por Rafael Belo
O que vem me incomodando desde o ano passado é minha distração. Minha não, nada me pertence. Parece uma desassociação. Um vírus de computador me distraindo no momento que decido fazer algo, começo a fazer outras coisas naquele lugar que fui para fazer só o algo decidido e volto sem fazer nada. Meu cérebro está tão vasto que me sinto perdido de repente. Dissociado em uma dissolução insolúvel na água cristalina, vou colecionando abandonos feito por mim mesmo.
Mas nenhum problema vem sem solução. Ando me experimentando. Desconecto de tudo e de todos. Ainda mais os que me são caros e importantes. O resultado é uma desmemória, um dessentimento. Diria até, uma desolação. Não me pertence. Imagino e sinto com empatia isto ser o sentimento ou a ausência deles nos desesperançados. Nos apegos pela depressão também. É algo sombrio ignorado, afastado mediocremente na superfície deste amontoado de poeira que nos tornamos.
Adoradores de políticos e das coisas estamos esquecidos de que somos feitos. Buscamos um sucesso material, levantamos diariamente arrastados para melhorar por algo, por alguém, por dinheiro, matamos nossos sonhos ao invés de matarmos os dragões. Matamos Sancho Pança e Dom Quixote há muito tempo... Não vejo sentido ou objetivos no que ando vendo por aí. Só vejo ódio, desculpas e mais do mesmo. O mundo ainda é aquele da Idade das Trevas onde a inveja e o medo imperavam e nos matavam brutalmente.
Avançamos em tudo material, mas regredimos espiritual e humanamente. Esta é a maior distração do mundo, além de pensar que somos felizes sozinhos. O plural do mundo é o singular de cada pessoa e há uma Guerra Fria de mundos distorcidos e vazios colidindo com nossas possibilidades de ser. Estamos agora tecendo nosso inferno de silêncios e pedras. Escolhemos sermos pedras ao invés de caminhos e estamos nos atirando com toda força para o nada, para um apocalipse das relações humanas.
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