por Rafael Belo
De braços abertos, ela girava. Chovia. Ela estava alagada. A água não ia para lugar nenhum. Só acumulava dentro dela separando o deserto como se houvesse repulsa entre os dois, não atração. Mas ela precisava sentir. Ela caia, sangrava, levantava, caia, sangrava, levantava, caia, sangrava, levantava… Ainda sem sentir nada neste ciclo de dor. Sem tal dor existir. Assim, se via ela: inexistência. Assim se apresentava. Desconstrução refazendo sua morte cheia de views na esquina da Afonso Pena com a interdição da 14.
Sou vazia ou estou vazia? Vejo da janela de mim mesma. Janela embaçada de lágrimas presas às meninas dos meus olhos. As pupilas dilatadas como se minha vida fosse um monte de drogas e eu cheirasse, injetasse, deixasse debaixo da língua e fumasse… Só que sou só. Sou só eu careta. Não quero me programar. Não quero me entorpecer. Eu quero sentir. Quero saber onde estou. Alguém sabe? Não sei se sou perdida ou perdição e vivo fazendo pedido de conexão...
Para acelerar outra morte minha. Aumentar os views, compartilhamentos e curtidas de meu corpo vazio, quebrado, atrapalhando o tráfego e derrubando os pedestres vidrados na realidade fria da tela quente. Enquanto olho vazia, tão vazia que a escuridão treme de frio e a explicação congela as línguas mais ligeiras e espertas. Dizer que eu não sinto nada eu ilógico. Talvez eu deva me apresentar como ilógica. Eu só quero sentir de novo. Viver outra vez.
Porém, só faço é rodar e sangrar como uma dublê qualquer de corpo e espaço. Perdi minha mente, perdi meu corpo, parou meu coração, onde está minha Alma? Você sabe? Esta frescura mata! É calamidade pública focada no suicídio! Eu ausência de desejo, de significado e eu só cavo mais estampando na pele pendurada em ossos um sopro de desesperança emaranhado às mentiras perfeitas dos meus perfis digitais. No entanto, se me reconhecer na rua e tiver coragem de me olhar nos olhos… Lá nas minhas profundezas de uma depressão destratada como virose: nada vai encontrar.
Às 10h07, Rafael Belo, segunda-feira, 06 de maio de 2019, Campo Grande-MS.
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