por Rafael Belo
Contando bem só fui abordado pela polícia duas vezes na vida. Sempre andei à pé por toda parte sem pensar muito no assunto. Cansei de ver notícias, fatalidades, ouvir relatos pessoais e de terceiros, mas nem passou pela minha mente eu estar correndo riscos além dos usuais no meu dia-a-dia. Pensando bem eu tentar me sentir ótimo com o que visto pode ter alguma influência e ao mesmo tempo um balanço entre “abordagem” policial e marginal. Até ser dito em voz alta, não pensei na possibilidade de ser uma questão de pele.
No último sábado à noite (18/08/2018), a atitude e a tranquilidade aparente podem ter evitado o pior. Estávamos para passar a fronteira entre Brasil, Ponta Porã e Paraguai, Pedro Juan quando cruzamos uma avenida passando por uma viatura policial. Seguimos um desses aplicativos de mapas - quase certeza Waze, mas talvez Google Maps - quando a viatura veio atrás sem alarde. Eu pensei que queria apenas passar. Abrir espaço. Nada. Meu amigo, Gus, disse o que não era óbvio pra mim. Parei e logo decidi estacionar mais a frente. Os policiais não fecharam o carro, não ficaram atrás, nem se aproximaram imediatamente. Eu desci desorientado. Não lembro exatamente o que disseram, mas um deles estavam com uma escopeta automática engatilhada junto ao corpo em 45 graus apontada para baixo, mas para o chão. O que conversou não sacou a arma.
Eu fui até eles. Lembro que queriam saber porque eu não obedeci a placa proibindo virar, para onde eu ia, se o carro era meu, mas não encostaram em mim. O mais próximo que chegaram foi para pegar a minha CNH e os documentos do carro. Insistiram na história da infração de trânsito. Não discordamos. Plural porque perguntaram quem mais estava no carro e mandaram descer também pedindo o documento. Só explicamos que seguimos o aplicativo e não sabíamos do erro. Mostramos e mesmo assim pedimos desculpas. Não havia o que fazer. De repente, parecia que ninguém mais estava nas redondezas Perguntamos do local que nos foi indicado para comer Lomito eles falaram dos perigos do Paraguai praticamente dizendo que poderíamos morrer por lá.
Para deixar o clima menos tenso, perguntei onde eles recomendariam comer já que aquela altura já sabiam que meu amigo era músico e o local que tocaria. Da viatura ouvi a consulta direto à Polícia Federal… Não havia qualquer ação para ser feita. Devolveram nossos documentos e seguiram para onde iríamos: rumo ao Paraguai. Nos voltamos sem nenhuma explicação e sem comer. Passara a fome. Passamos pelo mesmo lugar da convergência confirmando a ausência de quaisquer sinalização e proibição. As explicações dadas pelos locais e amigos para o ocorrido não fizeram sentido e ainda não fazem. Comecei a reparar a ausência de negros e até de morenos. A não ser dois que contei. A Questão de pele É uma possibilidade, levantada pelo meu amigo. Eu estava de toca de frio, óculos de grau, jaqueta de couro preta, camiseta preta de caveiras, calça preta rasgada nos joelhos e tênis preto.
Mas ainda não sei o que houve… Sobrevivemos para contar mais uma história que, felizmente, terminou bem.
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