Miniconto - Morte dos
sonhos
por Rafael Belo
Todas as noites o mesmo sonho deixava sua cama encharcada. Bem
não era bem o mesmo. Era uma continuação. Mas vinha do princípio até um
capítulo totalmente novo. Morando sozinho ninguém o ouvia no isolamento de sua
casa. A verdade é não ter sido sempre assim. Bem mais verdade é dizer este ser
o sétimo capítulo. Tão real a ponto de no final de cada noite precisar de uma
hora para seu corpo voltar ao normal. Suava litros, arrepiava tudo, ficava tão ofegante
a ponto do ar faltar, seu coração doía como o começo de um enfarto e seu rosto
repuxava a partir da sobrancelha esquerda como os sinais de um AVC. Depois passava...
Passar não passava... Passados sete dias de sua chegada não
passou um dia sem tentar entrar em seu carro e partir. Porém, um hálito
paralisante o impedia junto a um odor... Sua felicidade de ter herdado de uma
mãe desconhecida aquele chalé nos confins do norte de Mato Grosso do Sul
passará logo na primeira noite. Ele nem sabia a existência de tal mãe e não havia
muito a esperar de alguém que se desfez dele. Agora ele sabia. O chalé estava
intacto com móveis valiosíssimos, mas mais estranhos eram os milhares de
apanhadores de sonhos de todas as épocas e modelos. Tudo era decorado com os
apanhadores menos o único quarto. No quarto havia uma Hydra.
Ela era a protagonista dos seus sonhos. Todo dia começava com
um fim de noite onde ele cortava uma cabeça da Hydra. Agora ela tinha sete...
Tirando a primeira noite onde ele correu, nas demais se sentiu um herói. Mas esta
noite ele temeu dormir e permaneceu acordado, mas passada 164 horas ou quase
sete dias... Ele alucinava com a Hydra e o chalé estava totalmente destruído. Portas
e janelas não abriam. Era uma prisão. Mas a apenas quatro horas do sétimo dia
insone total ele apagou. Imediatamente um dragão com cabeças de serpente
começou a sibilar ao seu redor.
Todas as cabeças foram cortadas. Mas ele não sabia toda a
história mitológica. Ao virar às costas para seus sonhos, ao ignorar os
apanhadores de sonhos, ao não procurar significado de fins foi direto a cama
feita a esperar... Sete cabeças se transformaram em 14 e seu sonho o ignorava
então, mas não virou às costas para ele. Avançou e em pânico ele se entregou ao
sono equilibrado do luto teatral de sua própria cabeça perdida.
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