por
Rafael Belo
Caminhava eu sozinha em busca de mim
mesma quando vi à frente muitas mesas. Havia esquecido completamente de mim. Foi
minha entrega às artes que me trouxe a tona de minhas profundezas na primeira
vez e, ali à frente, sobre a mesa eram outras coisas já possíveis revelando o
fundo. Garrafas vazias, restos de comida e o silêncio afogado junto às
mágoas... Era um espaço fantasma abandonado ali naquele ponto escuro da cidade.
Havia todo tipo de arte exposta. Roupas, pinturas, desenhos, poesias, encenações
teatrais, músicas, danças...
Mas, as pessoas estavam todas no chão. Não
sabia se era ilusão, loucura ou morte súbita por problemas internos. Se esta fosse
a causa da suposta morte eu... Comecei ali mesmo contar qualquer coisa capaz de
me matar e contei vários corpos de meus eu’s na mente. Sobrevive das migalhas,
dos favores daquela caridade de quem detesta Cazuza, daqueles juízes, júris,
vizinhos, colegas colocando pedras em cada morte que me ajudavam a morrer...
Estava internada no hospício proibido do
mundo. Levava choques da hipocrisia diária ao vivo. Meu nome já foi Valorização
Silva, acreditem... Filha de artistas tem nomes insensatos ou sensatos demais
dependendo o que for a sensatez... Pensando bem, se é que ainda sei fazer isso,
esta história pode nem ser minha. Já pensou se tudo que você sabe sobre você
fosse sobre outra pessoa ou pior fosse a história de todas as pessoas capazes
de mostrar outros caminhos para ver os detalhes da vida e o todo dela?
Há vozes por aí dizendo de alguma forma
o que queremos dizer não tem? Até hoje eu não entendo como oferecem dinheiro de
somas impensáveis pelo meu corpo, por sexo e não querem pagar um real pelo que
almas e corações revelam, expõem criam do nada, esculpem da inexistência...
Compramos coisas caríssimas e nos endividamos, mas pagar para ver, ouvir,
refletir, dançar é um absurdo... Tem algo me chamando para este templo apagado
cheio de luzes... Será suicídio seminal? Estendo minha mão e pergunto para o
Nada: quem vem comigo?E vou só!
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