Aquele
sopro (Miniconto)
por Rafael Belo
Aquele sopro de brisa
soprava toda vida lá fora. Balançava as janelas e chacoalhava cada árvore. Uma conversa
sussurrada ao pé do ouvido da cidade. Carícias das folhas, dança na noite em
ritmo de agradecimento na harmonia do tempo não compreendido pelo seu passar. Mas,
do outro lado da janela havia olhos ansiosos, carentes por tanta força e
beleza. Levemente luminosos entregues ao preenchimento deste sopro, prestes a
abrir a casa para a brisa entrar.
Silenciosamente amanheceu. A brisa continuou. O sopro estava rouco, pois abafava o oposto do silêncio, ditador das cidades. Mas aqueles olhos estavam lá fora agora. Não fechariam as janelas novamente. Chacoalhavam, sussurravam, sorriam. Iam e vinham com olhos de crianças que deixaram de ser infantis sem perder a sinceridade, a surpresa, a curiosidade, deixaram se levar pelo ar. Árvores livres tocando o céu, a terra, sendo tocados pelo ar no sopro mantendo o fogo aceso esperando a chuva se misturar.
Olhos que olhavam
fascinados. Obstinados a ter em si um pouco do sopro e muito de vida. Levaram
todo o corpo para uma jornada da alma. Então, não cabiam portas. Abriram-se as
janelas suavemente com a oscilação da brisa. Os olhos seguiram o sopro e saíram
pelas janelas. Voaram pelo lado de fora da imaginação. Aposentaram as asas do
olhar, transformaram suas raízes fixas na terra em aéreas e foram chachoalhar
suas folhas, sussurrar carícias da noite.
Silenciosamente amanheceu. A brisa continuou. O sopro estava rouco, pois abafava o oposto do silêncio, ditador das cidades. Mas aqueles olhos estavam lá fora agora. Não fechariam as janelas novamente. Chacoalhavam, sussurravam, sorriam. Iam e vinham com olhos de crianças que deixaram de ser infantis sem perder a sinceridade, a surpresa, a curiosidade, deixaram se levar pelo ar. Árvores livres tocando o céu, a terra, sendo tocados pelo ar no sopro mantendo o fogo aceso esperando a chuva se misturar.
E a chuva vem como orvalho
soprado, mas ainda é garoa formando formas, molhando bobos, encharcando livres
saídos de todas as janelas atentos e dispersos para voar com o vento, ser
movimento daquele primeiro sopro, pouco, porém intenso como uma única alma
coletiva vestindo o vazio equivocado, evocado de uma solidão criada pela poesia
que na verdade é uma imensa multidão sufocada pela dificuldade de expressar
este sopro mais aqui dentro que lá fora.
Às vezes é mais difícil trazer à tona certas coisas, certos sentimentos. Ocultar pode ser mais fácil. Porém, às vezes, é necessário exteriorizar, mesmo que seja doloroso.
ResponderExcluirAh, eu vou procurar seu texto no estilo do "Não foi à toa, pacato cidadão" ;) Cheiro grande, Rafael.