Lobos
por Rafael Belo
O corpo costuma viver em contradição simplesmente por não
resolvermos uma totalidade, só partes de nós. É neste momento que o
autocontrole é destruído. E nossa casca, receptáculo da alma se sensibiliza e
potencializa outros sentimentos de outros. Como se a empatia explodisse em
todos os rostos assistindo ao telejornal depois do feriado e, ao menos por um momento,
doesse ver as dores naquelas histórias distantes contadas na
em reportagens na televisão. Como se não soubéssemos da verdade... Aquela na
qual só daremos o valor preciso quando a fatalidade nos bater.
Você, então, quer uma coisa e seu corpo não responde. Está pesado.
Caímos na depressão e a depressão caiu em cima de nós. Há algo estranho. Nosso corpo
é estranho. Todo este estranhamento passa feito um vulto veloz bem na visão
periférica do nosso olho já não tão bom assim. É um estado de choque evitado. Mas
nos desequilibramos e passamos dos limites, inclusive do nosso próprio egoísmo.
Sintomatizamos nossos silêncios e nossos exageros. O corpo reage e de repente
estamos doente por de alguma forma nos negligenciarmos e pelos paliativos
automedicamentos.
Dói cabeça, olhos, estômago... Os mais prejudicados. Por isso,
refletir, pensar, silenciar e falar tem seu tempo e suas necessidades vitais
para não nos acometermos na premonição de nossas fatalidades. Vivemos em guerra
não declarada... Se discorda me responde qual seu momento de paz? Não
precisamos estar sempre munidos de balas, pedras e línguas afiadas. Nosso olhar
e nosso sorriso são desarmes avassaladores. Se atiramos, apedrejarmos e
espalharmos veneno a reação em cadeia vira um ciclo viciante e vicioso.
Se não nos resolvemos quem o fará. Não aja sozinho haja o
que houver. Precisamos ao menos, abrir a mão, os braços, o coração, mas antes
de tudo é preciso abrir os olhos. O Homem precisa deixar de ser o lobo do Homem
e lutar junto pela própria melhora e consequentemente do mundo. Lutar um contra
o outro na prevalência do mais forte é o mesmo que virar as costas para o
Estado e deixar os fracos agonizarem. Se seguirmos nesse canibalismo silencioso
devemos nos destituir do significado de humano...
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