(Miniconto) Invasores
por Rafael Belo
Estava
tudo vazio e destruído. Vestígios de uma guerra declarada. Haviam algumas
brasas espalhadas por diversos pontos e uma leve brisa começou as espalhar as
cinzas. Distantes daquelas ruínas modernas dois grupos falavam de terras,
propriedades, um de frente para o outro. Se um viajante do passado ou do futuro
surgisse certamente duvidaria ter se deslocado pelo tempo. Poderia muito bem
estar há 500, mil ou três mil anos ou então ter avançado para daqui a 600, 1,2
mil ou cinco mil anos.
Aos
poucos o vento imperceptivelmente aumentava e o fogo falso morto se atiçou. As
brasas já eram um incontrolável incêndio. Os gritos dos grupos eram tão fortes
a ponto de abafar aquele consumo desenfreado do fogo. Aquele conflito sem fim
entre os eternos colonizadores e colonizados não permitiu ninguém perceber o
cerco do perigo. Quando o ar se esvaiu e as tosses dominaram os grupos. O fogo
mandava, habitava e terminava de destruir aquelas terras.
Em
poucos minutos todos pareciam iguais. Suor e cinzas eram a cor da pele, o tipo
de cabelo e a cor dos olhos. Respirar era necessário, mas queimava como se o ar
fosse fogo. A pele ardia como se o suor fosse álcool. De súbito todos começaram
a se mover lentamente. Tiraram as camisas, aqueles que as usavam. Tiraram as
calças e sincronicamente chegaram até um antigo poço ao lado de um depósito de
pedras feito à mão. Não tinham muito tempo.
Silenciosamente se molharam,
molharam os panos que rasgavam e enrolavam na cabeça deixando apenas os olhos
de fora. Enquanto outro grupo pegava a ferramenta que encontrava e sulcava o
chão sentindo os pêlos expostos queimarem. Durante horas de desmaios e
chacolejos para despertar, água e terra eram atiradas ao fogo que lutou muito,
mas não resistiu.
Feito
o trabalho, cada um tentou "desmisturar" do outro grupo. Estavam exaustos. Não
conseguiram a proeza. Ao invés disso, foram cedendo ao cansaço e caíram como
estavam. Acordaram com gritos de ordem e papéis de ordem judicial de
desocupação. Não se sabe aonde arrumaram tantos camburões. Mas, couberam todos.
Todos misturados, sem documentos e sem argumentos de que não eram invasores.
Eram só suor e cinza. Eram apenas invasores e estavam encarcerados.
Texto magnifico! Os invasores de nossas vidas estão por ai...querendo silenciar...serem donos da verdade...nesse texto podemos ver muitas situações do nosso cotidiano! Parabéns! mays
ResponderExcluir