por
Rafael Belo
Sempre
chego à Orla Morena tentando ser imperceptível. Paro, olho, escuto... Observo
cada um ali. Recentemente o número de fumantes de narguile aumentou muito. Então,
há muita fumaça ao redor e no meio de quem está ali dançando... Nada agradável.
Fora o desrespeito intencional ou não de outros sons altíssimos rolando ao
redor. Enfim, nem sempre consigo chegar e não ser visto. Quase nunca, na
verdade. Mas, no último domingo consegui ficar em silêncio. Forçado, mas
silêncio. Fiquei afônico. Minha voz se foi e etc... Isso me permitiu dar uma
atenção a mais.
A
particularidade das pessoas dançando... Ah, sim para quem desconhece em Campo
Grande existe um rolê de dança permanente aos domingos à noite chamado Zouk Na
Orla... Voltando, é singular realmente. Não há padrões para dançar. Cada um se
sente à vontade no próprio corpo e conecta a música a ele e a quem estiver
dançando junto. É um relacionamento puro, sem distinção alguma. Quem assiste da
arquibancada de um palco ao estilo mini Coliseu, vê diversão, sorrisos, alegria
e estamos falando sem distinção de sexo, raça, classe social nem gênero.
Eu
vejo desta forma um objetivo de qualquer tipo de relacionamento. Amizade, Amor,
Família, trabalho, cotidiano... É clássico, é clichê, mas fato. Basta prestar
um segundo de atenção ao redor e vai explodir no nosso rosto a quantidade de
desencontros na vida. Enquanto uns relacionamentos começam outros terminam e
cada um traz o que preferir destes ou aquilo que não conseguiram superar ou
precisam se curar para prosseguir. Por isso, não acredito existir só um caminho
para nós. São desafios diários e constantes onde precisamos parar de
desencontrar com nós mesmos. Nós nos relacionamos primeiro com a gente mesmo e
em seguida encontramos alguém ou alguém nos encontra... Não há regras além do
respeito. Mas, fazemos ao contrário começando a achar que nos encontramos no
outro, a nos relacionar com o outro sem sequer nos conhecermos ainda e tudo
bem...
Sabe
se lá quantas vezes vamos nos aprisionar para entender que ser livre não é ser
sozinho, nem estar só, mas somar ao outro e preservar o espaço deste indivíduo.
Claro, nós conseguimos ser solitários, ficarmos sós e é saudável e é possível,
mas eu só cresço de verdade quando compartilho, quando falo, quando converso,
quando estou com outras pessoas. Não importa a quantidade de livros convertidos
em conhecimento pessoal, os diplomas colecionados, as línguas faladas, o
emprego, a empresa, o veículo, o quanto me divirto, as posses, as quantidades,
se nada acontecer daí...
Por isso, tento
zerar todos os dias, respirar fundo e ir. Simples. Olhar o outro, sorrir e não
fugir das possibilidades. Nós ainda não chegamos a atingir nossa capacidade de
Amar. Estamos aqui, pequenos, querendo algum tipo de controle em uma relação
quando, como na dança só precisamos ouvir, dar a intenção, expressá-la de forma
a ser entendível e deixar o outro livre para criarmos juntos “A” conexão, a
relação, então aos poucos nossa pequenez se agiganta.
Que lindo!
ResponderExcluirObrigado :D !!
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