sexta-feira, abril 28, 2017

Um novo eu (miniconto)




por Rafael Belo

Vejo as coisas pela metade não tenho idade para sair pela cidade. Minha sanidade não tem lugar. Minha mentalidade ninguém pode alcançar. Há uma insanidade apontada nas ruas e eu vejo da lua o quanto as pessoas estão nuas. Da lua também vejo as ruas... Estou em mais de um lugar. Não são minhas ideias ou suas. São duas ao mesmo tempo. São do livramento. Um conflito sem entendimento. Personalidades opostas na dualidade interna de mim mesmo. Sinto-me um nevoeiro cobrindo o mundo. Não há superfície nem fundo e vou a um mergulho em um submundo tão particular a ponto de me faltar ar.

Tenho água por todas as partes, não vejo como chegar a minha superfície. Sou estandartes dos seres do mar. Sou imensa uma baleia azul encalhada em mim mesma. Não tenho nome, não tenho fome, mas há um sobrenome insistindo em me levar pelas ondas deste meu mar. Talvez eu seja a anaconda da lenda engolindo tudo, mas me sinto mesmo uma serpente qualquer querendo trocar de pele, trocar quem me adere, mas quem me fere mais sou eu... Preciso me trocar somente e qual a melhor forma de ser diferente, adstringente, inconsequente, resiliente, independente?

Renascer. Querer ser novo. Sentir outra dor e ser outro eu... Não! Um novo eu! Não preciso sair do meu corpo, arrancar meu cérebro, me matar... Quero saber lidar... Com esta dor de ser! Não vou deixar me manipular. Está ouvindo? Não vou!!! Minha vida pode não ser nada, mas não vou me suicidar... Não vou por esta saída inacabada. Preciso focar, encontrar outra estrada e construir minha própria jornada. Preciso desabafar! Ouça-me! Dê-me atenção por um minuto. Saia desta sua bolha de ilusão acústica, se livre desta tua mentalidade rústica da facilidade da vida. Nestas idas e vindas já deveria saber sobre a diversidade dos ângulos desta tal verdade...


Mas será vaidade achar: vai me escutar? Quero viver! Entrosar e desentrosar quando quiser. Não venha me questionar, mas pode conversar, perguntar, quem sabe acredite se importar? Genuinidade pode parecer ingenuidade, mas as aparências ainda seguem sem ser realidade. É tudo tua mentalidade distorcida pela singularidade da sua vida, pelas suas escolhas oferecidas, às vezes a frieza é bem-vinda, necessária, porém, prefiro coisas aquecidas ou entretidas para se aquecer. Lá vem o amanhecer destes dias frios. Deixe- me enlouquecer mais uma vez. Vou nua nestas geladas águas para despertar esta minha vontade de não fazer nada, de ser mais uma escrava da fonte desativada... Vou ativar o céu avistado em mim mesmo estando nublado.

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