irônico, uma ameaça velada no cotidiano do trabalho e
várias demonstrações de assédio minando a autoestima de qualquer ser confiante
já distante de quem era e de quem deveria ser. Todos em algum momento já
sofreram um tipo de assédio no emprego e qual foi sua reação?
Dê
poder a uma pessoa ou tire tudo dela e verás quem ela é. Conhecemos bem esta
frase. É óbvio que só podemos estar falando de caráter. Não há relatividade no
caráter de uma pessoa ela estando necessitada, ou não, tratará as pessoas da
mesma maneira, ela sendo milionária ou paupérrima terá as mesmas atitudes,
chefe ou subalterna não mudará a forma de conversar com ninguém. Se você está
pensando que não é bem assim...
Você
saber que não é ético, educado ou sequer correto e mesmo assim fazer ainda se
sentindo mal com isto... Qual é o seu problema? Quantas desculpas possui para
realizar algo que “não quer”? “Estou só cumprindo ordens”, “é o meu trabalho”, “preciso
sobreviver”, “o editor vai mudar mesmo”, “não posso perder este emprego”, “estava
brincando”... Acrescente a sua... Não, quer dizer... Por que insistimos em nos desvalorizar
pensando não sermos capazes?
Somos
capazes de sempre melhorar e não podemos ficar quietos esperando nosso rumo
cair no nosso colo. A verdade é que não podemos parar, precisamos estar sempre
atentos e buscar aprimorar nossas qualidades. Assédios morais e sexuais só
existem pela covardia daqueles que detém algum tipo de poder e não possuem nada
de liderança, adoram diminuir as pessoas e reforçam a própria adoração,
principalmente, quando pensam que são ameaçados. Estamos muito acima de
qualquer forma de humilhação e oportunidade de humilhar. Vamos levantar a cabeça
e enxergar que sempre há formas de melhorar basta perceber o horizonte.
domingo, junho 14, 2015
sábado, junho 13, 2015
sexta-feira, junho 12, 2015
profundas marcas
por
Rafael Belo
Antes
do que estava por vir ela só lembrava de um imenso gramado esmeralda e um céu
claro, tão claro que não era possível encarar. - Talvez fosse um sonho, pensou
Danita ao olhar ao redor. Não havia ninguém no ônibus quando ela adormeceu. Agora
havia até pessoas em pé. Ela desceu na primeira parada após o despertar. Percebeu,
já tinha chegado a São Paulo.
Começou
a conversar com outra jovem que chorava. – Sou Danita. Primeira vez nesta
loucura? A outra apenas confirmou com a cabeça. Danita insistiu mesmo ainda se
sentido frágil, mas se recuperava bem daquela “gripe”. Era assim que chamava
seu adoecer que ao ser arrancado levara um pouco da alma dela. – Conheço todas
as linhas de metrô, trem e ônibus. Fui pesquisadora... Posso te acompanhar para
se sentir mais segura, informou na esperança de conseguir algo.
O que está acontecendo comigo?, pensava Danita,
Nunca fui simpática ou solícita! Que eu lembre... Foi aí que percebeu ter
descido no lugar errado. Saiu correndo para as plataformas. Mochila e mala
estavam no ônibus ainda. E agora?, se
desesperou. Cadê o maldito ônibus?
Ela o viu se afastar e correu gritando à toa.
Como interceptar um ônibus com um
motorista apressado, atrasado e mal-humorado? Nada feito, se entregou. E bem
no aniversário de Danita, uma sexta-feira dia dos namorados, 12 de junho... Grande coisa, desdenhou.
Passada
meia-hora uma caminhonete camuflada da polícia saia a toda. Danita correu mais
uma vez. Era uma unidade totalmente feminina... Ainda em movimento, Danita
conseguiu invadir o carro. Com todas as armas apontadas para ela, Danita
enfeitou a história explicando o motivo daquela loucura toda. Foram necessários
mais trinta longos minutos para forçarem o ônibus a parar em uma fechada
brusca.
Danita
descreveu suas coisas e deu uma foto as policiais. Revirado do avesso ônibus,
motorista e os pouquíssimos passageiros não sabiam nada das coisas da garota da
foto, muito menos dela, nem havia registro da compra da passagem na empresa. Só
então as policiais se entreolharam exalando raiva e vingança desconfiadas de
Danita. Descobriram uma extensa ficha policial pelos seus rádios “amadores”
móveis e entre eles ela havia surtado... Opa! Há alguns meses...
Danita sempre reproduzia ser vítima de algum
incidente estranho. No último dia dos namorados seu amor maior havia levado
tudo deixado um branco em uma tentativa de assassinato afundada no crânio dela.
Ao voltarem para a viatura as policiais não encontraram ninguém.
quinta-feira, junho 11, 2015
sobrevivente do viver
todos os sentidos alertam o tempo está acabando
as forças antes vivas se foram em um suspiro
respiro fraco quase em linha reta nos escombros
o peso do planeta oscila gravemente nos meus
ombros
trombo em cada objeto desavisado superficialmente
inspiro
espirro as entranhas emaranhadas direto dos sonhos
carentes de alimento estão suspensos mas não
morrem
doentes como adoeço ao me distanciar de mim
lágrimas jorram frias gritando não chorem
desmoronem no sofrer que em um arrepio profundo me
inundo e vou viver.
(Rafael Belo, às 12h17,
quarta-feira, 10 de junho de 2014)
quarta-feira, junho 10, 2015
Não era uma pedra
por
Rafael Belo
Estava
tendo delírios, suava litros e gemia dolorosamente. Bicampeão de artes marciais
mistas com 100 kg cravados em dois metros e doze e mesmo assim derrotado por um
ser microscópio. Virose? Ah, era sempre
assim quando não sabiam o que acontecia. Enfia paracetamol e manda pra casa...
Duas semanas intermináveis e nada de
melhorar.
Golias
se gabava de nunca ter ficado doente e até dias atrás era verdade, mas eram
tantas pessoas doentes ao redor dele tossindo, espirrando, desrespeitando a
saúde alheia que ele decidiu prevenir e se medicou. Nada de mais, apenas estes
antigripais, porém foi aí que a tal virose o surrou como nenhum outro
adversário ainda tinha feito.
Inconformado,
Golias parecia murchar a cada dia acamado.
Delirando aos 39 graus de febre repetia o famoso ditado popular “todo cuidado é pouco”. Existe
alguém mais cuidadoso que eu? Só se for quem sofre de toque... Não bebo, não
como porcarias, não fumo, sou atleta e água... Cadê? Aqui. Bebo litros em um só
gole...
Não tinha forças para nada, mas mesmo assim
precisava terminar de ler A Torre Negra e
O Vento pela Fechadura ao mesmo tempo. Queria ser como Roland e assim delirava... Naquelas duas semanas ainda não
terminadas percebeu a fragilidade em qualquer situação da vida, este clichê da
roda-viva... Era tão fácil estar lá em cima e despencar. As posições trocavam
todo dia, mas era certo que não seria uma pedra no caminho a derrubar o gigante
Golias, ele iria se curar, não iria?
terça-feira, junho 09, 2015
boiando
enfermidades tropeçam em nossos doentes corpos
sementes frágeis das diversidades na rara
flor-de-lótus
nascendo no leste se pondo no oeste não é
eficaz a posição dos cardeais
enquanto explode a manhã sem direção para sentir
não olhar
nos morde a maça e vamos nos deitar
pastam palavras possíveis pela periferia
espirros tossem no dia-a-dia
alergia virose qualquer diagnóstico precoce
hipnose falsa tentando nos curar
lixo poluindo o curso do rio imune nos pune
ao adoecer
estamos lá a boiar.
segunda-feira, junho 08, 2015
Enfermidades
por
Rafael Belo
Pastando
pela produtiva manhã, vacas e cavalos ruminam o dia explodindo em um dourado
ouro com a intensidade daqueles ainda com preguiça de acordar após um feriado
prolongado. Mesmo quem adoeceu percebe a explosão de luz lá fora, mas estar
doente é ver a dificuldade de se manter saudável diante de tanta negatividade,
tosses e espirros.
Estar
adoecido é como estar em um corpo estranho e ser um estranho corpo em um mundo
indócil, apesar da domesticação generalizada, há muitos anticorpos procurando acabar
com a invasão e, no caso, nós somos os invasores. Até as pessoas mais saudáveis
caem doentes, mas nunca é com aceitação e tranquilidade. Há muita luta antes...
Há
tempos nos quais parecemos não controlar nossos corpos e voltamos a ser àqueles
velhos fantoches dependentes de alguém, esperando mexerem nossas cordinhas para
nos movimentar. Deixamos de ter vontade, mas não podemos nos entregar. Ficar doente
é temporário, é uma fase de fortalecimento e tudo é uma questão de ponto de
vista.
Tratando seja lá qual for à doença de maneira
adequada e até o fim, ficamos sim mais fortes, nos prevenindo para evitar ao
máximo adoecer de novo. Há tantas formas de ficar doente, mas estar ativo,
positivamente acreditar em si mesmo e seguir seja um passo de cada vez, seja uma
corrida de obstáculos é deixar qualquer enfermidade distante. Assim, quem sabe, podemos
ruminar calmamente e com clareza o que está a nossa frente e o que nos rodeia.
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domingo, junho 07, 2015
sábado, junho 06, 2015
sexta-feira, junho 05, 2015
Muito atrasado
por Rafael Belo
Na primeira das quatro conduções que pegaria nesta
sexta-feira, Alan Menos já sabia das feitas dos caminhos certos. Eles iriam
aprontar novamente, aliás, já estavam fazendo. De pé no ônibus tentando não
pensar em nada olhando através de tudo lá fora, Alan tinha certeza que o senhor
a dizer ser abençoado por Deus entregando papeizinhos escritos à lápis com
letra incerta e tremula, sabia ser mais fácil receber algo daquelas pessoas
sentadas no coletivo a um centavo de pessoas possuidores de fortunas.
Mesmo assim recolheu seus papeizinhos sem receber
nenhum dinheiro, mas sorria silenciosamente como se tivesse um segredo. Talvez
alguma satisfação da quietude provocada em uma dezena de mulheres amigas
tagarelando até há alguns instantes sobre comprar demoradas no Brás...
Provavelmente não!
No metrô um idoso, de bengala e arrastar de pés,
senta no banco reservado de direito. Algumas estações depois, Alan já percebendo
a movimentação de quem vai se levantar para descer, abre caminho, mas mesmo
assim vem o surpreendente pedido de licença e o contorno pelas costas de Alan. Talvez
seja orgulho de continuar fazendo algo por si só e ouvir a própria voz
corajosa... Provavelmente não!!
A caminho do ônibus interestadual, Alan observa um
senhor aparentando mais de 70 anos, porém com quase 40, tremendo no frio
paulistano escondido na neblina. Seu único casaco de couro já despido em mãos
quando recua em um não mental. O friorento
já sabia o que viria e fecha o rosto com direito a raios e trovões. O casaco
preto de couro era a única roupa de frio de Alan e ainda unitária herança, além
das lembranças, do falecido avô.
Vestiu rapidamente o casaco, pegou seu cartão e iria
gastar o crédito que não tinha para aquecer aquele desprovido de tudo Menos da
vida, mas este negou dizendo que nada novo o iria ajudar. Negou tudo de Alan,
lhe rogou uma praga e foi engolido pela multidão, que de repente, assim como
Alan se dava conta do quanto estava atrasado para os trabalhos verdadeiros. Alan
decidiu nunca mais ignorar os seus instintos e seguiu seu destino.
quinta-feira, junho 04, 2015
inativo para si
apodrecido via seus pedaços caídos pelo chão
rostos incontáveis passava pela paisagem da face
absorvendo o perdido nas contas do disparate
procurava alguma substância da real emoção
não encontrava as lágrimas para chorar
talvez fosse a reencarnação de algum mascate
mais provável era ser total falta de reação
estava em dúvida se trabalhava ou vegetava ao
levantar
em algum momento louco rasgou a divina procuração
do pertencimento
não tinha mais momentos... Ganhava dinheiro para
acumular
não sabia qual rosto no próximo dia iria usar.
(às 20h30, Rafael Belo,
quarta-feira, 03 de junho de 2015)
quarta-feira, junho 03, 2015
País Maravilha
por
Rafael Belo
Ainda estava revoltada quando saiu xingando o
primeiro a medi-la. Acúmulo de funções,
desrespeito às normas trabalhistas, carga horárias excessiva, sem horas extras,
nada de banco de horas, vale-alimentação e vale-transporte, autoritarismo...
Que empresa continua crescendo desta maneira? E lá foi ela fazer empréstimos e ajudinha para
mostrar como fazer direito. Depois de se dar mal várias vezes, aprendeu e criou
a empresa infantil de sucesso País
Maravilha.
Aquela
era a milésima fila quilométrica enfrentada por Alice País. Milhares de
desempregados como ela... A maioria homem... Será que isso significa que eu deveria ficar em silencio quando
assediada e ter um salário menor comparado ao sexo oposto... Claro que não! Significa
que o sistema de emprego dos anos 1950 não funciona mais há décadas. Era só o
que me faltava... Lá vinha o amanhecer e ela estava desatenta.
Medida
por aquele bando de desempregados, Alice se sentia mais uma vez incomodada. Não preciso ser um par para ser feliz e se
meus pais ou alguém perguntar de um namorado inexistente affe. Finalmente ela era a próxima. Precisava trabalhar,
mas estava todos demitindo e não contratando. Na hora de responder as questões
ela já não sabia mais qual cargo estava disputando mas...
Foi
admitida naquele lugar. Era para começar imediatamente e a pergunta era se
podia pensou sem demora Claro que não!!,
mas não estava em situação de negar e disse Claro
que sim!! Não tinha perguntado o salário,
porém estava tão endividada... Nunca havia ficado desempregada na vida e agora
isso... Foi por oito horas exatas. Quando se preparava para ir embora a dona do
jornal (ah, sim era um jornal) Gritou: “Estagiária não tem hora para ir embora
não no meu jornal”
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terça-feira, junho 02, 2015
fim do mês
perdeu-se das migalhas espalhadas pelo caminho
tornou-se aquele mesmo que não era ele
mastigou seu dom como pão amanhecido
de muitas manhãs sonhadoras endurecido
envelhecido pelo acelerar do arrastado tempo
vento dentro da ampulheta misturando o dia as horas
a vida
de repente o conteúdo escapa e o homem-máquina
já nem aproveita o motivo de trabalhar pausa
dramática
dignidade e respeito já perderam a definição
nas fileiras incontáveis do fim do mês há tantas de
escravidão.
(Rafael Belo, às 22h09,
segunda-feira, 1º de junho de 2015).
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segunda-feira, junho 01, 2015
Nosso trabalho é assim
por
Rafael Belo
Nasceu
o sol e não percebemos, apenas corremos para atravessar a cidade direto para o
trabalho se emendando até a santa sexta-feira em um grande borrão de mesmice. Estávamos
de costas depois do fim de semana rezando para o próximo chegar... Quantos de
nós não se deram o nó desta maneira? Começar pela necessidade de sobreviver
para quem sabe um dia viver do dom...
Estamos
nos vendo do outro lado da cerca deixando passar a nova oportunidade de um dia
logo de manhã. Cabisbaixos por trás do positivismo oferecendo o máximo com cada
um deixando uma imagem para o clichê de dar o sangue estereotipado de várias
equivocadas maneiras. Vivemos em doses de vida, não podemos bebê-la de uma vez
mesmo aproveitando segundo por segundo.
Descansar,
dormir, se alimentar, se exercitar... É preciso respeitar a mente e o corpo
para produzir mais e melhor. Não é a quantidade de horas trabalhadas que faz o
trabalho melhor é sua vontade, capacitação e, principalmente, afinidade com o
que está fazendo. Podemos ter o que
quisermos e sonharmos se, e somente se, nos fizermos merecedores.
Observando o cotidiano do trânsito temos certeza
que a facilidade de comprar a própria locomoção e o custo/benefício do
transporte público leva muitos a dirigir/pilotar e, consequentemente, se
estressar, demorar para se locomover de um ponto ao outro, enfim o fato é: o tráfego
é ruim pela quantidade de veículos e pela qualidade dos motoristas. Nosso trabalho
é assim... Onde as aparências levam a melhor por um bom tempo até seu dom
evoluído chamado destino transformar seu conteúdo em “ganha pão”.
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