segunda-feira, julho 23, 2018

Pagar para ver






Por Rafael Belo

Reunir a cultura em um mesmo espaço é algo de elevar a alma quando a reação do público é de surpresa e imersão. Mas, também é um “desego”. É se despir do orgulho e mesclar a individualidade ao coletivo, a doação de si e da própria arte. Não há espaço para a solidão. Artista não anda sozinho. Todas as áreas das artes precisam se juntar para que o respeito a todo artista seja restaurado. Artistas locais, artistas familiares, artistas sem a projeção nacional tanto reverenciada por toda parte.

Existe a campanha valorize o comércio local, compre do pequeno. Que tal promovermos: “valorize o artista local, incentive esta profissão. Pague para ver”. Nós precisamos desta cultura. A arte salva vida, mostra aquilo que no cotidiano não vemos, alimenta nossa alma... Afinal, de que vale se matar de trabalhar e não aproveitar, nutrir o corpo e deixar morrer a alma? A arte pode até ser hobby para algumas pessoas, mas só o é por falta de valorização, pela depredação diária, pelo vandalismo constante a quem tenta sobreviver de música, dança, artes plásticas, teatro, literatura e tantas outras áreas artísticas... É esgotado pelo mercado que se aproveita da situação do artista.

Quem nunca ouviu ou disse alguma vez que tal show é caro, que tal apresentação é cara, que tal artista está ganhando muito, não sabe ou soube o que diz/disse. É tanta negociação, despesas para quitar e o problema da maioria dos brasileiros que mal sobra para investir no próprio crescimento e todo convite para apresentar a arte é aceito consumindo de maneira ingrata e violenta o profissional. Cultura não é gratuita. O artista de profissão vive disso e como viver se não querem pagar, só consumir e abusar do dom desse ser humano?

Alguém precisa pagar. Artista não vive de ego, afagos, promessas, elogios, visibilidade... Ele passa horas sujeito a dezenas, centenas e, se tiver muito treino, suor e sorte, milhares de pessoas o cobrando, o avaliando, o julgando de uma forma até desonesta. Quem aqui não tem uma música que marca, marcou? Um filme? Uma fotografia? Ou gostaria de aprender a dançar? Isto é fruto de muito gasto, treino, tempo, insônia de um ser humano com o dom da arte. Claro que gostamos do consagrado, dos monstros das artes por aí, mas que tal valorizar aquele amigo, aquele artista do seu bairro, da sua cidade, do seu Estado e não só ir aos shows e apresentações, mas pagar para ver literalmente?

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