Miniconto - Cilada
do Sonho
por Rafael Belo
Cilada. Só podia ser. Mas
ele ainda não sabia. Estava acordado no sonho e consciente que sonhava. Cedeu - contrariado - tudo. Não soube dizer
não nem a si mesmo. Não sorriu, não abraçou, nem olhou apenas deixou ser
sorrido, abraçado e olhado como se fosse um reflexo. Não sabia quem era o
explorador onírico. Melhor, sabia, mas preferia sonhar não saber e ignorar. Há muito
não dava satisfações de seus feitos e para compensar até assinou papéis de
sanidade. Consciente. Ele estava consciente da cilada, mas se entregara. Queria
outra realidade naquele sonho.
Quando conseguiu se
estapear e acordar do sonho acordado, já era toda a manhã. Sua consciência
pesara e pesava como se cometesse suicídio e continuasse lá. O inferno era ele
mesmo e um pouco... Bem ele não queria ter a certeza, mas a tinha. E nada tinha
de pouco. Pouco agora era ele. Um acúmulo de seu eu cansado. Acordado ele não
mais ficaria. O outro ele estava lá com domínio motor e, quase completo, mental.
Ele era uma pontinha de sentimentos positivos sem forças, no momento.
Tinha relances dos
olhos, mas sentia tamanha pressão, que não passava disso. Relances. Raros relances.
Agora ele era algo adormecido colhendo sobras e restos desinteressados e cheios
de boa vontade vazados daquele ambiente hostil e ruim. Ambiente hostil e
ruim... Era isso seu... O corpo agora. Ele era um hospedeiro de si. Pode isso seu Juiz? Agora
não adianta questionar. Até porque eu já sei a resposta. Eu sou a resposta. Tomei
tanto do meu veneno que me transformei em um conto de fadas às avessas e eu sou
o adormecido.
Quando
“o que sobrou de bom” sobrevive neste entorpecimento: Prisioneiro de mim. Eu
hospedeiro... O hóspede maldito está lá fora e ainda sou eu. Não consigo
acordar deste sonho acordado. Estou paralisado, sem foco e sou
só uma sensação passageira. Mas, não era assim este eu acordado? Sonhando
desperto a minha... A Vida?! Não me reconheço nesta sagacidade malandra
acabando comigo. Sou uma sombra dentro da minha própria sombra. Estou de olhos bem abertos, mas não sou eu mais...!
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