sexta-feira, junho 23, 2017

Uma hora eu vou chegar (miniconto)



por Rafael Belo

Acordei coberta de sangue e nenhuma ferida, então, obviamente, o sangue não era meu. A primeira coisa a vir na mente foi: de novo! Seguida de: o que eu fiz desta vez! Não sentia dor nem satisfação só vazio, igual das outras vezes, mas não me pergunte quantas, por favor! Nem venha com este seu machismo velado achando que mulher não é capaz de certas coisas. Somos sim! Eu sou capaz de tudo. Sempre gostei de aliviar minhas frustrações lutando. Desde menininha. Minha mãe me criou sozinha e não queria... Eu não deveria ter nada abusivo na minha vida. Nem você. Ninguém...!

Têm muitos fazendo hora extra a merecer muita desgraça na vida, mas não sou eu a desejar. Deus me livre! Quero paz! O problema é... Bem metade de mim quer paz e a outra guerra. Nem sempre o cotidiano ajuda a alimentar meu eu certo, sabe? Eu sei! Você sabe exatamente como é.  Controlar-se o tempo todo, fazer cara de paisagem, ignorar os assédios... Mas, eu tenho a tecla F...-.. latente. Bem no meio da minha testa só precisa saber em qual modo estou. É ótimo estar em modo de combate, mas não fica longe estar em modo “não vejo nada nem ninguém, nada me afeta”.

Vou ser direta. Não se aproxime. Há algo em mim e ao meu redor cobrindo meus rastros. Porque, aqui entre nós, eu deveria ter sido executada. Além disso, você deveria saber de alguma forma sobre isso. Estive no oriente e quando dei por mim estava exatamente assim... Nos Estados Unidos, a mesma coisa... Na Europa... Havia um corpo em meus braços... Não quero falar disso. No entanto, na África... Deve ter sido um momento de total loucura. Eu só poderia estar alucinando. O deserto estava vermelho viscoso úmido e isso não é possível. Ainda mais gotejando de mim todo aquele deserto de sangue... Não sei se sou uma pessoa ou algo, algo, algo... Diferente!


Quero tanto a vitória da minha paz, mas é tão bom este poder fazer o meu querer com qualquer um e em qualquer lugar. Talvez este seja meu papel, meu lugar... Devo ser exatamente aquela ênfase: causa perdida. Eu sou A Causa Perdida! Ah, mas não queira me encontrar! Eu sinto sua necessidade de liberar a raiva, de descontar todas as coisas erradas em algo, em alguém, eu sou a Punidora! Não tente revidar... Aliás, tente vou gostar de um pouco de resistência. Só não vou me lembrar de você. Talvez amanhã você inexiste e seu sangue esteja na minha pele porque uma hora eu vou chegar em você.

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