Nossa Hidra interior
por Rafael Belo
Pensamos sermos imunes a perda e ao contrário sempre perdemos
algo. Nossa insegurança e falta de propriedade de nós mesmos deveriam nos
mostrar não sermos donos de nada, principalmente do amanhã. Mas com nosso hábito
de abrirmos os braços e abraçarmos o mundo, falta prioridade. Sobra vontades
indefinidas porque ao olharmos adiante está tatuada a paisagem permanente
insistindo em ser um nevoeiro leve, mas suficiente para nos perdermos.
Somos treinados educados para vencer, vencer e vencer,
por isso, toleramos a derrota - não a aceitamos. Criamos subterfúgios para a
decepção tornar-se um paliativo, um genérico com outros méritos. Claro, estes
méritos existem... Só não acreditamos totalmente neles. Esta descrença vem da clareza
forma escolhida pelos pais e sociedade de nos criarmos. Praticamente
definidos por linhas escritas por extensões paternas, religiosas e sociais. Por
mais exceções sermos, não há esta total fuga mesmo se tentamos ser
constantemente os anti-heróis.
Perder é uma hidra. Esta espécie de dragão mitológico nunca
perde as sete cabeças de serpente por mais a serem decepada. Nascem duas no
lugar. Só o odor e o hálito do ser causam tormento mortal. Os pescoços precisam
ser queimados e a cabeça central – a imortal – enterrada. Só assim o animal da
mitologia morreria. Talvez em algum ponto da História Antiga surgiu o lugar-comum:
perder a cabeça. Ou talvez era usado na Roma Antiga porque muitos a perdiam
literalmente... Mas o regenerar da nossa cabeça perdida leva um tempo de luto
maior ao teatral feito por nós.
Perdemos o tempo todo e sabemos disso. Nesses nossos momentos
de irritabilidade, instabilidade e de moral dúbia a perdição é indispensável. Perder
é uma necessidade por mais contraditória ao nosso aprendizado, aos nossos anos
escolares, a esperança, a fé, aos nossos pais e desejos deles e nossos. Difícil
é aceitar o equilíbrio entre perder e ganhar... Mas mais... Mais além do significado de
perder, o da morte deveria pairar em cada uma de nossas derrotas. Devemos priorizar
na nossa lista de afazeres quando qualquer coisa cortar e cauterizar as cabeças
serpentes da nossa Hidra interior e depois enterrar a cabeça principal e
colocar uma pedra em cima. Quem sabe com um epitáfio.
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