Por Rafael Belo
Aquela situação já não
enxergava o limite ultrapassado há tempos. O nervosismo e a brutalidade das
palavras tomaram uma forma ainda não encarnada antes em ninguém. Foi se
transformando aos poucos naquela incontenção e transbordou dela feito obra pública
mal estruturada com toda sua qualidade desviada para outros fins... Enfim, ela
já não era ela. Ela já era... Seus sentimentos sem sintonia sintonizavam em
outras línguas e não era nenhuma inspiração divina o motivo. Um porvir alcoólico
desvirginaria aquele sangue não batizado.
Mas, batizar o sangue e
marinar os órgãos passariam por um conservar interno só possível depois de
juntar os disformes cacos da alma estilhaçada. Podia-se dizer então que era
impossível. O álcool a aguardar ela era de uma concentração quase proibida. Até
aquele ponto, ela nunca aceitou ingerir nada alcoólico. Sempre recusou - invariavelmente
irritada - a oferta dos amigos. Eles a acusavam de não saber viver, especulavam
alguma doença e insistiam irritantemente para se lubrificar do entorpe.
E sempre foi assim...
Recentemente ela havia perdido todas as suas conquistas, belezas e - como não
era Jó – negou sua situação ao máximo até não ter mais suas carências supridas
por aqueles homens efêmeros e os massageadores de egos genitários colhidos em
locais escolhidos a dedo. Ficou insustentável e julgou Deus por seus problemas.
Logo invadia o primeiro bar furreco fechado cometendo dois atos em um só, nunca
antes sequer pensados por ela: invadiu e roubou. Quando perdeu as contas não
havia mais bebida alcoólica alguma. Seus pedaços estavam tão estilhaçados a
ponto de não haver surpresa não ter morrido de coma alcoólico. Era o começo do
fim da madrugada.
Nas primeiras horas solares,
ela estava em pé, esbravejando. Não teve sucesso em promover seu atropelo. Não era
porque os motoristas não queriam livra-se dela, mas porque queriam preservar
seus veículos em bom estado. Como ficariam seus planos se houvesse alguma
alteração na rota destinada? Indigente e em um mar etílico próprio, exalou mais
forte aquele virgem odor para seu corpo, prostrou-se no meio da rua e esperou
para sempre um atropelamento digno de sua situação... Chorava cinza e suava
fumaça.
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