segunda-feira, setembro 10, 2018

Está em nós




V


por Rafael Belo

É normal sentir saudade. É comum sentir dor. Ambos também nos prendem e presos definhamos em uma solitária depois do último escândalo que fizemos reclamando de onde nos colocamos. Isso! Nos colocamos. Ninguém é responsável pelos nossos passos e por onde eles nos levaram. Esta dupla sertaneja, dor e saudade, ainda está na creche cantando as escolhas tão identificadas por nós. Eu sinto saudade do meu pai falecido, das minhas irmãs e meus sobrinhos morando longe, dos meus amigos, mas não é dor. São momentos que eu quero compartilhar com eles. Eu sorrio quando penso neles e sinto toda a energia que compartilhamos. É um impulso bem bonito.

Eu não concordo com a saudade doer. A saudade só dói quando aquelas boas coisas do passado são o nosso melhor. Quando seguimos em frente leves, sem amarras, sem pendências não há passado porque carregamos com a gente todo o bom e bem que sempre esteve aqui presente, torcendo por nós de alguma maneira. Nós vivemos sem o outro, nós vivemos sós. Esqueça isso de não viver sem alguém, a não ser que este alguém seja você mesmo. Se vamos no caminho da dependência não temos como compartilhar nada e tudo vira dor e saudade.

Saudade é um lugar tão bonito dentro do meu peito. Eu olho e vejo quantas histórias me contam, me constroem e quantas ainda estou escrevendo para este espaço sem fim. Aprendi a tratar a todos como família. Venho com esta minha alma antiga de tempos incontáveis tentando me unir em liberdade com as pessoas e não sinto dor. Sinto sorrisos saindo em Amor... Mas se pudesse recomendar o choro, recomendaria. Mas, só se você tiver preparado para o alívio, para pensar no próprio crescimento. Não há tempo para ficar lamentando o que não pode ser desfeito, o que feriu e o que ficou para trás. É daqui para frente o caminho das possibilidades, de se refazer, de crescer.

Sinto –me assim e não quero esconder as lágrimas possíveis de representar uma dor que vai indo quando percebida. E a cada gota de lágrima caindo brilhando a saudade nestes dias corridos eu me sinto revigorado, preparado, olhando para o horizonte atento ao tempo. Sem pensar por um instante para no instante seguinte eu pensar o quanto cada um é capaz de mudar, de crescer, de sentir falta e “de repente” começar a criar e fazer tantas coisas que só posso encontrar maneiras para aprender a encontrar diariamente esta capacidade em mim mesmo também e eu sei que aqui ela está.

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