segunda-feira, outubro 31, 2016

Quando paramos para refletir?





Por Rafael Belo

De repente o mundo volta a ser plano cheio de planos rasos. O dinheiro é o foco, a fama é o objetivo...  Vale-tudo pelo tapinha nas costas, as fotos curtidas, a quantidade de amigos, o prestígio alcançado vai para o octógono, é fechada a gaiola e não deveria haver mais amanhã, mas como há... Qual máscara vestir para disfarçar o ontem? Não é sobre políticos de carreira o assunto e sim sobre cultura. Sabe? Olhando bem, ouvindo bem... Pode dizer o que é cultura?

Não procure no Google ou nos livros de história. Responda por você, pelo seu conhecimento... Não? Com certeza não é uma imposição midiática babando por vendas e lucros impondo um estilo musical ouvido abaixo por anos a fio no mercado...! Quem sabe se encaixe em diversão, ou melhor, puro entretenimento, show business, a importância do sucesso não importando o conteúdo... Enfim, chame como quiser. No fundo você sabe...

Cultura te faz pensar, te causa estranhamento, acrescenta vivência e reflexão da (de) vida, de nós mesmos.  Soma e causa impacto. O resultado é nos absorver, abrir horizontes, abrir nossos olhos para os acontecimentos e, por fim, nos entreter, mas o “objetivo” não é entretenimento, não é sucesso, não é fama, é compartilhar uma visão, uma versão, uma aversão ao (do) cotidiano, um incômodo na alma, um zumbido na mente, um grito de independência... Isto é na música, na dança, nas artes plásticas e visuais, no teatro, na poesia, nos livros, toda manifestação da alma e cada protesto do coração.

Nossas almas estão se apequenando. Só queremos não pensar, não se aprofundar, não ler, não entender melhor... Queremos coisas mastigadas e prontas para apenas engolir, não queremos estar envolvidos, queremos sentar e assistir, ser telespectadores alheios aos acontecimentos e apenas nos chafurdar em relacionamentos egoístas fadados ao narcisismo, a dor, a um ciclo de sofrimento esperando encontrar um expurgo, ou seja, de se desfazer de um problema, expelir algo negativo... Não mais tentar resolver, só descartar.


É sentar em um bar e se anestesiar, ouvir uma música só para se identificar, assistir um filme somente para ocupar o tempo, no outro dia trabalhar para pagar as contas e tentar enriquecer seguindo na repetição do ciclo, manter as aparência e morrer diariamente por dentro construindo castelos de ar acima das nuvens para cairmos nos abismos de espelhos sem parar.

sexta-feira, outubro 28, 2016

Hora desconhecida (miniconto)




por Rafael Belo

A desconhecida sentou-se à mesa do bar. Estava sozinha sem nenhuma roupa de frio. Eram 23h e o frio beirava a sensação negativa. Mas ela sorriu um calor só dela. Todas as pessoas a encaravam e aí sentiam a frieza... Ela lhes devolvia um olhar gélido e nada mais era necessário. Os olhares, porém, eram de medo. Sabe... Ela passava aquela sensação de mau presságio. O inverno antártico devolvido por ela fazia muitos saírem imediatamente do lugar. Nem parecia primavera mais...

Ela é um “falta pouco”... Aquele momento ainda por vir. Um momento onde todos ficam paralisados e poucos enfrentam.  A desconhecida é um pedaço do tempo ainda não acontecido. Ali, ela ouvia música e estava imersa em cada canção. Cantava junto, aplaudia e se encontrava em uma hora só dela: A hora desconhecida. Todo dia ela fazia o mesmo. Curtia da como se fosse o último instante de vida. Sempre sozinha e ainda assim, se divertia. Por isso, chamava mais atenção deixando o som ao vivo, apenas ambiente.

Seu olhar não era frieza. As pessoas estavam erradas. Não era um olhar vazio e acusador. Era um olhar de desafio. A reação de ir embora imediatamente sem saber exatamente o porquê no fundo remexia o baú secreto das não superações de cada um. Assustadas as mentes enviam um alerta de proteção. A dona do bar não conseguia conversar com a desconhecida. Até um dia. Ontem as luzes se apagaram por minutos eternos e quando voltou estava mais clara, mais intensa, mais quente...

Estava lotado o bar. Todos sentados e bebendo. Quando voltou tudo a iluminar. Vagarosamente, um a um, voltou o olhar para onde a desconhecida estava há alguns minutos eternos. Não a vira e foram todos ao mesmo tempo até o lugar, gerando uma leve confusão e tantas falas ao mesmo tempo. Ninguém ouvia coisa alguma. A música estava totalmente acústica. A roqueira não quis ligar o som novamente. Mas parou de tocar e chegou ao lugar da desconhecida. Havia apenas um bilhete:


Todos vocês me conhecem, mas esquecem precisar sempre voltar a me conhecer. Não tenham medo do desconhecido, das horas desconhecida, da desconhecida sensação de uma estranha encarando suas entranhas porque a desconhecida hora futura lhe conhece profundamente, mas por acreditar em um medo esquizofrênico você nunca virá a saber. Já me conhece, mas por não arriscar se aproximar você não saberá e sempre achará não me conhecer... A não ser... Bem você pode iluminar o virá.  

quinta-feira, outubro 27, 2016

Trocas




desconhecido dia deslumbrando novo
durando derradeiramente decisões de dolo
desempregando reações para ação do automático controle

tudo é escuro arredio aos arredores recuando diante dos menores
corredores da adrenalina correndo corações assustados
calejados constantemente com contratos comportamentais não assinados

povo persistente parodiando o conhecer cotidiano
ateando esquecimento ano após ano ao direito de desconhecer
a cada olhar em frente no próprio estar exercendo existir

ir indigente interrogar o eu adiante e em um instante trocar de lugar.


(às 09h14, Rafael Belo, quinta-feira, 27 de outubro de 2016)

quarta-feira, outubro 26, 2016

Em círculos (miniconto)




por Rafael Belo

Não sei mais quanto tempo vou aguentar. Faz horas já. Estou correndo sem nem enxergar antes de chegar à próxima passada. Minhas pernas não param de latejar. Doem demais. Se você me conhece e está vendo este vídeo agora perdi meu celular ou... ou... É preciso encarar a possibilidade... Estou morta. Não sei dizer o motivo, mas não tem nada a ver com ser minha hora porque não tem sentido ser assustada e obrigada a correr até a morte. Você também pode ser um estranho, um desconhecido...

Neste caso... Tenho certo receio de conversar contigo. O desconhecido não nos espera, ele vem atrás de nós. Nos espreita, nos ataca e você faz parte dele... É ele em pessoa. Mas, preciso me concentrar.  Leve este vídeo até minha irmã... Aliás, sou Corala Canhete. Corela Canhete é o nome da minha irmão, por favor... Não não não! Afaste-se de mim! Não me toque! Como me alcançou? Eu não parei nem um minuto... Se eu não tivesse me dedicado a correr pela minha saúde e participado em tantas maratonas, não estaria aqui...

Você só escuta minha voz porque estou usando a câmera frontal para enxergar o caminho. Você não vai me ver a não ser que dê um Google... Enfim, esta tranquilidade controlada faz parte de quem sou, mas mudo totalmente quando se trata do desconhecido, algo... Algo... Algo fora do meu controle, distante dos meus planos... Pessoas desconhecidas também surtem este efeito em mim e acabo surtando, por isso, preciso saber dos detalhes de tudo ou sou uma pequena ave pousada na varanda.


É! Você deve estar dizendo: “Ela é uma mulher assustada!”. Bom... Não tenho tempo para isso. Preciso continuar correndo...! Não sei até quando minhas pernas vão aguentar esta maratona sem fim, a dor esta ficando insuportável, mas não quero conhecer o desconhecido. Tenho medo! Não vou me arriscar nesta escuridão... Como foi que a luz de toda a cidade acabou? Não estava nem chovendo... Será...? Foi o desconhecido! Estou correndo em círculos... No escuro não reconheço nada... Ai Meu Deus! A bateria vai acabar e depois... Como vou enxergar?!! Desconheço! Nossa! Eu desconheço!!

terça-feira, outubro 25, 2016

Desestar



O desconhecido vive a espreita e dentro de nós
em cada passo novo o minuto passa algoz despercebido
até o passado pode ser futuro se não for veloz conhecido

somos desconhecidos com todos os motivos a brotar
não sabemos exatamente o resultado do nosso caminhar

rondam sombras de olhos longos tentando nossa alma levar
nevam cinzas incendiárias nas diárias de desconhecer o nosso lar
compram mentes indigentes quente fica frio facilmente nada está no lugar

sabemos tanto a saber coisa alguma a cabeça da menor agulha apura nosso conhecer no grão de estrela do invisível  do diverso infinito universo vamos procurar nosso estar.


(Às 10h04, Rafael Belo, 25 de outubro de 2016, terça-feira)

segunda-feira, outubro 24, 2016

Somos desconhecidos


por Rafael Belo

Hoje é domingo e estou escrevendo para amanhã.  Amanhã é hoje. Você esta lendo este texto hoje e, até então, tudo era desconhecido. O eu de segunda não é o mesmo eu de domingo. Somos desconhecidos. Estou preso no quarto vendo a chuva escorrer no vidro, a janela balança. Há fortes ventos se cruzando e eles assobiam na varanda. Estou enjaulado aqui dentro sem saber quanto tempo a chuva vai durar. Este barulho de chuva me faz sorrir, imaginar, viajar... Mas qual o nosso conhecimento sobre o tempo? Sobre o clima? Sobre temperamentos? Sobre o outro? Não temos rótulos, etiquetas nem manuais... Somos desconhecidos.

Agora sei. A chuva demorou cerca de duas horas e causou os desastres previsíveis de sempre. Rasgaram os céus cerca de 10, 5 mil raios, a luz se foi em muitos lugares. Mas, até então era tudo escuro, um clarão absurdo de nadas, de zeros, de inícios... Mas se somos algo, seríamos... Não importa o quanto ache ser o mesmo. Qualquer fragmento de ontem atingindo você te fez outro hoje porque somos sim estranhos uns aos outros. Vamos entrando na vida diariamente alienígenas de nós mesmos. Planetas inteiros com gravidade própria absorvendo e colidindo com o planeta mais próximo ou aquele a cruzar conosco. Isso, porque o desconhecido nos espera na janela, na esquina... Aqui dentro do nosso peito.

Estamos sujeitos a autorrejeição se rejeitamos o sistema solar complexo circulando em seus particulares sóis. Para sair do sistema é preciso primeiro entrar e não sabemos o efeito da chuva nos outros porque nem sempre chove do mesmo jeito na para agente. Todos somos desconhecidos em mais da metade dos nossos pensamentos e atos, mas nossa essência continua acesa com a mesma chama intensa. Precisamos nós conhecer melhor...


Eu preciso conhecer pessoas. Você precisa conhecer pessoas. Todos precisam conhecer outros seres humanos. É isso ou seremos sempre vítimas do desconhecido a nos esperar, mas só seremos conhecidos, colegas e, finalmente, amigos se pararmos para nos olhar nos olhos e sorrir. Ouvir para ser e estar no presente, no agora, neste momento porque quando este momento passar o próximo chega e vai nos conhecendo enquanto ainda nos é desconhecido.

sexta-feira, outubro 21, 2016

A grade (miniconto)



Por Rafael Belo

Não consigo me lembrar de todas as escolhas. Elas me trouxeram até aqui. Neste pensar em nada enquanto sou absorvida por tudo. Este olhar virgem, nu, sem filtros... Não posso pensar nas reações, não posso pensar em limitações, não posso permitir o acontecer do outro mudar minha órbita, não posso pensar... Esvaziar é preciso, mas estou preocupada em ninguém saber meu nome. Cada um me chamou de modo diferente, menos Luizia Fatona. Não devo me preocupar. Foco em me entregar, tocar...

Como não reagir a esta aparente indiferença? Melhor não olhar. Agora entendo a velha expressão “o rei está nu”... É solitário estar aqui na frente. Voz, violão, pensamentos e sentimentos... Uau! É poderoso! É diferente ouvir o retorno na minha voz, lidar com este microfone... É intimidante também! Ah, estão mais solidários agora! Cantando comigo... Deve ser cruel expor uma autoral ainda mais se... Se não for compreendida... Será que arrisco? Não! Vou me preparar melhor...

Palmas? Incentivos? Obrigada... Posso sorrir agora...?! Será...? É assustador e um alívio ao mesmo tempo. É como estar na escola ou na faculdade de novo... Sempre procuramos aceitação mesmo quando dizemos que não? Oh, mundo cruel! Não! Cruéis são as pessoas! Cruéis somos nós! Não é isso também... Não tem a ver com crueldade ou maldade. É tão simples deixar esta dualidade, esta versão antiga do bem e do mal. Não é simples!  Há tantos motivos que não explicam, mas ajudam a entender os comportamentos...


Som? Som? Nossa! Acabou a luz e nem percebi... Mas, também... Malditos olhos fechados! Maldita mania! Ah, a arte de pensar negativo e sorrir... Como vou me conectar, me despir sem vergonha sem abrir os olhos? O mundo constrói este grade nos dividindo por idade, por gênero, por número, por grau... Enquanto somos pensantes animais emplumados hora franguinhos, galinhas, galos... Hora patinhos, gansos, cisnes... Mas estamos sempre presos pelos pensamentos, Pelos sentimentos... Não importa o lado da grade porque somos a grade! A luz voltou! Ufa! Ufa? Estão todos esperando... Esperando-me! O show tem que continuar! Vamos tocar!

quinta-feira, outubro 20, 2016

Absorção dos loucamente sãos



pétala por pétala pecamos em possessão
não nos juntamos para sermos flores
ao invés de sermos primavera somos verão

desbotamos em preto e branco todas as cores  
seguramos sem saber darmos as mãos

sinceramente surramos sonhos em solidão

rumamos rios rasantes até em um instante nos vermos ramalhetes
ao avesso atravessamos o coletivo e cada pétala passa a ser flor
seja onde for o aroma se espalha e une todo grão em um banquete

calha opinião guardada na mente desmoldada sem limites para absorver.


(Às 11h13, Rafael Belo, quinta-feira, 20 de outubro de 2016)

quarta-feira, outubro 19, 2016

Sobre tudo (miniconto)



Por Rafael Belo

A luz natural tinha chegado ao fim, mas o horário de verão ainda não roubaria uma hora da vida de Holane Hara. Ela precisava caminhar e, mesmo com todos os alertas de perigo, foi sozinha. O problema era Holane não querer ir para casa encontrar ninguém. Ela morava só e estava cansada de ser sempre precavida. Não queria mais prever e se prevenir contra nada. Concentrada em pensamentos saiu sem rumos e sem atenção...

Por que este som? Uau! Uma multidão ocupando toda a calçada e metade da rua. Estão todos nus...! Uma multidão nua...! Não estão exatamente desorganizados. Estão em um círculo ou algo assim... Mas o que significa tudo isso? Estão com símbolos pintados... Um são exatamente 50 pessoas e os desenhos não se repetem. Hum! Tem algo escrito, mas escondida aqui não consigo enxergar... Cadê meu celular? Ufa! Aqui! O zoom da câmera...

“Fora Rose”, “Fora Marquinhos”, “Fora todos”, “Fora vo...” Epa! Como assim? “Fora você que está espiando...” Não! Preciso sair daqui! Antes...! Tarde demais! Estão me olhando... Que sorriso estranho! Vou ligar pedindo ajuda antes... Me cercaram! E Agora??!! Meu celular não funciona... M....! Acabou a bateria! Mas, isso não é um filme de terror nem um pegadinha... Ou é?! Não há som nenhum, só um pesado silêncio... São todos mudos...!!!!!


Eles se mexeram! É agora!! Corre, corre, corre, corre corre corre... Onde estou? Não tem iluminação nenhuma! Espera!  Tira a mão de mim! TIRA!!! Por que esta escuridão??!!  Onde estão minhas coisas? Mas como...? Como...?!! Espera aí!!! Não! Não não não não não!! Minhas roupas!! Onde estão minhas ROUPAS! Eu não deveria estar sentindo frio?! Mas o que está acontecendo afinal? Será que foi isso que aconteceu com eles? Sinto-me estranha... Sinto-me fora de mim... Não consigo mexer a língua, meu raciocínio... Lento... Sinto-me uma flor atrás de outra flor...! Há um instinto de seguir, de coletivo, de despir, de desnudar todas as velhas opiniões sobre tudo... 

terça-feira, outubro 18, 2016

Peso morto



no fim da rua a vermelha cheia lua estaciona suas fases
lares do começo de outro caminho dos nossos internos mares
nuas marés vão nos inundando enchendo nossos olhos de praias
ressacas da insônia puxando para o mundo todas as vaias

para podres poderes um velho novo sujeito julgando
sujando conceitos com imunda alma apoderando burras palmas

preconceito de quem só sabe ser passado moldado aos absurdos
surtos da distorção da visão achando ter opinião quando não
é nada mais apenas um cais um demais ecoando abismos sem conteúdo

sem permissão olhos rasos são cegos cavam egos só afundam.

(às 10h59, Rafael Belo, terça-feira, 18 de outubro de 2016)


segunda-feira, outubro 17, 2016

Vamos nos permitir



por Rafael Belo

Eles estavam na rua de barba, saia e batom. Um círculo humano os protegia, os assistia, tentava acompanhar cada passo, cada fala e registrava, por isso os celulares, mas só um ou dois. Todos ali estavam presos na interação da performance dos dois homens... Seguiam a música de protesto e protestavam com o corpo. Nenhum carro passava até a nudez chegar a uma mão protegendo os genitais sem nenhuma reação positiva ou negativa do público, apenas extrema atenção. Os veículos passavam quase parando tentando enxergar, poucos disseram absurdos ou se comportaram como crianças mal educadas. Era um dia de lançamento de poesia sem julgamentos.

Foi um sábado cheio. Ali a dita subcultura, cultura underground era e é cultura sem regras, sem moldes, sem status apenas expressão e originalidade em um lugar chamado Anda Café que também abriga a Subcultura Records. Um local com vinis e um dos melhores hambúrgueres da cidade para reunir pessoas, arte, interesse sem qualquer preconceito só alimento para a alma. Voz e violão também completaram a noite, 24 horas antes Rodolfo Rodrigues preencheu o local com músicas autorais e interpretações próprias acrescentando aí o teclado. É na Joaquim Nabuco, 357 entre Dom Aquino e Marechal Rondon, a evolução humana passa por lá...

No entanto, os dias são curtos. Sai e fui sozinho assistir Fábio Rabin. Um entretenimento totalmente baseado em tornar engraçado a depreciação das coisas, dos fatos, do outro e da vida. Era Queimando o Filme o nome do evento lá no Glauce Rocha. Outro lado da cidade e a gente ri, afinal aceitamos qualquer coisa no nosso cotidiano e também podemos negar, mas deixar de participar nos priva de ter uma opinião e pode até provar a autenticidade de controlar o tempo nos mandando para quando dizíamos não gosto, sem sequer experimentar, ou simplesmente prova o quanto desperdiçamos a oportunidade de sermos autênticos. A estrela deste palco foi um filhote de morcego incomodado com os holofotes do stand up comedy. Ele deu rasantes e virou parte do show de diversas formas até cansar, se arrastar no palco, ser retirado do teatro e parar de assustar o stand upper.


Faltava pouco para as 23h quando terminou. Hora da fantasia porque desde as 22h já rolava um baile temático, mas não era Halloween, era se fantasiar e dançar. Então, lá estava o Flash, a Chiquinha (Chiquinho?), o Quico, Piratas, Coringas, Paquitas, Faraós, boneco de ar de posto de gasolina, mergulhadores, artistas de cinema, personagens de histórias e contos de fada todos dançando. Bailando até às 5h já no horário de verão. Provando o gosto da vida de outras formas com todos os ritmos, mostrando a arte e a cultura em toda direção, basta procurar para aprender, ter histórias para contar, aproveitar e se divertir.   Vamos nos permitir?

sexta-feira, outubro 14, 2016

Mais tarde (miniconto)



Por Rafael Belo

Amanheceu chovendo. Marita Ambiente simplesmente levantou e saiu correndo. Era Alice atrás do apressado coelho atrasado, mas não caiu no buraco e foi para outro mundo. Não. Marita estava no mundo dela. Tomando banho de chuva, banho de chuva no Ai, ai, ai da Vanessa da Mata. Pensando ser a necessidade dela e de todos. Girando de olhos fechados. Era totalmente independente. Gostava de estar sozinha sem dar satisfação para ninguém nem se preocupar com o temperamento do outro...  Achava é pouco e queria ser aquele momento, ser aquele ambiente e se camuflou enquanto a chuva virava tempestade.

Ouço a majestade dos pássaros... Já é tarde, mas e daí!? Posso até estar camuflada aqui, na chuva, na rua... Posso fugir... Mas, me destaco se abro os olhos, não é assim com todos? Nossa parece... Não acredito... Todos fazendo o mesmo... Isso é coisa de cinema. Mas lavar o corpo, lavar a alma é muito frio!! Menos vento São Pedro, por favor! Não enxergo mais nada. As gotas estão pesadas, parecem granizos... Será? Não. Está mais forte a chuva...

Acho... Hummm. Qual a direção da minha casa? Ai caramba! Estão todos no mesmo lugar ainda! Fazem parte da paisagem... Serei eu também assim? Trombei em alguém... Vou ter... Pronto... Abri os olhos de novo. É tão mais fácil ensinar artes marciais... Quanta gente... Quanta alegria... Não não não, não vou cantar mamonas hahahaha... Estou ficando louca... Está difícil respirar. A água vem com o ar... Preciso me acalmar! Qual é a direção de casa?!


Sinto-me aquela flor no meio de uma infinita paisagem nublada... Isso parece final de filme! Nossa! Bonito, forte, hummmm... Como muitos por aí... Não vou abrir a boca... Para nada... Não! Hoje não, meu bem! Muito obrigada! Sou mais eu! Seria tão melhor para ele me largar agora. Bom, eu avisei! Kkkkk Alguém uma hora vai enxergar esse aí e chamar um médico. Tenho coisas melhores pra fazer. Sigo em silêncio, sigo em pensamento... Porque agora não consigo tomar o mundo e não sou obrigada. Fui tomada pelo mundo e engolida pela tempestade. Tento de novo mais tarde...!

quinta-feira, outubro 13, 2016

Goma de mascar



medo mistura muita fome facilmente
mente se atrapalha paralelamente falha
escala novos neurônios velhas sinapses
no alta da cabeça faltam todos os encaixes

esqueça o esquecimento se camufla na sinopse dos ufa’s
escondido nas desculpas casuais do mundo da culpa

pó cinzas poeira chove de uma maneira de rolarmos na lama
nos prende na cama a uma altura longe da loucura

clara dos outros somos loucos mastigando mundos chiclé
gema sopros de vento preenchendo palcos com nossa maré.

 (às 13h58, Rafael Belo, 13 de outubro de 2016, quinta-feira) 

quarta-feira, outubro 12, 2016

Não quero nem saber (miniconto)




por Rafael Belo

Nunca foi a intenção de Hevra. Ela sempre quis mostrar ser a aparência tão temporária como um momento indo embora. Engolir este instante sem mastigar só prolongava a digestão... Ela até sente ser indigesto quando precisa se esforçar para ser quem é, mostrar conhecimento e inteligência pode ser tão exaustivo e Hevra chegou ao limite. Percebeu estar despercebida. Ela estava tão camuflada ao ambiente a ponto de não se reconhecer. Era mais uma invisível.

Onde estão meus amigos? Eii! Esta gente toda esta olhando para lugar algum? Branco? Não me lembro de ter vestido este branco também? Como pode tantas pessoas olhando na mesma direção sem ninguém bloquear a visão do outro? Só posso estar sonhando? Como cheguei a este ponto? Qual festa é essa mesmo? Por que não reconheço ninguém? Espera! Por que parecem não aparecemos naqueles espelhos?  Droga! Não queria estar com medo!  Crianças? Uou! Eu também sou criança!!! Mas... Mas...

Mas quando crescemos, afinal... ? Somos infantis, mas sem ser inocentes... Sem ser espontâneos... E, principalmente, sem ser sinceros... É sobre isso... É disso que se trata? Não reconheço ninguém ou nunca conheci de fato? Quero meu pai! Cadê minha mãe?! Não vou chorar, não vou chorar, não vou... Droga... Agora não consigo parar... Ei! Quero espaço! Saiam! Saiam! Não, não... Oi? Viriani ? Ok. Estou parando. Olhem só. Viram? Já parei! Vilor? É você?!


São todos os meus amiguinhos... Mas, mas, mas... Vocês sempre estiveram por aqui? Sempre estiveram por perto? Onde eu estive este tempo todo? Vou contar pra mamãe e pro papai. Decidi! Meu desejo é nunca crescer. Eu não quero crescer mais, ok? Agora eu era... Não essa sou eu! Falei primeiro...! Não vou parar de correr!  Não vou! Quem chegar primeiro... Quem chegar primeiro vai ganhar uma... Quer saber de uma coisa? Não quero nem saber!! Vamos brincar!!!

terça-feira, outubro 11, 2016

mastigação



tudo igual na colossal vitrine da noite
açoite do vento assobiando distraído
olhar pedinte camuflado na distância
estar alado na implicância ao lado do foragido

ânsia de levantar cada desejo traído
atraído pelo canto da esperança da sereia

areia de construção desviando o olhar do objetivo
deixando vermelhos olhos tratados como fingidos

ouvintes sem atenção forrando constantemente chão caídos

esconder-se na multidão delírio da ilusão mastigados mundos.


(às 11h37, Rafael Belo, 11 de outubro de 2016, terça-feira)

segunda-feira, outubro 10, 2016

Camuflados



por Rafael Belo
O quanto podemos esperar para nos permitir? Limitar-nos a ter a experiência do outro é pensar estar tudo definido. Impor-nos barreiras para evitar o nosso inevitável dom é morrer sem sentidos. Como viver sem experimentar, sem dar um passo adiante, sem sentir...? O que vivemos não serve para evitarmos, afastarmos, excluirmos e sim para lidarmos de uma maneira melhor com as situações e pessoas. É como estarmos sozinhos em uma balada curtindo e nos sentirmos obrigados a procurar alguém.

Há sempre olhares insinuantes e cortantes em busca de não terminarem sozinhos. Mas, o medo de ouvir um não, da rejeição deixa estes olhares parados ao avesso do motivo do contato. Olhar é a primeira aproximação, é a exposição das intenções em jogo, mas também há olhares jogando pelo melhor que a vista pode ver. Não estão sozinhos, estão descontentes, insatisfeitos com a escolha, porém foi uma opção segura e é arriscar e se arrepender ou ficar incomodado com aquela segurança insuficiente... Estão camuflados.

Permanecem olhando como se fossem o próprio ambiente. Não querem perder. Preferem o ditado melhor um pássaro na mão do que dois voando.  É isto mesmo produção? Vamos ficar no ok? Vamos aceitar o normal? Vamos esquecer que há sempre um lugar para voltar? Vamos é nos arrepender de não termos arrependimentos porque só se arrepende quem tenta, quem sai da caixinha, quem arrisca ser feliz apesar de tudo, quem não tem medo de pensar e agir, de falar o que sente, de lutar para melhorar...!

Somos nós que escrevemos nossos destinos mesmo sentindo sermos predestinados a certos caminhos. Não criamos uma vontade inabalável por algo impossível porque o impossível não existe. Precisamos escutar nossa alma. Ela conversa o tempo todo e está lá nos sexto, no sétimo, no oitavo sentidos... É nossa intuição querendo ser intenção até estar interação... Se ignorarmos quem somos e quem podemos ser passaremos a vida camuflados e faremos parte do ambiente ao invés de tomarmos o mundo para nós.

sexta-feira, outubro 07, 2016

Quem disse que flor é delicada? (miniconto)




Por Rafael Belo

- Olha amiga eu não quero ouvir falar de ninguém, ok? Vamos ser produtivas? Eu sei, eu sei... Me escuta... Posso falar? Obrigada. Ficar neste blábláblá falando de fulaninha, de cicraninha, de beltraninha... Fala a verdade!  Só dá ibope... Escuta... Deixa eu terminar? Então, parece que estamos inventando... É claro que não estamos... Eu sei, eu sei... Calma... O problema é que não temos nada a ver com a vida de outras pessoas. Quem fica mal na história somos nós. Precisamos dar uma de egípcias! Oi? Ah, não! Chega tá!? Não vou falar mais nisso! Depois a gente conversa!

Nossa! Por que essa insistência toda?! Gente é esse o motivo da dor no estômago. Viva o Google!!! Não posso mais me preocupar com o que dizem as outras pessoas! Mas, como faz isso meus Deus? COMO?? Se não acredito em ninguém vou ser desconfiada até quando? Ainda bem que não fiz esta pergunta idiota em voz alta... Preciso confiar em mim, não é? Acreditar na minha capacidade... Tenho que admitir: Meus pais estavam certos!

Não são meia dúzia de frutas podres que vão me fazer odiar frutas. Não posso ser destrutiva mais. Preciso pensar em todas as coisas ruins... Tantas aconteceram comigo e eu... Eu me fechei. Aqui estou em uma ostra sem saber ter tantos grãos de areia dentro de mim. Mas, vou descobrir e distribuir pérolas. Vou sorrir para as adversidades... Nossa! Quem fala adversidades? São dificuldades mesmo! Afinal, elas estão me preparando para algo, certo?


Estou me sentindo aquela flor que se destaca. Aquela que de tão perfeita, parece plástica... Mas, perfeição mesmo é a natureza com seus ciclos, tomando chuva e vento sem nenhuma proteção, sendo atacada por pragas, pessoas e outras formas de destruição... Olha só! Rimou! É uma sensação tão boa acreditar! Sentir a pele arrepiar, aquela sensação gostosinha na barriga e de repente temos um sorriso. Estou sorrindo mesmo!!???  Quem disse que flor é delicada?

quinta-feira, outubro 06, 2016

Alvo



Ideias e sentimentos se misturam nas hábeis mãos
pra cima vão pra baixo vêm e o equilíbrio nem sempre convém

cair e colocar o cérebro no peito o coração na cabeça pode ser aconteça
uma cerca de contenção separa as borboletas do estômago de quem?

concussão perdição dor nos olhos e um imenso esquecimento esqueça

as lembranças virão aos sons das trombetas espantando o desânimo
todo mundo em pânico correndo em círculos e para longe
onde se escondem as pessoas de verdade na raridade de ver o mundo?

a luz de fundo do palco vai embora todo agora se espalha voando gralhas
tudo é seco palha e queima de dentro do fogo o acreditar grita
acabou o jogo na viva pira o eu se tornou você inspirar transpira a mira e se inclina.


(Rafael Belo, às 16h18, 06/10/ 2016, quinta-feira)

quarta-feira, outubro 05, 2016

Lâmpada do céu (miniconto)



por Rafael Belo

Não sei se é a chuva lá fora ou toda esta angústia aqui dentro me revolvendo, me revirando tanto que não me aguento. Choro como chuva torrencial em sofrimento. Dói o estômago como um fenômeno de outro tempo me desfazendo, mas preciso me refazer. A louca falando em voz alta, gritando de desespero... Romã Arrulha como você chegou até aqui? Melhor parar de conversar sozinha antes que alguém apareça e me veja apagada, desanimada...

Gente! Nunca fui de falar assim... O que está acontecendo comigo? O que fiz da minha vida? Preciso me concentrar, parar de chorar... Não! Vou me dar o direito de chorar e desafogar meu peito e quando este mundo acabar outro já se inicia. Logo me acalmo. Este descontrole me mata. Este copo de veneno não deve ser bebido, esta cólera só vai gerar mais cólera, semear o ódio nunca dá bons frutos e porque insisto em comer estes frutos apodrecidos?

Não há mais o que chorar. A dor está indo.  O sinal já vai fechar... Pronto. Agora. Sorria. Concentra... Parece tudo em câmera lenta... Hoje estão todos sorrindo... Será noite de sexta-feira... Este calor destes malabares em chamas me aquecem, me acalentam, me ajudam a esvaziar toda esta bagagem para preencher novamente. Hora da reverência e mais sorrisos. Vamos. Você consegue. Eu consigo...! Peraí... Como assim!! É uma nota de ...


Porquê?!  Ele está sorrindo. Quanta alegria Meu Deus, meu coração está transbordando. Vou chorar novamente... Mas, é diferente... Nunca chorei desta forma antes. Estou sorrindo e chorando!! Parece que o sol vive dentro de mim. Parece que ele sabe disso... Ele está chorando comigo... Eu acredito!!! Eu acredito! Eu acredito!!! Sinto-me um pássaro descoberto pelo vento e por cada um dos seus... Quantas vezes na me formei e hoje vivo nas ruas...? Posso dizer que agora entendo um pouco... Preciso agradecer!!!! O sinal abriu... Me diz seu no... Obrigada..!!!!!!

terça-feira, outubro 04, 2016



Mente forte fortalece a sorte do corpo
copo de intenções impulsos dos sentimentos
momentos marcados metodicamente matam
tudo guardado reflete da pele para dentro e mede

desânimo pode ser sinônimo do antônimo físico
entregar os pontos para propagar o ciclo que se repete

bebe a sede e cede ao respirar profundo ao olhar o mundo
perspectiva de fundo em todas as coisas rasas

raras sãos as novas versões das sensações de cumprimento

pague o tempo deva ao vento leve a leveza para o caráter
lave o corpo lacre só para romper...
Quando chegar a hora vá embora vai acontecer.


(às 11h, Rafael Belo, terça-feira, 04 de outubro de 2016)

segunda-feira, outubro 03, 2016

Versões do impossível


por Rafael Belo

O artista espera o sinal fechar, veste seu sorriso e faz os malabares com graça e equilíbrio não é possível ignorar, mas o sinal abre antes do show terminar. Os motoristas disparam e não reparam na arte urbana, não contribuem, fingem não haver dignidade no trabalho de entreter e alegrar o cotidiano. É uma troca do cinza pelo colorido, do maçante pelo divertido, da cidade pela infância e até a esperança chega a nos abraçar novamente.  

São sinais das possibilidades da vida para erguermos a cabeça e investirmos em nós mesmos. Não só pessoalmente, na qualidade dos nossos relacionamentos e profissionalmente. Fracassos acontecem, derrotas se enfileiram, mas cabe somente a cada um de nós seguir em frente, escolher o que fazer, como reagir, mas reagir de fato. Temos que Investir em quem nós somos e quem gostaríamos de nos tornar porque se deixarmos a vida nos levar perderemos nosso propósito.

Nós precisamos levar a vida, remar com convicção e acreditarmos no nosso potencial. O desamor, o ódio, o rancor, a desesperança e a mágoa não podem ter lugar em nós. É amargo e solitário o caminho de conflitos sem solução, de ataques gratuitos, de traição... É lamentável o ser humano se permitir rastejar, ir tão baixo a se confundir com o ventre das cobras, mas da mesma forma é triste e deprimente ver pessoas jogando seus dons e possibilidades pela janela escura da noite.


É visível nem sempre ser possível dar flores ao invés de espinhos porque, às vezes, ações e reações mais duras são a solução. Mas, perder a ternura, a capacidade de acreditar no outro e em si, não é só uma derrota física e mental, mas espiritual. Endurecer não pode ser uma situação definitiva, precisamos ser flexíveis, porém, ética e moralmente são as únicas versões do impossível da qual não podemos nos mover um milímetro e nosso caráter é nossa força.