segunda-feira, novembro 05, 2012

Nossa Hidra interior


Nossa Hidra interior
por Rafael Belo

Pensamos sermos imunes a perda e ao contrário sempre perdemos algo. Nossa insegurança e falta de propriedade de nós mesmos deveriam nos mostrar não sermos donos de nada, principalmente do amanhã. Mas com nosso hábito de abrirmos os braços e abraçarmos o mundo, falta prioridade. Sobra vontades indefinidas porque ao olharmos adiante está tatuada a paisagem permanente insistindo em ser um nevoeiro leve, mas suficiente para nos perdermos.

Somos treinados educados para vencer, vencer e vencer, por isso, toleramos a derrota - não a aceitamos. Criamos subterfúgios para a decepção tornar-se um paliativo, um genérico com outros méritos. Claro, estes méritos existem... Só não acreditamos totalmente neles. Esta descrença vem da clareza forma escolhida pelos pais e sociedade de nos criarmos. Praticamente definidos por linhas escritas por extensões paternas, religiosas e sociais. Por mais exceções sermos, não há esta total fuga mesmo se tentamos ser constantemente os anti-heróis.

Perder é uma hidra. Esta espécie de dragão mitológico nunca perde as sete cabeças de serpente por mais a serem decepada. Nascem duas no lugar. Só o odor e o hálito do ser causam tormento mortal. Os pescoços precisam ser queimados e a cabeça central – a imortal – enterrada. Só assim o animal da mitologia morreria. Talvez em algum ponto da História Antiga surgiu o lugar-comum: perder a cabeça. Ou talvez era usado na Roma Antiga porque muitos a perdiam literalmente... Mas o regenerar da nossa cabeça perdida leva um tempo de luto maior ao teatral feito por nós.

Perdemos o tempo todo e sabemos disso. Nesses nossos momentos de irritabilidade, instabilidade e de moral dúbia a perdição é indispensável. Perder é uma necessidade por mais contraditória ao nosso aprendizado, aos nossos anos escolares, a esperança, a fé, aos nossos pais e desejos deles e nossos. Difícil é aceitar o equilíbrio entre perder e ganhar...  Mas mais... Mais além do significado de perder, o da morte deveria pairar em cada uma de nossas derrotas. Devemos priorizar na nossa lista de afazeres quando qualquer coisa cortar e cauterizar as cabeças serpentes da nossa Hidra interior e depois enterrar a cabeça principal e colocar uma pedra em cima. Quem sabe com um epitáfio.

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