8 Qual é a chave embaçada para a sua prisão interna aos pedaços de uma casa corpórea? Tirei esta depois do conto concebido...
por Rafael Belo
Havia o medo da invasão. Por isso, o pavor tremia por entre os escuros daquela casa vazia... Apesar das dezenas de portas fechadas... Era tudo velho e inseguro. Lá no fundo a porta mais distante rangia, segredada. Da porta para a parede havia feixes de vidro permitindo enxergar lá fora. Pero caminhou até esta extremidade e olhou para a luz invasora, bem ali pelo buraco da fechadura.
A maçaneta foi forçada em um estrondo surdo para dentro. A porta chacoalhava. A luz cessara. Uma lima começou um vai-e-vem pelo buraco da fechadura. O barulho de fricção entre os sulcos do ferro da ferramenta e o metal do vão com o exterior povoavam os ares de esquecimento da morada. De joelhos pero arriscou ver pelo vão, sem, no entanto, encostar a vista. A meia-distância tudo em seu olhar era uma chave de um chumbo fosco a girar pelo lado de fora nas engrenagens da porta. Onde estava a luz? De onde surgiu a chave? Ele olhou através dos feixes, mas nem sombras haviam do outro lado. Mesmo assim, a porta era forçada, a lima se movimentava e a chave continuava lá no tom do impossível.
Um rangido brusco de um alívio sonoro de finalmente ser aberta, veio daquela porta. Mas, estava fechada... A contragosto, Pero vistoriou ao redor e a passos firmes, cansados, quase arrastados retornou ao seu quarto. Nada podia fazer. Deitou. Ouvia os barulhos da noite. Não sabia se era sonho ou se pela décima vez na semana ficara paranóico a ver de novo apenas sons na sua casa abandonada.
Com a sola dos pés sob os lençóis de domingo, desconhecia se tremia ou se sua cama começara a sacudi-lo unicamente na parte oposta a cabeceira. Com os olhos dilatados pela escuridão, o coração distante de tão disparado e o corpo rígido de arrepio, hesitou em acender o abajur até acendê-lo. Sua perna estava realçava levíssimos espasmos musculares. Nada capaz de balançar e a mover cama ao encontro da parede... Apesar do calor e das janelas fechadas, um vento fantasma soprava as cortinas e gelava o quarto. Pero ignorou tudo exausto, fechou os olhos e sonhou.
Pero era uma lembrança na casa. A casa certamente se lembrava dele quando ele não era um invólucro oco, seco... A casa foi abrindo suas lembranças pelas paredes e tetos. Os pisos e azulejos soltavam e as rachaduras viraram portas da noite. Pero era um ponto paralelo de algum parágrafo onde ele aparecia em todas as linhas, olhasse para cima olhasse para baixo. Parecia tudo estar sem “tempoespaço” e sombras nos corredores estreitos da casa de todas as portas fechadas bruxuleavam. Pero era as sombras de vários vácuos de épocas de sua vida. Ele havia se repartido e emparedado. Alimentava-se do estoque para alimentar a solidão.
Mas, as paredes cediam. Tudo viria a baixo. Pero precisava sair. Pero precisava se juntar e deixar de ser sua sombra. Ele se levantou de seu coma induzido e circulou sua cama hospitalar. Não atentaria mais contra a vida. Sua vida. Como das inúmeras vezes vestido do kafkaniano artista da fome ou da incorporação da obra balzaquiana sendo a “fidelidade” uma prisão onde se fingi estar para prender o outro, chegou ao limite de estar preso dentro de si, da sua casa conturbada de “fidelidade”. Não! Jamais fugiria de si novamente. Prometeu... E pela primeira vez em tempos se vestiu sozinho.
Fantástico Rafa! Simplesmente incrível! Vc disse e acertou: ADOREI! Muito mesmoooooo!
ResponderExcluirBj
Podemos fugir de todos... mas nunca de nós mesmos!!
ResponderExcluirbj
Uaaaaaau... o melhor.. O melhor de todos que li.
ResponderExcluirSurpreendente.
Não adianta fugir de nós mesmos. Podemos abrir qualquer porta para fugir, mas a nossa... nunca poderemos.
Beijos, Belo.
OO Lelezinha querida. QUe bom heheh. obrigadoo bjs linda;
ResponderExcluirJamis Déa hehehe
OO Naty sabe que eu concordo hehehe obrigadooo beijos belíssima