sexta-feira, julho 20, 2018

Impagável (miniconto)





por Rafael Belo
Quando olhei ao redor me senti em algum filme ruim. Todas nós estávamos sofrendo o mesmo bizarro clichê. Era a mesmíssima cena. A intimidação e eu tive que gritar. Éramos um grupo de 50 mulheres de todas as idades. Todas com idade para responderem por si mesmas. Todas já haviam sofrido assédio antes e sofreriam depois… Todas ainda sofreremos. Mas, nunca em silêncio. Não mais!

Andávamos juntas para nunca mais nenhuma de nós passar pela intimidação, pelo assédio, pela agressão, esta violência diária que nos assola… Somos o “Ninguém é Obrigada". Chega de violência. Estamos em sintonia. Esta sincronicidade mostra nossa unidade. Eu me via em cada uma delas e elas viam o mesmo. Éramos perspectivas diferentes de um sentimento de indignação, imposição e a antiga ordem da sofreguidão…

Elis Regina nos representa! Tão sofrida, tão talentosa e até hoje inigualável. Clarice também que reconheceu a visceral Carolina Maria de Jesus… Que Mulher!! Nesta escravidão moderna o amor vira carne e a sociedade pensa em nos mastigar em um ruminar dominante nos comprando com estética, status, promessas… Sai dessa! Não há fragilidade por aqui! Eu só me acho agora e não me perco mais!

Mas não sou só! Jamais! Somos um explorado campo de girassóis sem fim... Largue meu braço sociedade Neanderthal! Solte minha língua, não controle meus passos, não me obrigue a me multiplicar mais, quando descubro minha força não há caverna que me prenda, que me esconda, não há excesso nosso que chegue diante toda esta dívida impagável à nossa igualdade, aos nossos direitos, aos nossos valores, ao respeito pelo ser humano que somos. Mulheres, só vamos!  Nada de assistir nem ser coadjuvante de filme ruim, porque sempre fomos protagonistas!

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