segunda-feira, janeiro 09, 2017

A hipocrisia da ignorância seletiva



por Rafael Belo

A hipocrisia da ignorância seletiva fica perdida nas palavras, se esconde nos desatos. Esta falta de ato fica na fala. Nós falamos tanto e ouvimos tão pouco há tanto tempo que é de se admirar estarmos admirados com nossa vida hoje. O otimismo exacerbado, exagerado mesmo, nos faz acreditar sempre na cegueira na qual vivemos. Não é segredo, assim como é palpável de tão real, termos pensamentos negativos, nos irritarmos, sermos pessimistas... É natural como respirar. Claro, é algo passageiro ou deveria ser.

Passageiro como as crises e os políticos. É fácil achar um culpado e jogar todas as outras culpas nele. A exposição é menor. Mas a profissionalização da canalhice, da corrupção criaram duas espécies de políticos: os profissionais e os profissionalizando. Isso desde o início desta espécie. Eles entram no jogo do poder para poder fazer algo de suas promessas. Pode não ser troca em dinheiro, cargos, cabide familiar, tráfico de influência, peculato, esta forma de corrupção em si, mas este meio contaminado e falido troca favores para sobreviver, para mostrar serviço, para ter algo aprovado, para ter pauta positiva nos jornais, para ser lembrado, tudo é planejado – nem sempre bem, mas o é.

Promessas deles e de nós mesmos também são corrompidas, deturpadas, adulteradas mesmo, ou simplesmente interpretadas da melhor forma para se justificarem, para nos justificarem. Podemos até não sermos de todo hipócritas, mas há muita hipocrisia em nós. Usar a máxima: não é possível fazer omelete sem quebrar os ovos, é a desculpa perfeita para seguirmos atalhos para o frigir dos ovos, para termos a refeição, mas será que estamos tão bagunçados, tão indiferentes, tão frios a ponto de não ligarmos para o significado de quebrar os ovos?

Podemos sempre ver o lado bom de tudo, mas não podemos descartar os lados ruins porque – a não ser que exista um dano, uma contaminação – há 50% de chance de dar errado e, óbvio, 50% de chance de dar certo. Há perigo em toda parte, a vida e o clichê do risco... Não somos rótulos incapazes de sentir diversos sentimentos conflitantes ao mesmo tempo sobre a mesma situação, sobre a mesma coisa, sobre a mesma pessoa. Só é mais hipocrisia não admitir isso e não agir diante dos fatos é simplesmente covardia.


Nós precisamos ter em mente que nós criamos os nossos próprios monstros e, por ausência, presença ou omissão, ajudamos os outros a criarem os deles. Ser humano é imperfeição, é erro, mas não podemos usar estas obviedades para seguirmos andando para trás perdidos nas palavras, escolhendo a ignorância da vez. Esta seria a única loucura: viver no famoso passinho do moonwalk. Esta caminhada lunar é apenas um passo de dança e é para trás. Que tal escolhermos caminhar para frente? Para existir agora é necessário reagir.

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