por Rafael Belo
Ele estava preso em suas orgias trabalhistas de horas extras
e coberturas. Passava 24 horas recebendo novos trabalhos, novas encomendas e virava
as noites se arrastando entre um serviço e outro assombrando seus sonhos com os
barulhos de suas correntes, afastando a vida com os sustos de suas ausências. Era
tudo para uma vida – esta da qual não participava – ser melhor. Era um receber sem
comer direito ou se alimentar demais. Era um receber sem destino, pois, o
futuro vinha, ia e no fim não chegava. Ele se consumia feito um canibal
capitalista lendo era uma vez...
Leitura esta a beirar a indecência capital no escravizar a um
dinheiro a o desejar de tal forma e com tamanha lascívia a deixar o ultraje
rigoroso profundamente envergonhado. A imoralidade não custava, recebia. Neste constante
receber a prisão uivava por mais, mas era destemperada e ele sabia não ter
sentido... A anestesia não permitia quaisquer percepção, sensação e
entendimento de toda aquela atuação vívida se desfazendo feita a verdadeira
miragem diante dos espelhos. Enfeites do encontrar desencontrado de um
despedaçar de um ser não juntado.
E... Aqueles olhos se esvaziavam ao encontrarem seus escuros
e obscuros reflexos apáticos em um encarar oco ecoando um vácuo entre um
receber e outro. Um despropósito inconsequente de um planejamento arbitrário para
uma vida futura, para a ausência presente, para uma negação confusa significando
o querer sempre receber. Desconhecendo o distante doar enterrado em algum
coração vagando em um deserto de mágoas irreconhecíveis sob um teto de ovos
apodrecidos na delicadeza de soltar o verbo correto, desenhar o sorriso da
alma, apertar o abraço da sinceridade acolhedora... No haver das entranhas...
Havia um entranhamento visceral tão estranho a ponto dele não
existir... Pelo menos ele era invisível fora de suas funções assinadas na
carteira de trabalho. Por dentro sua pequenitude sofria o efeito da gravidade
em um abismo sem fundo, em uma ilusão encontrada matando a sede na lagoa do
oásis. Sobre estas águas alusivas caminhava sua sombra. Um fantasma de si
procurando voltar a si... Ao longe vinha
um acolhimento. Eram vários encontros possíveis passíveis do, então,
estranhamento. Mas as reações nunca eram medidas ou especuladas e uma arma
carregada surgiu diante do armado abraço. Foi um som seco, uma queda sem quique
e até ao amanhã as correntes tilintam.
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