sexta-feira, novembro 18, 2016

Para chorar e molhar (miniconto)




por Rafael Belo

Ruas vazias assombravam o coração cansado dela. Mas, a mente também estava em uma irritação que o machismo logo diria ser TPM... Não desconfiavam que o motivo do cansaço dela fosse justamente o machismo impregnado, principalmente, naqueles a se dizerem contrários. Naquele dia, Hariam já tinha distribuído tapas nas caras dos abusados e obrigada a ser grossa diante das grosserias... Não! Ela não queria se acostumar e não iria. Ela saia para se divertir, não estava procurando peças faltando porque não faltavam peças.

Coleciono desilusões, mas minhas esperanças incrivelmente, contrariadamente, se fortalecem porque não sou iludida. Não mais... Sei a quantidade de ilusões vivida pelos casais com medo de não encontrarem alguém, de não estarem sós nem por um segundo... Até há pouco eu pulava de um relacionamento para outro sem me conhecer mais. Acorrentava-me em um vicioso ciclo de carência, me anulava por migalhas vivendo vazia, vagando dentro de mim sem nenhum trilho porque tudo foi levado na calada da noite, enquanto eu dormia.

Tinha medo sim de ficar sozinha. Doía só de pensar, mas sempre tive amigos, família, todo o apoio e incentivo que meus relacionamentos “inexplicavelmente” não traziam nunca me davam... Eu me sentia um animal magro pastando sempre o mesmo pasto e em grupo só por comodismo, não havia conversa, não de verdade, era só uma busca por conforto, por reconhecimento, afinal, era um grupo de casais, mas acaba uma terapia do silêncio incômodo na velha ditadura do quintal do vizinho ser mais verde... Quantos absurdos minha mente pensava...


Não sou nada frágil. A fragilidade habita nestes acúmulos de plágios que aceitamos ser e o pior é plagiar quem fomos ontem. Fui tanto plágio de mim mesma que foi difícil achar minha origem, minha fonte... Não vou deixar de ser gentil pela carência dos outros. Vou continuar dando chances para mim mesma. Darei uma e outra e outra e mais outra... Até quando quiser que dê certo, com alguém realmente de valor e valores. Uma boa relação, uma relação boa... Quando tomei esta decisão senti respostas imediatas de agradecimento. A mente parecia acender um luminoso escrito gratidão e o coração batia em código Morse uma reverência. Eles é que ficavam mais confusos... Vou mudar o verso de “Lágrimas e chuva”, do Kid Abelha: a vida é sempre um risco, não tenho medo do perigo, lágrimas e chuva são para chorar e se molhar, vou me arriscar!

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