8 Minha terra sem posse, meu banho nu de despossessão... Captei nos fundos de casa...
Por Rafael Belo
Contrariando todos os clichês de desaparecimentos e abandonos, ele reuniu todos os milhares de amigos reconhecidos pela vida e anunciou sua morte. ‘Estou morto!’, gritava para os rostos de interrogação, ‘Estou morto!’Eles o conheciam há tanto tempo e ao mesmo tempo desconheciam o significado daquelas duas palavras tão reveladoras e sem necessidade de muita explicação. A única pessoa a o entender foi a única ausente e ele lamentava isto no fundo de seus olhos perscrutadores.
Ulisses parecia poder ouvir cada mente. Os conhecia bem, mas nunca achou ser imprevisível demais para ser compreendido. Agora não importava. Ele calou-se depois de repetir as duas palavras excêntricas, afinal, quem não está morto? Mas, ninguém ousa dizê-lo... Quanto mais admitir... No centro de todo o burburinho se formando, coexistiam várias fogueiras. Não era mais possível saber os detalhes do material a mantê-las acesas... Para Ulisses, elas tinham cheiro de ‘já foi’. Um aroma pertinente de um passado ditador de quem ele era até então. Não mais. As fumaças subiam e o despersonalizavam de seu antigo nome não revelado. Era Ulisses e ‘ninguém’ mais.
Em sua Odisséia pessoal coletiva fez cada um dos presentes se conhecerem no decorrer de sua vida. Com isto estava satisfeito. Mas quando o sol raiasse novamente... Ele não existiria mais como uma peça política a querer o sorriso e o agrado de todos. Não mais. Sua insatisfação consigo mesmo o fazia desejar sua própria Ilíada. Queria se lançar e se encontrar quem sabe em um conjuntos de mares únicos e distante. No entanto, sua água salgada seria temperada por ele.
Esta festa seria sua Ítaca final. Odisseu também seria seu nome se o chamasse assim... Poderia ser Homero. Queria mesmo descobrir-se por si mesmo sem referências, sem bibliografia, sem qualquer existência a o preceder. No arder daquelas fogueiras estava sua então existência social: roupas, identidade, fotos, escritos, relatos, trabalho, números, som, textura, imagem, digitais... Apagou cada vestígio de lembrança gustativa, degustativa, visual, vocal, olfativa, tátil de todos ali. Aos poucos se misturou até sair sem ser percebido. Saiu de costas precavido...
Ele estava descalço com um saco de estopa no corpo e o desconhecido a frente. Não era ninguém além de um anônimo. Estava feliz com todo o seu não ser e se foi.
Eu quero tirar minhas sandálias e pisar tbm, caminhar nesse lindo lugar.
ResponderExcluirSenti falta de ler primeiro do que os outros hahahahaha.
Beijos, Belo
Adoro sua versatilidade... como vc passa da poesia, para mini contos, pequenas crônicas... isso tem nome: talento!
ResponderExcluirBj
Muitoo bomm! Adoreiii!
ResponderExcluirrsrsrs tire bela, tire :D logo deixará de sentir bj
ResponderExcluirObrigaduuu querida sublime, Lelezinha, bj
Obrigado Bertinha, bjs