segunda-feira, outubro 16, 2017

Envelhecer




por Rafael Belo

Envelhecer é complexo. Não pela idade em si, mas pelo abandono. Você já esteve em um asilo? É triste ver pessoas com uma longa trajetória na vida terminarem ali totalmente carentes e solitárias. Não importa a qualidade do lugar e das pessoas ainda se parece com um depósito de gente. Há lares para idosos com hotéis onde é possível deixar aquele patriarca ou aquela matriarca hospedado enquanto a família vai viajar? Você acredita? Parece não haver dignidade depois da aposentadoria...

Mas, pode ser pior em casa quando se depende de terceiros, quando há maus-tratos, quando o idoso é impossibilitado de fazer qualquer coisa por lesão, deficiência ou limitação da idade. Pode estar tudo na mente, mas qual mente se mantém sã sem incentivos, tratada como um animal de estimação? Abençoados àqueles capazes de serem independentes, àqueles se superando diariamente... Eu convivi com três dos meus avós e pude ouvir e testemunhar a força deles, beber de fonte da experiência, principalmente da minha avó materna um dos principais motivos de eu ter vindo para Campo Grande.

São humanos, óbvio. Nem tudo eram flores. Mas, como se diz ela era uma velhinha porreta que fazia o que bem queria quando queria... Era independente de todas as formas, não precisava pegar ônibus e viajava muito. Animada que era também era turrona. Hoje vejo o desgaste da minha mãe. Tantas coisas ficaram no caminho e querendo ou não ela está sozinha. Não pode ter a mobilidade desejada, mas é muito parecida com minha avó. As preferências já não são suficientes porque não há respeito. O idoso fica horas em pé quando não pode, fica pendurado no ônibus enquanto pessoas mais jovens e mais saudáveis fingem estar tudo bem.


As pessoas sempre tiveram medo de envelhecer e agem como se fosse uma doença ou nem existisse. Não adianta negar. Os idosos são ignorados o máximo possível, os cabelos brancos são arrancados, pintados, as plásticas são divididas no cartão, oferecidas pelo SUS e a indústria cosmética corre contra o tempo para criar antirrugas, antimarcas, colágeno e tudo para retardar o envelhecimento, mas ele chega. A síndrome de Peter Pan pode nunca ser curada, a idade pode ser para sempre negada, a aparência pode ter manutenção diária, mas a velhice vai bater na nossa porta, tocar campainha, interfone, até ter a chave e entrar. Aceite, se respeite, respeite o próximo, curta quem você é e jamais deixe de respeitar os mais velhos. Ah, não esqueça: Todos vamos envelhecer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Deu saudade dos meus avós...
Esse descaso etário não é social..mas sim algo ruim do caráter familiar.
Pra constar.. Tenho síndrome de Peter Pan�� Cinthia