por Rafael
Belo
Só seguiam
sensações em mim. Arrepiava minha pele, pequenos espasmos sorriam meu corpo
todo. Eu estava aliada a uma imensidão incompreensível pela mente. Parecia não
haver necessidade em mim de respirar o invisível respirava por mim. Tudo me
inspirava e profundamente me sentia nos pulmões da Natureza. Naquele silêncio
particular eu era coletiva, era singularidade e extensão, um ontem e um amanhã
costurado com raios solares me amanhecendo de novo ali. Eu estava no todo do
meu mundo não havia meu gênero feminino, não havia coisas concretas nem
abstratas. Ali eu simplesmente era.
Reparei
estar vestida quando senti aquele tecido de algodão roçar minha pele, contornar
meus seios e via das curvas da minha mente a necessidade de me despir de tudo.
Assim o fiz. A brisa me trouxe de volta. Eu não conseguia parar de sorrir. O
privilégio de poder chegar em um lugar onde só a natureza habitava há tanto
tempo. Um lugar perdido. Sou grata por esta perdição. Voltei a ouvir aquela
cachoeira e pude ver a água, turva pelas chuvas na nascente, ficar lentamente
transparente. Fechei os olhos e caminhei até a beirada escorregadia daquele
penhasco. Eu estava em paz...
Lembro-me
apenas de estar lá embaixo em um lapso proposital de tempo. Nunca amei tanto a
vida. Nunca me amei tanto. Aquele era o ponto dos milagres. Onde a mente era
alma fluindo pelo corpo e tudo era possível. Eu ouvia meu coração e minha
respiração. Os ouvi silenciosamente durante toda minha jornada até ali. Olhei
ao redor quando lembrei da minha mochila. Não foi difícil a encontrar. Se eu
fosse tomada pela lógica afirmaria estar alucinando e questionaria ouvir algo
além daquela cachoeira com quase 500 metros de queda. Avancei e me sentir
enraizar nas pedras e depois pela areia molhada. Ao mesmo tempo meus braços
esticados eram a água e o ar.
Não era
mais complexamente mulher. Era a Sereia destinada do lugar. Eu me equilibrei
com o tempo, com o som, com o espaço... Éramos sintonia. Aquela música cantava
naquele lugar desde o início dos tempos. Ciência, mitologia e divindades se
misturaram em mim. Quando abri os olhos não sabia se era déjà-vu, memória,
vivência ou premonição. Sabia ser minha maior inspiração. Só não tinha certeza
se aquela tela viva, consumindo quem não inspirava, deixaria o mundo sobreviver
a ela.
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