*(Não sabia se o reflexo distorcido era a imagem ou a imagem distorcida meu reflexo de visão, mas a beleza está aí para quem quiser ver... Captei de uma varanda boa há seis dias)
Por Rafael Belo
Enfermidades o estava dilacerando e laceravam também seus caminhos. Senva havia ficado surdo muito cedo quando levou um tiro na cabeça ainda bebê e a bala atravessou seus tímpanos. Por destinos possíveis foi a única sequela. Mas, com os climas incertos assolando o mundo e enlouquecendo meteorologistas, um ruído mudo o vinha perseguindo. Ele sabe ser o som dos ventos presos em seus corredores, impaciente por liberdade. Pelo menos eram as descrições daqueles antigos livros que encontrou como escavador, aliás, arqueólogo. Eram escritos do fenício antigo...
Todos os seus sonhos eram internos e imaginados, mas estes ventos não vinham totalmente de dentro. Havia seu próprio vento correndo em seu interior, mas este ele chamava de Alma. Nestes últimos dias, sua Alma parecia chamar todos aqueles assovios incorpóreos... Como desbravador da presença contínua do passado, ele possuía um sopro, não... Um pequeno suspiro de medo, porém havia tornados e furacões o silvando na direção deste desconhecido. Senva estava em casa esperando sentir um padrão nos seus ventos particulares e parecia que seus particulares ventos faziam o mesmo.
Seu silencioso mundo parecia realizar a ação das pessoas aos poucos. Sim a surdez, a cegueira era falsa. O mundo enxergava o quisto e o não quisto. Mas ouvir... Ah, ouvir era... Bem era porque hoje eu sou um guia contando minha história de um passado recente... Enfim, era um ato raro. Partes de cada conversa eram ignoradas, como se tivéssemos a capacidade de abaixar o volume dos ouvidos ou simplesmente conferir a programação de uma outra estação repetindo, hora ou outra, um gesto de assentimento e às vezes de negativa.
Eu no meu isolamento... Compreendi tarde o prenúncio dos meus ventos particulares. Cada um no planeta tinha os seus particulares ventos como vidas inteligentes estudando ângulos e luzes para o melhor momento de captar o silêncio para sempre. Mas os deles não emitiam som algum. Quando percebi o porvir os ouvidos do mundo sangravam e aos poucos as bocas deixaram de se movimentar se não fosse para dilacerar alimentos. Por instinto, creio, eles vieram a mim e escreveram seus males mudos, um a um. Até agora leio vidas nas telas de um mundo sem sons. Sou Senva Guia e ainda não contei a nenhum deles que este foi apenas um suspiro de medo diante dos ventos fortes a ‘porvirem’ soprar e soprar.
4 comentários:
Bela imagem Rafa. O belo captado do que há de mais simples. :)
Que lindo isso...
Fiquei aqui pensando nos meus ventos, na minha alma, no que eu erradamente já chamei de alma e nos ruídos que tentei evitar ouvir, os que vinham de dentro.
Belo texto, gostei muito.
Um beijo.
Belo texto, Rafa! O blog também está lindo.
Beijos
Irresistível natureza Jamy, obrigado linda;
Que bom que gostou Luna escritora, me diz muito isso, obrigado;
Agradecido querida De, bjs.
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