por Rafael Belo
Sair do conforto da
situação na qual estamos nem sempre é dar um passo à frente, mas é dar um
passo. Caminhar parece ser o terrível medo de nós humanos. Partir do ninho é o
segundo passo, o primeiro é conquistar a liberdade materna e paterna. Mas,
diante de tanta proteção ou a extrema ausência dela, há o medo das mudanças e
sempre é mais cômodo tatear por onde podemos andar cegos sem trombar com os
móveis imóveis neste ambiente já conhecido por nós. Ir para o desconhecido é o
risco de crescer e hoje a adolescência já chegou aos 30 sem tocar a juventude.
Mas, este congelamento
mental é consequência da infância estendida até os 20 e poucos anos. Claro, para
os privilegiados a terem quem lhes paparique e superproteja além do prazo de
validade. Não há de se pensar muito para ter a garantia das reações a tanta
inação, a tanta falta de encorajamento. O tudo posso, tudo quero, tudo tenho,
tudo de alguma forma ponho as mãos... Esta insegurança maquiada com segurança nas posses vela uma inveja. A inveja incendiada é o mal real do nosso
tempo Neandertal sofrido na ausência de sentidos, na ausência de querer algo
além de agilidade e aceleração, menos quando se trata envelhecer...
Não são todos inativos,
mas a audição, o tato, o olfato, a visão e o paladar já estão anestesiados com
receitas de farmácias paraguaias, o sexto sentido está confuso e o prazer é o
único aqui com olhos de Argos, aquele punido por espionar Zeus a ter milhares
de olhos para sempre permanecer alerta e vigilante – para resumir. A gula
também nos devora. Sempre queremos mais sem limites. Aqui é onde o paradoxo amplia
uma ponte longa feita de cordas e tábuas sequenciais e nós damos o primeiro passo
sem nos abalarmos pelo balançar constante porque precisamos abrir a janela e
passar para fora da nossa caverna.
Porém, os passos
seguintes podem ser em linha reta ou ascendentes. Depende da ambição e do
orgulho nos preenchendo, depende da raiva, das mágoas e das pedras atiradas
porque podemos estar construindo um castelo firme e milenar ou retirando todo
nosso alicerce para um vento de boatos e confidências nos ouvidos silenciados. Observar,
analisar e raciocinar são algumas das funções do cérebro armazenador – e da
visão - de experiências, conector de sentidos, nossa evolução, mas há muito
anda cheio de teias de aranhas, areia e alguns até limpinhos, contudo pesados e
dependentes de outrem. Enquanto isso, ficamos vivendo picuinhas e indecisões como
se ainda estivéssemos aquém da nossa idade cronológica...
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