Miniconto - Arrastando limitações
Rafael
Belo
Estavam
todos conectados quando começou a oscilar a energia e tudo escureceu. Se não
fosse impossível até as estrelas e as luas haviam sido engolidas pela
escuridão. Não se enxergava nada. Nada se ouvia. Portanto, não era de se
desesperar quando também estavam apagados os celulares e todo dispositivo móvel
já inventado. Como acessar então as redes digitais? Era óbvia a necessidade de
esperar a situação voltar ao normal. Afinal a energia voltaria a qualquer
momento, certo? Mas, não voltou e já no segundo dia fazia suas primeiras
vítimas do mal dos séculos e séculos. O Distúrbio da Dependência Virtual deu
seus primeiro gritos em um casal de irmãos que de olhos vidrados e boca seca
digitavam no ar.
Não pode ser. Não pode ser não pode
ser... Não pode ser! Vou tentar mais uma vez acessar meu face... O quê vou
fazer agora?! Cadê minhas amigas? Como vou ligar para elas, curtir suas
ações...?Elas moram... Bem... Deixa pra lá... Mas como vou dizer o que estou
pensando agora? Como vou dormir sem... E as fotos... Ah, tenho tantas para tirar,
para postar, para para para... pára tudo! Vou ter que olhar para frente, agora...
Quem são essas pessoas...? Ah, acho que são meus vizinhos. Nossa quanta gente
nas ruas. Acho que meus olhos se acostumaram a escuridão, enfim. – Irmão?Você
está babando? E este olho vermelho? Irmão irmão irmão... Respira ou pisca pelo
menos... Será que eu também fiquei assim?!
Esta
era a primeira vez, desde a última troca de smartphones, que era possível ver
casais terem conversas que significassem algo realmente, não fossem pedidos,
desculpas... Era a primeira vez desde a última batida na traseira de um carro
parado, que as cabeças estavam erguidas e não só de motoristas como de pedestres
também. Engraçado foi ver as pessoas se surpreenderem com as normalidades ao
redor. Parecia que há um tempo incontável não viam nada, não ouviam nada nem
opinivam fora das tais redes digitais.
A síndrome dos dedos ágeis seguia com seus surtos como um batuque de sons curtos sincronizados e como um enxame de escolas de samba em miniaturas povoaram cada silêncio perplexo, cada letargia claudicante... Sem energia o mundo se desapequenava, voltava a ser vasto e desconhecido e os novos desbravadores já não eram mais novos nem desbravadores, nem interesse sabiam que tinham... Voltavam ao ovo. Voltavam para dentro de seus frágeis particulares...
A síndrome dos dedos ágeis seguia com seus surtos como um batuque de sons curtos sincronizados e como um enxame de escolas de samba em miniaturas povoaram cada silêncio perplexo, cada letargia claudicante... Sem energia o mundo se desapequenava, voltava a ser vasto e desconhecido e os novos desbravadores já não eram mais novos nem desbravadores, nem interesse sabiam que tinham... Voltavam ao ovo. Voltavam para dentro de seus frágeis particulares...
Me sinto aquele clichê de autistas
de hollywood. Balançante mudo e minha irmã achando que vou me comunicar sem um
dipositivo móvel sequer, meu celular não funciona, meu tablet não funciona, eu
não funciono e o mundo não existe... #prontofalei. Ainda bem que encontrei
estas superfícies lisas para passar o dedo, clicar, é um vício meu deus. Como
viver sem energia, sem wi-fi, sem face, sem twitter, sem tumblr, ah meu
instagram querido voltaaa... E eu que achei que os zumbis fossem resultado da
televisão...
Realmente
quem viesse de outro tempo e analizasse a multidão se arrastando em pé,
trombando uns nos outros e em qualquer coisa fixa poderiam voltar a sua realidade
e confirmar o Apocalise Z, ou qualquer outro fim do mundo (pelo menos momentaneamente) com cérebros devorados
por zumbis.
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