segunda-feira, setembro 03, 2018

Sem novidades






por Rafael Belo

Não há novidade por aí. Todas as crianças agora estão entretidas em brilhantes telas móveis, antes eram notebooks, antes eram computadores fixos, antes era a televisão... Mudamos os métodos devido aos constantes upgrades, à tecnologia nos atropelando sem sequer termos tempo de respirar e ela vai muito mais rápido, mas o interesse do mercado é vender aquilo que está muitos passos atrás do que estão fazendo no momento. Nossos filhos ainda são os mesmos e os métodos de maquiagem virtual são tão avançados com tutoriais no Youtube que as imagens são algum padrão novo de beleza irrelevante. Não temos certeza da aparência de ninguém e vociferamos por toda parte sobre o quanto não nos importamos com esta, com os padrões, ainda assim nos atraímos por eles na nossa hipocrisia diária para ter o prazer de postar nosso novo papel de trouxa por termos sido enganados exatamente da mesma forma pena incontável vez. Nós precisamos da atenção que não damos para nossos filhos.

É um ciclo vicioso. A poderosa droga inebriante levando o raciocínio para algo mais distante... Somos desviados. Os desvios infinitos nos penduram no varal do desinteresse. Fica para a conta do dia esta dívida. Estamos aqui na tal maioridade sem ter amadurecido nada, só seguimos cultivando novas sementes que nos fazem acreditar que sim, somos maduros. Somos independentes. Vivemos do nosso suor e reclamações diárias. Buscamos a riqueza, o orgulho, o glamour... Será que a satisfação faz parte realmente disso? Trabalhamos para seguir para o próximo trabalho capaz de nos dar acesso ao tal sucesso, mas basta ter coragem de ler sobre a vida das celebridades e balancear entre se sentir bem, fingir estar bem e vender a imagem de cheguei onde queria para saber que até fazer o que gosta precisa de um tempo, que há um limite onde tudo se inverte e sonho vira pesadelo. Esta é a maturidade?

Qual a relevância da maturidade, afinal? Reclamar que era tão melhor não ter responsabilidades? Seguir um sonho aleatório em busca de fama e glória? Ser exemplo? Alimentar fantasias de estar tudo bem, de estar fisicamente bem, financeiramente bem e estar com saúde mental em dia? E a paz? Onde está a paz? Parecemos estar ao mesmo tempo sentados em um trono equilibrado em um pedestal e presos em um buraco profundo na beira da praia enterrados até o pescoço com todos ao redor pensando ser uma encenação. Quando estamos em cima elevamos nossa caminhada, falamos da possibilidade de chegar, de quantos não acreditavam em nós... Quando estamos embaixo exaltamos nossas fragilidades, porém com a força da necessidade das quedas para subir de novo mesmo com a depressão, falamos das dificuldades, da vontade de desistir... Se formos seguir a história do mundo e de cada um, descobrimos tantas semelhanças...

Ao invés de tentar entender, de escutar, de ir dar mais um passo, pensamos em estratégias, na jogada seguinte, e mesmo afirmando não ligar, perguntamos o que os outros irão pensar... Somos formados na arte diária de deduzir. No final das contas não se trata do que o outro fez, mas de como isso atingiu você, o eu, o ego, a imagem... Este ó poder de uma informação. Verdadeira ou falsa, a informação sempre foi um meio para o conhecimento, para derrubar, criar intrigas, enfraquecer, manipular, a diferença é a velocidade, a instantaneidade atual. Há mais de uma década quando comecei a aprender jornalismo, estudávamos quanto uma informação não apurada podia destruir vidas para sempre mesmo se aquela inverdade fosse desfeita, recompensada, ela não volta. A imagem manchada, o nome sujo, a reputação destruída não é recuperada. Ainda a justiça brasileira retirou a validação do diploma e tudo é feito para tirar a credibilidade de veículos de comunicação, de jornalistas quando sem informação bem apurada, com técnica, nem um passo seguro é dado. Por isso, ainda hoje não há novidade por aí.

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