segunda-feira, abril 24, 2017

Desencalhe a língua preta



por Rafael Belo

O mundo é tão vasto e vivemos presos por uma cerca fraca em um local minúsculo. Talvez até andássemos oferecendo o nosso melhor, mas sabemos qual é ele? Podemos até ter as melhores intenções, mas sabemos qual é o efeito delas? Vivemos jogando vários jogos de azar e nos desafiando em um jogo sem vencedor. Lá fora estão as possibilidades, mas estamos desconectados aqui dentro, por isso estamos agrilhoados com uma corrente inexistente a um local invisível. Gostamos do humor, mas não queremos limites até tudo nos atingir. Nas redes virtuais há um animal real. Uma baleia. Baleia azul. A esta altura você já deve saber sobre o assunto e o vê de qual maneira. Vejo não bastar à incitação ao suicídio vir agradável como desafio da baleia azul. Precisamos ironizar, encalhar a ideia sem nem ter contato com os envolvidos. O mundo está frio. Este calor aparente é isto: aparência. As pessoas estão sim distantes e se alguém pensa em tirar a própria vida: está só sim. É uma epidemia dos nossos tempos. Ao mesmo tempo estamos conectados com tanta gente, somos populares nas redes sociais e estamos em um isolamento social.

O sentimento do outro não vem estampado no rosto, não está nas ironias, indiretas, no cotidiano é um desencadear sorumbático de um banzo moderno feito do que não se teve, do que não se viveu. A minha geração já tinha pouca atenção dos pais. Eles queriam um mundo melhor para os filhos, filhos melhores para o mundo... Foi-lhes pregada uma nova forma de melhor ligada à necessidade inconstante de enriquecer, de dar comodidade, do bom e do melhor, de não querer que os filhos passem privações… Aí ao invés da infância surgiam os cursos intermináveis… Pressões antecipadas da constante capacitação para a sobrevivência dos adultos.

Hoje o acesso ao mundo virtual irrefreável fez os pais libertarem os filhos de quase tudo. Se antes sempre havia alguém para cuidar, ameaças veladas para obediência, até palmadas... Agora não há tempo de estar presente, só compensações. Mas quando se escolhe estar presente, quando não sufoca a cria, deixa ela livre para se fechar, fazer o que bem entender. Cada um oferece aquilo em do próprio conhecimento, do próprio poder...  Não vamos julgar. Vamos cuidar do próximo. Ouvir. A baleia é um ser gigante submerso cheio da necessidade de emergir às vezes para respirar. Azul pode ser confundido com o deslocamento das águas marítimas. Seu sangue quente e vive em águas frias. Ela consegue ficar de 20 minutos a 1 hora sem respirar, mas morre encalhada na praia.


Ela não sua. É o mesmo que sairmos de preto no deserto do Saara ao meio dia. Além disso, o peso extremo dela pressiona seus órgãos e, às vezes, mesmo resgatada pode ser que morra pelos danos. Estes antes aumentaram ainda mais a própria dor. Pré-adolescentes e adolescentes vivem o mesmo como um distúrbio direta ou indiretamente sofrem pressão em casa e do mundo. Quando não tem atenção necessária então… Nós já passamos pela fase ou nunca saímos dela? Tanto faz. Todos temos nossas responsabilidades maiores, menores só sabe medir quem as carrega. Precisamos de privacidade? Claro. Mas, não somos oniscientes, onipresentes e nem aprendemos a ser incondicionais. Precisamos conversar! Vamos conversar! Respeitamos todos, podemos dar espaços para todos, mas precisamos estar atentos e dar atenção para as pessoas. Não temos controle de nada, quem dirá dos outros. Seja parente próximo, distante ou amigos se não for dito nenhum sinal do mundo é o suficiente para termos quaisquer conhecimentos. É preciso de senha para entrar, ou seja, da autorização. Então, vamos nos conectar a vida.

2 comentários:

mãe solo disse...

Ótimo texto e útil para um bom debate.

olharesdoavesso disse...

obrigado Vi! todos precisam falar sobre