segunda-feira, setembro 03, 2012

Adolescência chega aos 30 sem tocar na juventude


por Rafael Belo
Sair do conforto da situação na qual estamos nem sempre é dar um passo à frente, mas é dar um passo. Caminhar parece ser o terrível medo de nós humanos. Partir do ninho é o segundo passo, o primeiro é conquistar a liberdade materna e paterna. Mas, diante de tanta proteção ou a extrema ausência dela, há o medo das mudanças e sempre é mais cômodo tatear por onde podemos andar cegos sem trombar com os móveis imóveis neste ambiente já conhecido por nós. Ir para o desconhecido é o risco de crescer e hoje a adolescência já chegou aos 30 sem tocar a juventude.

Mas, este congelamento mental é consequência da infância estendida até os 20 e poucos anos. Claro, para os privilegiados a terem quem lhes paparique e superproteja além do prazo de validade. Não há de se pensar muito para ter a garantia das reações a tanta inação, a tanta falta de encorajamento. O tudo posso, tudo quero, tudo tenho, tudo de alguma forma ponho as mãos... Esta insegurança maquiada com segurança nas posses vela uma inveja. A inveja incendiada é o mal real do nosso tempo Neandertal sofrido na ausência de sentidos, na ausência de querer algo além de agilidade e aceleração, menos quando se trata envelhecer...

Não são todos inativos, mas a audição, o tato, o olfato, a visão e o paladar já estão anestesiados com receitas de farmácias paraguaias, o sexto sentido está confuso e o prazer é o único aqui com olhos de Argos, aquele punido por espionar Zeus a ter milhares de olhos para sempre permanecer alerta e vigilante – para resumir. A gula também nos devora. Sempre queremos mais sem limites. Aqui é onde o paradoxo amplia uma ponte longa feita de cordas e tábuas sequenciais e nós damos o primeiro passo sem nos abalarmos pelo balançar constante porque precisamos abrir a janela e passar para fora da nossa caverna.

Porém, os passos seguintes podem ser em linha reta ou ascendentes. Depende da ambição e do orgulho nos preenchendo, depende da raiva, das mágoas e das pedras atiradas porque podemos estar construindo um castelo firme e milenar ou retirando todo nosso alicerce para um vento de boatos e confidências nos ouvidos silenciados. Observar, analisar e raciocinar são algumas das funções do cérebro armazenador – e da visão - de experiências, conector de sentidos, nossa evolução, mas há muito anda cheio de teias de aranhas, areia e alguns até limpinhos, contudo pesados e dependentes de outrem. Enquanto isso, ficamos vivendo picuinhas e indecisões como se ainda estivéssemos aquém da nossa idade cronológica...

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